quarta-feira, 12 de março de 2008

O ARROZ, "SAINDO DO BASTANTÃO"

O arroz, "saindo do bastantão”
Artigo novo, lançado aqui.
O título não é nenhum contraponto a letra da linda música gaúcha “Entrando no Bororé”. Na verdade, trata-se de um mote dado por um produtor de arroz, que já se deu conta do que vamos discorrer adiante.
Até agora, na produção orizícola, vem trabalhando-se, quase que unicamente para aumentar a quantidade produzida, seja através do aumento da área plantada ou do uso intensivo de tecnologias para a melhoria do índice de produtividade (maior produção por unidade de área).
Este esforço extraordinário de recursos e de ações, até então despendidos pelos organismos de pesquisa e assistência técnica, mesmo que já tenham sido atingidos patamares extraordinários de produtividade e de produção, não está resultando em melhoria da renda do produtor de arroz, antes pelo contrário, tem funcionado como um “tiro pela culatra”, visto que, uma maior produção oferecida a um consumidor, cada vez mais seletivo, tem se tornado um grande problema, pois se avolumam os estoques e os preços em contrapartida, tendem a ficar deprimidos.
Esta visão, eminentemente produtivista, tem até colocado em cheque o que se aprendeu na década de 70 e 80, com relação à economia de escala, que preconizava quanto maior a área plantada maior a rentabilidade, derivando daí os reis do arroz, da soja etc e que já restam poucos. No negócio agrícola, na maioria das vezes, quando se aumenta a área de produção, são exigidos outros investimentos, como em tratores, colheitadeiras, armazéns, galpões e outros itens, que dependendo da situação, podem reduzir a margem de ganho ou até mesmo, torná-la deficitária. Já, há algum tempo, além dos fatores produção e produtividade, para o orizicultor obter a tão almejada rentabilidade no seu negócio, estão sendo dele exigidas outras competências, como a redução dos custos de produção (aquisição de insumos, arrendamento, capital imobilizado), a produção de qualidade e/ou de produtos diferenciados e a melhor comercialização. Para a obtenção da qualidade do produto, são requeridas, além da qualidade intrínseca do produto, como aspecto, cor, sabor, padronização etc (que a cada momento estão sendo avaliados pelos consumidores), também os diferenciais que ele pode apresentar, ou seja, produção integrada, orgânica, cultivar diferente, rastreabilidade, dentre outros.
A melhor comercialização, além da conhecida lei da oferta e procura e do fator do orizicultor não estar premido pela necessidade urgente da venda, deverá se dar pela boa negociação, pelo beneficiamento primário da produção e pela atitude de vendedor ou da nova competência exigida de comerciante da sua produção. Este novo agricultor, agora empresário rural e comerciante, deverá sair da região da produção e buscar os mercados com maior potencial de consumo, aproximando-se dos atacadistas e supermercadistas e por que não, do próprio consumidor.
Ainda, convém ressaltar quanto ao aspecto qualidade e diferenciação do produto, cada vez mais os consumidores estão dispostos abrir o bolso e pagar mais em detrimento do fator quantidade, hoje premido pelas dietas alimentares, pela maior renda dos consumidores e pelas fartas campanhas publicitárias dos produtos concorrentes.
Este novo empresário agrícola, além do planejamento inerente às atividades internas da produção e da produtividade da sua lavoura, deverá desenvolver ou contratar as competências apontadas acima, mais a de controle de riscos internos e externos, de modo a assegurar a rentabilidade do seu negócio, como ocorre nos demais setores empresariais da economia brasileira.
Por fim, estas novas competências exigidas devem perpassar o ambiente interno da propriedade, atingindo o ambiente de relacionamento externo do produtor, como os organismos de pesquisa e assistência técnica, entidades governamentais, consultorias, lideranças rurais etc, de modo que num curto espaço de tempo, fique para trás a visão produtivista dominante, até então.