domingo, 27 de janeiro de 2008

DESCASCAR ARROZ NÃO É INDÚSTRIA


Descascar arroz não é indústria
José Nei Telesca Barbosa
Engº.Agrº.- Advogado - MBA Agronegócios

(Artigo publicado nas revistas: Planeta Arroz, em maio de 2002; A Granja, em dezembro de 2004; no jornal Diário da Manhã de 13.12.2004; nos sites da internet:
www.sonoticias.com.br; www.portaldoagronegocio.com.br; www.arroz.agr.br; www.agrolink.com.br)

A partir do início do ano 2000 desenvolvemos a tese que “descascar o arroz não é um processo de industrialização”, mas sim, um processo da produção e cuja responsabilidade seria ainda do produtor.
Industrializar o arroz seria fazer biscoito bolacha, chips, isto é, transformar o produto. Para facilitar a compreensão, procuramos comparar com o milho, em que, quando éramos menino, há quarenta anos atrás, o nosso pai vendia milho em espiga e, quando um vizinho comprou uma trilhadeira, ele pagava um tanto pela trilha e vendia o milho em grão. Então, pudemos correlacionar, que “vender arroz em casca é a mesma coisa que vender o milho em espiga”. É um processo atrasado, que não evoluiu ficando semelhante ao da época em que se vendia o milho em espiga.
Quanto ao leque de opções na industrialização do arroz, também precisa evoluir, visto que se come pão até de batata, mas de arroz ainda não. Com a fabricação de outros produtos à base de arroz, o produto chegaria à mesa do consumidor não só na hora do almoço como hoje chega, nas formas de arroz branco, arroz com galinha ou arroz de carreteiro. O arroz teria o seu consumo ampliado como pão, biscoitos e cereais matinais na hora do café e através dos waflers e chips nos lanches e sobremesas.
Do mesmo modo podemos ampliar o raciocínio para o caso dos produtos pecuários, como no caso de pasteurizar o leite e colocá-lo dentro do saquinho, que também não é um processo de industrialização e sim, ainda um processo da produção. A industrialização é fazer queijo, yogurte, requeijão etc. Era considerado indústria quando um pasteurizador era um enorme de um equipamento, importado da Alemanha e bastante caro. Hoje, pelo preço de um carro médio o produtor de leite pode adquirir um equipamento completo e entregar embalado no saquinho para o consumidor. Abater o boi e dividi-lo em pedaços, picanha para um lado, costela para o outro, por este novo modo de ver o agronegócio, também não é industrialização, mas sim é, fazer a linguiça, o salame etc.
Claro que cada produtor não precisa ter o processo do beneficiamento só para si, mas dependendo do seu porte, ele pode ou adquirir os equipamentos em grupos, como nas associações e cooperativas ou via pagamento da prestação de serviços para terceiros.
No final do ano 2000, tivemos conhecimento de um acórdão do Superior Tribunal de Justiça, de uma lide entre a receita federal e produtores em que o fisco entendia que deveria considerar pessoa jurídica o produtor que beneficiasse arroz e que estabeleceu uma jurisprudência sobre o assunto, que estamos tratando. No acórdão referido o STJ teve o seguinte entendimento: “A operação, feita pelo próprio produtor, de descasque do arroz e separação dos subprodutos, tais como farelo, canjica e canjicão, não representa processo industrial. Com isso, o produtor (pessoa física) não se transforma em pessoa jurídica (empresa individual)”.
Agindo da forma que estamos preconizando, no caso do arroz, tem-se um estudo que o fato do produtor deixar de pagar um corretor para vender o arroz para o engenho, mais o lucro do engenho, obter valor pelos subprodutos e mais outro corretor para vender o produto para o supermercado, terá um acréscimo de 30% de renda no seu negócio. Poderá pagar de 6 a 10% pela prestação do serviço de beneficiamento, baixar 10% para o consumidor e ter um lucro de 10% na operação, o que poderá ser o percentual que está lhe faltando para viabilizar o seu negócio orizícola, nestes tempos de margens apertadas.
Até há pouco, o tema beneficiamento da produção não era estudado pelos técnicos, produtores etc., era considerado uma caixa preta. Todos sabem na ponta da língua o custo de produção para implantar a lavoura. Quantos sacos de adubo, de semente e de herbicida, quantas horas máquina para lavrar, discar e colher, porém ninguém estuda o quanto custa para beneficiar o produto, pagar os tributos e faze-lo chegar ao mercado consumidor.
O objetivo deste texto é propor uma mudança de atitude na cadeia de produção, mostrando que os processos mudaram, foram simplificados, devendo então, também serem mudados os conceitos desta fase do agronegócio, de modo que todos os agentes da produção dêem um passo à frente: - o produtor beneficiando a produção e fazendo-a chegar ao consumidor final e a indústria ampliando a possibilidade de transformação e de consumo dos produtos agrícolas, oferecendo outros atrativos a estes consumidores.

UM PASSO À FRENTE NA COMERCIALIZAÇÃO DO ARROZ

UM PASSO À FRENTE NA COMERCIALIZAÇÃO DO ARROZ

José Nei Telesca Barbosa
Engº Agrº, Advogado, MBA em Agronegócios

(Artigo publicado no Jornal Gazeta Mercantil, Caderno RS, em 13.11.2000)

À cerca de dois anos vem reunindo-se os produtores de arroz ligados a Sala Sul Agronegócios do Banco do Brasil de Pelotas para discutir a problemática da lavoura orizícola.
Como um Norte para estudar os problemas estabeleceu-se um consenso sobre a necessidade de aumentar a rentabilidade e reduzir os custos de produção dentro do quadro difícil, imposto pelas importações dos países do MERCOSUL, pelo avanço tecnológico obtido com a cultura no Brasil Central e pelos elevados custos internos da lavoura, aí incluídos o arrendamento, monocultura, alto valor imobilizado e dificuldades na comercialização.
Quanto ao aspecto da comercialização levantou-se inicialmente a hipótese “da entrega do arroz a depósito”, em que o engenho por ter recebido grande quantidade de arroz dos produtores para a realização da secagem e armazenagem, sai do mercado de compra, obtendo um capital de giro sem custos, permanecendo comprando apenas daqueles que precisam urgentemente de fazer algum dinheiro.
Dentro dessa premissa, passou-se a estudar saídas como a armazenagem própria ou terceirizada, chegando-se por que não a uma assertiva que pareceu factível – a venda do arroz beneficiado.
Esta nova situação impõe ao produtor um novo paradigma, ou seja: ao invés de vender arroz em casca para o engenho, passar a vender o arroz beneficiado para o supermercado, dando um passo à frente na cadeia, mediante o pagamento desse serviço a um beneficiador. Isto faria com que o engenho retornasse a ganhar no beneficiamento e não na compra e venda do produto como se dá hoje.
Para ilustrar melhor esta hipótese, foi traçado um paralelo com o que ocorria com o milho no passado, em que o produtor vendia milho em espigas e que passou a vender em grãos, mediante o pagamento de trilhadeira de terceiros. Assim, procurou-se comparar que a venda do arroz em casca é semelhante ao que se dava com a venda do milho em espigas. Evoluindo mais no raciocínio, poderá dizer-se que o beneficiamento seria ainda uma fase da produção e não da industrialização, haja vista que não exige tanta sofisticação na operação, passando a indústria a dedicar-se a produzir comidas pré-prontas, biscoitos, chips etc., à base de arroz.
O primeiro passo para comercializar o arroz beneficiado exigiu o estudo dos custos do beneficiamento e dos impostos a serem pagos até o produto chegar ao varejista, que até então, significava uma caixa-preta para os produtores. Este estudo chegou a conclusão que, aos preços de hoje, com o pagamento de cerca de 8% ao beneficiador (R$0,80/sc mais o farelo), ainda sobra outros 10% ao produtor (grãos inteiros, canjicão e quirela), permanecendo competitivo o seu preço final.
A venda do arroz beneficiado diretamente pelo produtor, exige a existência de um prestador de serviço com qualidade e a organização dos produtores para se ter os atributos exigidos pelo mercado - qualidade, quantidade e regularidade de oferta e, por fim, um sistema que aproxime o supermercadista do produtor.
O lançamento do Balcão Eletrônico pelo Banco do Brasil S/A, através do site www. agronegócios-e, proporcionou a aproximação que faltava entre a ponta da produção e a ponta do consumo, garantindo a realização dos negócios com a segurança do recebimento do pagamento pelo produtor e a da qualidade do produto adquirido pelo comprador.
Este passo à frente da cadeia da produção poderá se dar com outros produtos como o feijão, pêssego, milho etc. No entanto, para que este passo à frente seja dado, exige a tomada de uma nova atitude pelos produtores, não bastando achar boa a idéia aqui exposta, pois como técnico, a nossa parte já foi feita dando a idéia e os caminhos a serem seguidos - devem simplesmente, colocá-la em prática.

domingo, 6 de janeiro de 2008

A IMOBILIZAÇÃO DE CAPITAL COMO FATOR DE INSALUBRIDADE FINANCEIRA DAS EMPRESAS AGROPECUÁRIAS DA ZONA SUL DO RS

A IMOBILIZAÇÃODE CAPITAL COMO FATOR DE INSALUBRIDADE FINANCEIRA DAS EMPRESAS AGROPECUÁRIAS DA ZONA SUL DO RS

Artigo não publicado, escrito em 1999, como tarefa da disciplina de Análise Financeira do curso MBA Agronegócios da UFRGS/UFPel.

Ao longo do tempo os empresários da atividade agropecuária da Zona Sul do Rio Grande do Sul, carregam consigo a visão patrimonialista, ou seja, a tendência de imobilizar o lucro auferido no decorrer do exercício financeiro, ou até antes mesmo da sua realização, em investimentos fixos. Estes investimentos se dão, em sua maioria, na aquisição de bens imóveis, como terras, apartamentos, armazéns, ou bens móveis, como carros, camionetes, máquinas agrícolas etc.
O crescimento desmedido do ativo permanente das empresas resulta, em conseqüência, na diminuição do ativo circulante e, também, muitas vezes, no aumento significativo do passivo circulante, pois os recursos para as imobilizações, são oriundos do caixa ou do desvio de finalidade do empréstimo de capital de giro, proveniente do custeio agrícola, exigível em curto prazo.
A análise financeira deste tipo de gestão empresarial permite verificar a ocorrência da constante dependência de capital externo oneroso, suprido, muitas vezes, às taxas mais altas do mercado financeiro, para o financiamento dos déficits de caixa, como o dos cheques especiais ou da aquisição de insumos com prazo de pagamento por ocasião da colheita. Este último sistema de financiamento, recentemente foi atingido duramente pela variação cambial, que embora já fosse previsível, não houve forma do empresário com este tipo de visão, obter outra fonte de recursos. Tem-se, ainda, que a imobilização nestes investimentos fixos, gera a necessidade de mais capital de giro para custear as novas despesas decorrentes dos próprios bens que estão sendo adquiridos. Resumindo, há o aumento da necessidade de capital de giro para custear as despesas com as atividades já existentes e para as novas áreas ou bens que estão sendo incorporados ao processo produtivo.
A mera aplicação em bens imóveis também acarretará a diminuição de recursos para o investimento em novas tecnologias, que irão, com o passar do tempo, provocar a obsolescência dos sistemas de produção.
Esta visão patrimonialista, até há pouco, era corroborada por analistas financeiros, que enxergavam a solidez econômica das empresas pelo tamanho do seu ativo permanente, confrontando frontalmente, com o que se aprende, modernamente, qual seja, a saúde financeira da empresa está na razão direta do seu CAIXA e do seu LUCRO.
O Governo Federal instituiu recentemente, um programa para revitalizar o setor agropecuário, o PESA – Programa Especial de Saneamento de Ativos, que consiste, basicamente, no refinanciamento do passivo circulante das empresas agropecuárias, mediante a compra de um título no valor de 10% do saldo devedor, pago à vista, mais encargos financeiros de 8% a.a., calculado sobre o saldo devedor corrigido pelo IGPM, com um prazo de 20 anos. Para a maioria das empresas, esta proposta de solução, ainda assim, não deverá resolver o problema, podendo-se dizer mais, mantendo-se a visão imobilizadora de capital referida “ab initio” do texto, mesmo que fosse perdoada a dívida não resultaria em vida longa para estas empresas. Isto porque, terá que ser rompido tal conceito, partindo o empresário para o enxugamento do seu ativo permanente, de modo a colocá-lo em giro para produzir CAIXA. No entanto, a quebra deste paradigma, de forte tradição cultural, ainda está longe, pois há na região, a visão que, “quem está adquirindo patrimônio, está bem, e quem está vendendo, está mal”.
Além da quebra do paradigma, há a necessidade de profissionalização da atividade, através da contratação de bons gestores financeiros, gestores de produção e do ingresso de sócios capitalizados. Este modelo, ora preconizado, poderá ser encontrado mediante a fusão de empresas agropecuárias já existentes ou da parceria com segmentos da agroindústria ou das próprias redes atacadistas ou de distribuição de alimentos.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

E CAIU O RESTAURANTE...

E CAIU O RESTAURANTE ...

Artigo não publicado na imprensa, no período do período 1994-2000, abordado no
tema de abertura do blog como “a época da Ditadura da Mídia”.


Não faz muito, ocorreu em Pelotas, o desabamento de um prédio onde funcionava um conhecido restaurante, que só não se transformou em uma enorme tragédia, por não ser hora de funcionamento.
O fato nos proporcionou a seguinte reflexão: - que, em nossa região, a maioria dos habitantes não pinta, não reforma, tampouco constrói novos prédios, só vão escorando, quando vê, estes caem.
Estes prédios escuros, mofados e quase caindo, provocam nas pessoas, desânimo e falta de entusiasmo, e em nada contribuem para movimentar a economia local. Não ganha com isto, o pintor, o pedreiro, o comerciário e nem o dono da loja de material de construção. Existem prédios incendiados, em pleno centro da cidade, há mais de vinte anos, que continuam somente no esqueleto carbonizado. Outras casas e sobrados velhos, tem suas portas e janelas obturadas com tijolos e lá permanecem à espera de valorização. Fechados também, ficam apartamentos no aguardo de alguém que pague aquilo que eles não valem, eis que um apartamento aqui, vale entre 1,5 a 2 vezes mais do que em Porto Alegre ou em qualquer outra cidade do Estado.
Todos sabemos, aqui o dinheiro só serve para especulação em aplicações financeiras, imobilizações improdutivas (terras, casas velhas e terrenos baldios), ou no comércio especulativo (imobiliárias, estacionamentos, revendas de automóveis usados etc.).
Temos questionado porque nossos poucos empreendedores não reaplicam os lucros obtidos na modernização dos seus próprios negócios. Vamos tomar como exemplo, o caso do profissional liberal que vai para o interior e começa a ganhar dinheiro no seu consultório ou escritório. Ao invés de reaplicar os lucros obtidos na modernização de suas clínicas ou em aquisições de aparelhagens mais sofisticadas (eletrocardiógrafos, tomógrafos computadorizados, fax, computadores etc.). Não! Compram terras e viram fazendeiros. Temos como exemplo, o acidente sofrido por um bancário de Pinheiro Machado, que resultou em uma luxação no braço, precisando fazer aplicações com raio infravermelho, tinha que se deslocar duas vezes por semana a Pelotas para realizar o tratamento, pois tal aparelho não existia em sua cidade, isto que o equipamento deve custar pouco mais de trezentos reais.
Do mesmo modo, o lucro destas atividades profissionais poderia ser investido na realização de viagens de estudo, seja em São Paulo, Estados Unidos ou na Europa. No entanto, isto também não ocorre, geralmente os fins-de-semana são dedicados a pescarias ou caçadas de tatu em Piratini.
Por fim, são tantos os exemplos, em todos os campos de negócios, que entendemos estar na hora de fazermos uma profunda reflexão como forma de sairmos do atraso em que nos encontramos, quando comparados com outras regiões. E se observarmos com atenção, sem o intuito de fazermos mau prenúncio, outros tantos prédios estão a ruir, como ocorreu com o restaurante.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

"QUEM VAI COLOCAR O GUISO NO GATO"

“QUEM VAI COLOCAR O GUISO NO GATO”

Texto escrito no ano de 1994 e não publicado, em face ao forte estímulo induzido ao PDV da época.


No complexo em que se movimenta a lavoura arrozeira existem diferentes interesses, quais sejam os dos produtores, dos proprietários das terras, dos políticos, dos agentes financeiros, dos engenhos, dos vendedores de máquinas e insumos agrícolas e dos trabalhadores rurais.
No entanto, verifica-se que todos estão querendo iludir a opinião pública e a si próprios, quando apontam que o maior problema é o endividamento do setor e quem tem que resolver o problema é o governo. Embora se saiba que, hoje, quem menos ganha é o produtor e o trabalhador rural.
Já é consenso no “agribusiness” orizícola, que dentre os principais problemas estão a monocultura, o alto custo do arrendamento e o elevado valor imobilizado em máquinas, silos e secadores. Porém, mesmo que sejam sabedores das reais dificuldades da lavoura orizícola, ninguém quer dizer ao orizicultor com receio de lhe provocar uma manifestação de desagrado: - o político não lhe diz ou por outra, incentiva manifestações como as de Arroio Grande, São Borja e mais recentemente em Esteio, com receio de perder votos; os técnicos não lhes dizem com receio de perderem os empregos ou as comissões de assistência técnica; o gerente do banco lhe dá mais dinheiro por que não quer perder o cliente; o proprietário das terras não reduz as taxas do arrendamento por não querer sair de sua cômoda e lucrativa posição; o vendedor empurra-lhe mais uma máquina por não querer perder o negócio.
Isto até está parecendo àquela história em que o gato estava dizimando a rataria do galpão e os ratos resolveram reunir o conselho, para encontrar uma solução para o terrível problema. Depois de acirrados debates, uma idéia logrou aprovação e comemoração geral: - Vamos colocar um guizo no pescoço do gato, pois que, quando ele se movimentar no seu canto, de pronto seremos alertados e ele não pegará ninguém. Mais tarde, após retornar a ordem na reunião, um rato mais sensato, perguntou: E a quem caberá a tarefa ?
Como na história, os riscos da lavoura de arroz, bem como as soluções de seus problemas deverão ser distribuídas entre todos que participam deste complexo.
Quem dirá ao setor orizícola que soluções milagrosas como a volta dos subsídios ou perdão de dívidas, por parte de um governo que tantos outros problemas tem a resolver, dificilmente irá ocorrer ? Ou será que o produtor é que irá se dar conta de seus reais problemas ?
Portanto, vamos todos, “guizos-à-obra”!

sábado, 10 de novembro de 2007

O TEMPO CERTO PARA A MUDANÇA

O TEMPO CERTO PARA A MUDANÇA

Artigo publicado no Informativo Rural Sul Agronegócios, no dia 20.04.1999
e assinado como aluno do curso MBA Agronegócios.

Toda atividade ou negócio necessita de correção no seu rumo ao longo do tempo. Tais ajustes podem ser influenciados por fatores internos ou externos (planos econômicos, surgimento de novas técnicas de produção, troca de comando na empresa, obsolescência de máquinas ou equipamentos etc.).
Qualquer uma destas situações obriga a tomada de uma decisão com maior ou menor rapidez, sob pena de ter-se a inviabilização econômica do negócio. Esta decisão tem um tempo certo para ser tomada ou “timing”, sendo que algumas devem ser extremamente rápidas ou até mesmo, antecipando-se à vista da iminência de ocorrer um fenômeno climático ou de uma provável medida econômica.
Imaginemos a situação de um empresário que produzia ou comercializava máquinas de escrever frente à chegada dos sistemas informatizados. Ou a situação daqueles que dependiam dos produtos importados frente a recente desvalorização cambial que já se vislumbrava.
Na agropecuária também não é diferente. Muitos são os fatores que passam a exigir do empresário, mudanças ou ajustes no seu agronegócio. Vejamos alguns exemplos: o surgimento dos métodos de cultivo de plantio direto, pré-germinado e de rotação de culturas do arroz com o milho, soja ou sorgo; a necessidade de redução dos custos dos fatores terra e água para os arrendatários; a introdução da fruticultura ou do florestamento nos campos altos; a parceria nos sistemas de secagem, armazenagem ou da colheita da produção. A modernização dos métodos de produção pecuária como o confinamento ou semi-confinamento; técnicas de reprodução animal; o recebimento do gado em pastagens por participação no ganho de peso; a visão da não imobilização do capital em investimentos fixos. Na comercialização da produção, também novos métodos como o Leilão Eletrônico; a CPR; Mercado Futuro e de Opções; e, a integração da produção com a indústria etc. Assim, como se vê, o agronegócio também possui uma dinâmica empresarial, que poderá ser maior ou menor, dependendo da visão do empresário agrícola, e que poderá ser influenciada pela sua capacidade empreendedora, visão de futuro, adaptação às mudanças e, por fim, o que chamamos o tempo certo para a tomada de decisão da mudança ou “timing".

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

"ME ENGANA QUE EU GOSTO"



“ME ENGANA QUE EU GOSTO”


Texto publicado no jornal DIÁRIO DA MANHÃ, de Pelotas-RS, em 10.06.1994, sob a chancela de Jone Tebar. tendo como fato auspicioso que, em 18 de outubro de 2006, a revista “VEJA” publicou em suas Páginas Amarelas, uma entrevista com o filósofo americano David Livingstone Smith, com o título “Engana que eu gosto”, com uma abordagem semelhante, confirmando a visão correta do articulista deste blog e abordada há mais de 10 anos antes.


Tem nos impressionado o poder de indução que a mídia, especialmente a eletrônica, vem provocando sobre o comportamento da população. Atualmente, como que obedecendo a uma ordem emanada da tela da TV, as pessoas consomem, ou agem, na razão direta do que as técnicas do marketing ou da psicologia de massas lhes determinam.
Senão, vejamos: - O locutor do telejornal da noite informa que vai ter um aumento de 20% no preço da gasolina à meia-noite. Muitos, como que autômatos, saem da frente da televisão, já de banho tomado e de pijamas e vão para longas filas dos postos de gasolina. Computando-se a distância percorrida até o posto e o risco de uma batida no liga-desliga do automóvel, em nada será recompensada a pretensa economia de meia-dúzia de vinténs que poderá haver.
No entanto, mesmo assim aqueles que não puderam ir, por uma razão ou por outra, sentir-se-ão os mais infelizes entre os mortais. Da mesma forma, isto se verifica com relação ao anúncio da promoção de cervejas em determinado supermercado, pois que chegam a acorrer pessoas de cidades vizinhas, com poucos vasilhames no porta-malas de seus veículos, porém convictas de que estão fazendo um grande negócio.
Os bingos eletrônicos e os sistemas de apostas pela televisão, acabaram transformando os balcões dos correios em sucursais destas organizações. Lá, formam-se intermináveis filas de pessoas humildes a tagarelar sobre as virtudes de um ou outro carnê e entregando-os nos guichês, como que estivessem cumprindo uma ardorosa missão.
A distribuição de prêmios nos anúncios da TV, em troca do tradicional “compre isto ou beba aquilo”, além do surpreendente aumento nas vendas, provoca uma verdadeira enxurrada de cartas a tais anunciantes, que já se contam por toneladas. Alguns anúncios podem ser considerados como uma verdadeira apelação, como o daquele comercial que diz assim: - Você ainda não tem a sua casa própria? Agora você vai ter! É só mandar uns rótulos de tal produto aqui para o programa, respondendo com quantas letras se escreve o seu nome, que você vai ganhar a sua casa própria! Tivemos a oportunidade de conhecer uma senhora, que comprava em caixas o produto que prometia a tão sonhada casa própria, ficava com os seus rótulos e distribuía o conteúdo entre as amigas, somente para poder concorrer “com mais chances” no sorteio.
Mas as técnicas do marketing não se dão somente pela televisão. Recentemente, uma corrente milionária empolgou um grande número de adeptos, desta vez das classes média e alta. Através de suas técnicas fanatizantes, fizeram com que seus seguidores acreditassem que vendendo detergente líquido concentrado e outras quinquilharias importadas, num trabalho de apenas duas horas por dia, estariam transformados em milionários ao cabo de um ano. E assim são os jogos de quadra, candidatos presidenciais, esportes automobilísticos, aplicações financeiras, músicos sertanejos, enfim, tudo é enlatado e vendido a um consumidor ávido e submisso a verdadeiros mercadores de ilusões. E ai de quem tentar alertá-los para que saiam do mundo da fantasia em que vivem e encarem a realidade de frente. No mínimo serão chamados de loucos, ultrapassados ou fora-de-moda.
Vejam, atualmente, os anúncios e reportagens sobre a Copa do Mundo de Futebol, pelo que se pode observar o Brasil nem precisará jogar, poderá até trazer o seu time de volta, eis que já o consideram tetra-campeão.
Quando o nosso povo se dará conta, que poderosos grupos de comunicação estão explorando a sua boa-fé, e que pouco estão se importando com o que irá ocorrer com suas frustrações, que mais tarde outros encontrarão novas formas de explorá-las.
Temos certeza de que preconizando realidades, ou formas concretas de solução para os problemas do dia-a-dia, não encontraremos quem nos ouça. Porém, se sairmos apregoando milagres ou vendendo cadeiras no Céu, encantaremos multidões.
Vamos ficar alertas, de modo que, em breve, possamos escrever um novo texto, só que desta vez com o título na forma que consideramos correta: “NÃO ME ENGANA QUE EU NÃO GOSTO”.