terça-feira, 13 de novembro de 2007

"QUEM VAI COLOCAR O GUISO NO GATO"

“QUEM VAI COLOCAR O GUISO NO GATO”

Texto escrito no ano de 1994 e não publicado, em face ao forte estímulo induzido ao PDV da época.


No complexo em que se movimenta a lavoura arrozeira existem diferentes interesses, quais sejam os dos produtores, dos proprietários das terras, dos políticos, dos agentes financeiros, dos engenhos, dos vendedores de máquinas e insumos agrícolas e dos trabalhadores rurais.
No entanto, verifica-se que todos estão querendo iludir a opinião pública e a si próprios, quando apontam que o maior problema é o endividamento do setor e quem tem que resolver o problema é o governo. Embora se saiba que, hoje, quem menos ganha é o produtor e o trabalhador rural.
Já é consenso no “agribusiness” orizícola, que dentre os principais problemas estão a monocultura, o alto custo do arrendamento e o elevado valor imobilizado em máquinas, silos e secadores. Porém, mesmo que sejam sabedores das reais dificuldades da lavoura orizícola, ninguém quer dizer ao orizicultor com receio de lhe provocar uma manifestação de desagrado: - o político não lhe diz ou por outra, incentiva manifestações como as de Arroio Grande, São Borja e mais recentemente em Esteio, com receio de perder votos; os técnicos não lhes dizem com receio de perderem os empregos ou as comissões de assistência técnica; o gerente do banco lhe dá mais dinheiro por que não quer perder o cliente; o proprietário das terras não reduz as taxas do arrendamento por não querer sair de sua cômoda e lucrativa posição; o vendedor empurra-lhe mais uma máquina por não querer perder o negócio.
Isto até está parecendo àquela história em que o gato estava dizimando a rataria do galpão e os ratos resolveram reunir o conselho, para encontrar uma solução para o terrível problema. Depois de acirrados debates, uma idéia logrou aprovação e comemoração geral: - Vamos colocar um guizo no pescoço do gato, pois que, quando ele se movimentar no seu canto, de pronto seremos alertados e ele não pegará ninguém. Mais tarde, após retornar a ordem na reunião, um rato mais sensato, perguntou: E a quem caberá a tarefa ?
Como na história, os riscos da lavoura de arroz, bem como as soluções de seus problemas deverão ser distribuídas entre todos que participam deste complexo.
Quem dirá ao setor orizícola que soluções milagrosas como a volta dos subsídios ou perdão de dívidas, por parte de um governo que tantos outros problemas tem a resolver, dificilmente irá ocorrer ? Ou será que o produtor é que irá se dar conta de seus reais problemas ?
Portanto, vamos todos, “guizos-à-obra”!

sábado, 10 de novembro de 2007

O TEMPO CERTO PARA A MUDANÇA

O TEMPO CERTO PARA A MUDANÇA

Artigo publicado no Informativo Rural Sul Agronegócios, no dia 20.04.1999
e assinado como aluno do curso MBA Agronegócios.

Toda atividade ou negócio necessita de correção no seu rumo ao longo do tempo. Tais ajustes podem ser influenciados por fatores internos ou externos (planos econômicos, surgimento de novas técnicas de produção, troca de comando na empresa, obsolescência de máquinas ou equipamentos etc.).
Qualquer uma destas situações obriga a tomada de uma decisão com maior ou menor rapidez, sob pena de ter-se a inviabilização econômica do negócio. Esta decisão tem um tempo certo para ser tomada ou “timing”, sendo que algumas devem ser extremamente rápidas ou até mesmo, antecipando-se à vista da iminência de ocorrer um fenômeno climático ou de uma provável medida econômica.
Imaginemos a situação de um empresário que produzia ou comercializava máquinas de escrever frente à chegada dos sistemas informatizados. Ou a situação daqueles que dependiam dos produtos importados frente a recente desvalorização cambial que já se vislumbrava.
Na agropecuária também não é diferente. Muitos são os fatores que passam a exigir do empresário, mudanças ou ajustes no seu agronegócio. Vejamos alguns exemplos: o surgimento dos métodos de cultivo de plantio direto, pré-germinado e de rotação de culturas do arroz com o milho, soja ou sorgo; a necessidade de redução dos custos dos fatores terra e água para os arrendatários; a introdução da fruticultura ou do florestamento nos campos altos; a parceria nos sistemas de secagem, armazenagem ou da colheita da produção. A modernização dos métodos de produção pecuária como o confinamento ou semi-confinamento; técnicas de reprodução animal; o recebimento do gado em pastagens por participação no ganho de peso; a visão da não imobilização do capital em investimentos fixos. Na comercialização da produção, também novos métodos como o Leilão Eletrônico; a CPR; Mercado Futuro e de Opções; e, a integração da produção com a indústria etc. Assim, como se vê, o agronegócio também possui uma dinâmica empresarial, que poderá ser maior ou menor, dependendo da visão do empresário agrícola, e que poderá ser influenciada pela sua capacidade empreendedora, visão de futuro, adaptação às mudanças e, por fim, o que chamamos o tempo certo para a tomada de decisão da mudança ou “timing".

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

"ME ENGANA QUE EU GOSTO"



“ME ENGANA QUE EU GOSTO”


Texto publicado no jornal DIÁRIO DA MANHÃ, de Pelotas-RS, em 10.06.1994, sob a chancela de Jone Tebar. tendo como fato auspicioso que, em 18 de outubro de 2006, a revista “VEJA” publicou em suas Páginas Amarelas, uma entrevista com o filósofo americano David Livingstone Smith, com o título “Engana que eu gosto”, com uma abordagem semelhante, confirmando a visão correta do articulista deste blog e abordada há mais de 10 anos antes.


Tem nos impressionado o poder de indução que a mídia, especialmente a eletrônica, vem provocando sobre o comportamento da população. Atualmente, como que obedecendo a uma ordem emanada da tela da TV, as pessoas consomem, ou agem, na razão direta do que as técnicas do marketing ou da psicologia de massas lhes determinam.
Senão, vejamos: - O locutor do telejornal da noite informa que vai ter um aumento de 20% no preço da gasolina à meia-noite. Muitos, como que autômatos, saem da frente da televisão, já de banho tomado e de pijamas e vão para longas filas dos postos de gasolina. Computando-se a distância percorrida até o posto e o risco de uma batida no liga-desliga do automóvel, em nada será recompensada a pretensa economia de meia-dúzia de vinténs que poderá haver.
No entanto, mesmo assim aqueles que não puderam ir, por uma razão ou por outra, sentir-se-ão os mais infelizes entre os mortais. Da mesma forma, isto se verifica com relação ao anúncio da promoção de cervejas em determinado supermercado, pois que chegam a acorrer pessoas de cidades vizinhas, com poucos vasilhames no porta-malas de seus veículos, porém convictas de que estão fazendo um grande negócio.
Os bingos eletrônicos e os sistemas de apostas pela televisão, acabaram transformando os balcões dos correios em sucursais destas organizações. Lá, formam-se intermináveis filas de pessoas humildes a tagarelar sobre as virtudes de um ou outro carnê e entregando-os nos guichês, como que estivessem cumprindo uma ardorosa missão.
A distribuição de prêmios nos anúncios da TV, em troca do tradicional “compre isto ou beba aquilo”, além do surpreendente aumento nas vendas, provoca uma verdadeira enxurrada de cartas a tais anunciantes, que já se contam por toneladas. Alguns anúncios podem ser considerados como uma verdadeira apelação, como o daquele comercial que diz assim: - Você ainda não tem a sua casa própria? Agora você vai ter! É só mandar uns rótulos de tal produto aqui para o programa, respondendo com quantas letras se escreve o seu nome, que você vai ganhar a sua casa própria! Tivemos a oportunidade de conhecer uma senhora, que comprava em caixas o produto que prometia a tão sonhada casa própria, ficava com os seus rótulos e distribuía o conteúdo entre as amigas, somente para poder concorrer “com mais chances” no sorteio.
Mas as técnicas do marketing não se dão somente pela televisão. Recentemente, uma corrente milionária empolgou um grande número de adeptos, desta vez das classes média e alta. Através de suas técnicas fanatizantes, fizeram com que seus seguidores acreditassem que vendendo detergente líquido concentrado e outras quinquilharias importadas, num trabalho de apenas duas horas por dia, estariam transformados em milionários ao cabo de um ano. E assim são os jogos de quadra, candidatos presidenciais, esportes automobilísticos, aplicações financeiras, músicos sertanejos, enfim, tudo é enlatado e vendido a um consumidor ávido e submisso a verdadeiros mercadores de ilusões. E ai de quem tentar alertá-los para que saiam do mundo da fantasia em que vivem e encarem a realidade de frente. No mínimo serão chamados de loucos, ultrapassados ou fora-de-moda.
Vejam, atualmente, os anúncios e reportagens sobre a Copa do Mundo de Futebol, pelo que se pode observar o Brasil nem precisará jogar, poderá até trazer o seu time de volta, eis que já o consideram tetra-campeão.
Quando o nosso povo se dará conta, que poderosos grupos de comunicação estão explorando a sua boa-fé, e que pouco estão se importando com o que irá ocorrer com suas frustrações, que mais tarde outros encontrarão novas formas de explorá-las.
Temos certeza de que preconizando realidades, ou formas concretas de solução para os problemas do dia-a-dia, não encontraremos quem nos ouça. Porém, se sairmos apregoando milagres ou vendendo cadeiras no Céu, encantaremos multidões.
Vamos ficar alertas, de modo que, em breve, possamos escrever um novo texto, só que desta vez com o título na forma que consideramos correta: “NÃO ME ENGANA QUE EU NÃO GOSTO”.