terça-feira, 30 de outubro de 2007

AS REAIS DIFICULDADES DA LAVOURA ARROZEIRA

AS REAIS DIFICULDADES DA LAVOURA ARROZEIRA

Artigo publicado no Diário da Manhã de Pelotas, em 28.05.1994,
elaborado pelo autor e assinado por João de Souza Ramos, na época
Coordenador do Sindicato dos Bancários de Pelotas.

Temos acompanhado a celeuma que tem se dado no meio da classe orizícola, sobre as dificuldades financeiras na condução da lavoura de arroz. Não temos dúvidas que tais dificuldades, caso não solucionadas deverão inviabilizar economicamente grande parte dos que labutam nesta atividade. No entanto, para nós, o problema da lavoura de arroz não se concentra nos ditos elevados encargos financeiros que, segundo alguns produtores, a cada cinco safra lhes toma uma.
Seguindo esta linha de raciocínio, iremos apontar alguns pontos agro-econômicos que, se resolvidos, trariam tranqüilidade a este segmento econômico e que dentre eles, seguramente, os relativos aos encargos financeiros dos financiamentos agrícolas são os menores.
Em primeiro lugar temos o preço do arrendamento das terras de arroz, que chegam às raias do absurdo, pois que seus preços variam entre 25% a 40% da produção obtida, já seca e limpa. Isto significa que o produtor, a cada duas ou três safras, canaliza uma para o dono da terra, que fica sem trabalhar e sem correr risco algum. Ainda nesta conta, podem ser debitados mais alguns pontos percentuais pelo fato do arrendamento, na maioria dos casos, se dar pelo prazo de apenas seis meses, quando novamente a terra é entregue ao proprietário. Caso fosse o arrendamento por cinco anos ou mais, outras atividades agropecuárias poderiam ser desenvolvidas de modo a permitir outros ingressos de renda na propriedade.
Outro segmento da atividade orizícola, que tem abocanhado uma parcela significativa da renda dos produtores, é o setor de beneficiamento e comercialização. Somente para a secagem são canalizados 8% da produção, sendo que deste item cerca de 5% saem diretamente do lucro do produtor. No entanto, na comercialização é que se esvai a maior fatia da renda do produtor, constituindo-se em outro dos seus algozes. Vejam só, na colheita o preço do saco de 50 kg fica em torno de US$ 7, já na entressafra, quando não está mais na mão do produtor, é comercializado a quase US$ 14. Assim, podemos dizer que cada safra que colhe, o produtor transfere outra igual para o “engenho”.
Mais um ponto que urge ser encarado de frente pelo setor orizícola é a questão da monocultura. A lavoura de arroz se movimenta do plantio a colheita, num período de seis meses, ficando os outros seis meses parada, sem nenhum ingresso de renda na propriedade. Neste longo período, continuam a correr os custos financeiros, depreciações, conservação de maquinários e com a manutenção da mão-de-obra ociosa, tudo isto ainda por conta da renda obtida no período agrícola anterior.
O último ponto que entendemos ser crucial na diminuição da lucratividade da lavoura arrozeira e que pode ser atribuído ao excessivo individualismo do produtor, é o elevado valor imobilizado em cada propriedade em silos, secadores, barragens, colheitadeiras etc., que chega a US$ 2500 por hectare. Cada produtor quer ter o ciclo completo da atividade. Nem é preciso dizer que num sistema de condomínio, consórcio ou cooperativado, em muito seria reduzido este valor.
Assim, acreditamos ter levantado algumas questões que não tem sido enfrentadas pelo setor orizícola, especialmente por suas lideranças, que de maneira equivocada, a nosso ver, conduzem o problema para o lado mais difícil, se não impossível de ser solucionado, que é o do custo do financiamento agrícola. Dos 12,5%, mais a TR, ao ano, que lhes são cobrados nos empréstimos agrícolas, 6% ao ano mais a TR, são pagos pelo agente financeiro ao poupador na Caderneta de Poupança – fonte do financiamento agrícola – que, acrescidos dos riscos e dos custos administrativos, pouco deve sobrar ao Banco. Por outro lado, o perdão da dívida dos 39% do Plano Collor, como quer as lideranças, fica mais difícil ainda, pois como eles, perderam também os poupadores, os assalariados, enfim, toda a sociedade brasileira. E por falar em sociedade brasileira, como esta sociedade também precisa destes 39%. Vejam os hospitais, as escolas e os miseráveis, que até já vivem dos lixões das grandes cidades.
Esperamos ter colaborado com este importante segmento da economia e lhes dizemos que é imperioso reconhecer que os tempos mudaram e que, seguramente não voltarão mais aqueles dos créditos fartos e subsidiados, que serviram para encobrir tanta ineficiência – ou se adequa a nova realidade ou pára.
Enfim, o quadro é este e pode ser constatado através de tantos arrozeiros que estão capitalizados e pagando suas contas em dia, sem depender da perversidade social da anistia de dívidas contraídas e que foram assumidas por conta e risco, próprias do livre mercado.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA NO TEMPO DO FIO-DE-BIGODE

A COMERCIALIZAÇÃO AGRÍCOLA NO TEMPO DO FIO-DE-BIGODE

Artigo publicado no Jornal Diário Popular de Pelotas-RS,
em 17.02.1993, sob Jone Tebar, Presidente da Associação
de Produtores Rurais da Florida-Canguçu-RS



Temos acompanhado com espanto a maneira como ainda se processa a comercialização dos produtos agrícolas na Zona Sul.
Como já estamos adentrando na época do agribussiness, do marketing, das telebolsas e das “safras e mercados”, é de se estranhar que na região, a comercialização agrícola se processa ainda como no tempo do fio-de-bigode.
No caso do pêssego, o produtor entrega a fruta na indústria sem nenhum recibo, contrato ou qualquer outro documento que lhe diga qual será o preço, o peso ou quando irá receber o resultado de sua safra. No contato com os persicultores, verificam-se que muitos ainda não receberam o dinheiro referente à safra passada, isto que a safra atual já está quase no seu final. No entanto, o mais incrível nisto tudo é que estes mesmos produtores, apesar de há anos sofrerem este tipo de exploração, não esboçam o menor sinal de reação, para corrigir de uma vez por todas esta situação. Antes, pelo contrário, passam à situação de conformidade, ou melhor, quando são instados a buscar a solução pela via jurídica, repelem de pronto: - Não! Se nós recorrermos à Justiça, não vamos ter a quem entregar a próxima safra. E aí passam a ficar credores, agora não mais de uma, mas de duas safras.
Por outro lado, também temos observado que este sistema de negociação não é privilégio apenas do pêssego, mas sim de todos os produtos agrícolas de nossa região (milho, cebola, arroz, batata etc).
Tivemos a oportunidade de observar ao longe, como se processa a fixação do preço do dia para a cebola em São José do Norte. Enquanto a cebola esquentava sob um sol de verão na Praça da Cebola, em cima de reboques de tratores ou pick-up Willys, sem nenhum tipo de classificação, já na mão de atravessadores, prepostos de atacadistas do Rio de Janeiro e Salvador, cheios de correntes e medalhões de ouro no peito, sentavam-se à mesa de um restaurante para o regabofe. Após algumas conversas entremeadas por garfadas, levantavam-se e dirigiam-se aos interessados que os aguardavam, dizendo que o preço da cebola naquele dia era só tal.
Este sistema arcaico de comercialização tem levado a reduzir drasticamente a renda dos produtores rurais. Ainda podemos citar os preços na época da colheita, que atinge valores irrisórios, como os do feijão, que na colheita em janeiro/92 era comercializado a Cr$12.000,00 por saco, e em novembro/92, na época de escassez era vendido a Cr$ 240.000,00 por saco. O milho, da mesma forma, na colheita, em abril/maio/92, valia, em nível de produtor, Cr$ 3.500,00/saco, e em novembro/92 já atingia Cr$80.000,00 por saco.
O arroz, embora sendo cultivado por produtores mais esclarecidos, também sofre do mesmo problema. . Vejamos o exemplo de um produtor, que mesmo tendo colhido 140 sacos por hectare, já seco e limpo, teve que desembolsar como custo da terra e água, limpeza, secagem e armazenagem 70 sacos por hectare. Como o custo dos insumos e práticas culturais também atingiu 70 sacos por hectare, acabou não lhe sobrando nada de uma excelente colheita.
Estes exemplos são ruins tanto para o comerciante industrial como para o produtor. Tais sistemas podem ser comparados ao do carrapato em cima do couro de boi magro, que de tanto sugá-lo acaba matando-o. Do mesmo modo no caso da produção agrícola da região sul, de tanto o comerciante ou o industrial sugar o produtor acaba mandando-o para a cidade, mas aí, com o tempo, o comerciante ou o industrial acaba também parando com o seu negócio. Ou, como já ouvimos dizer, “acabam matando a galinha dos ovos de ouro”.
Nos dias de hoje, já temos exemplos profícuos, como os da integração de suínos e aves em Santa Catarina e na região norte do Rio Grande do Sul, onde produtor e comerciante/industrial procuram modernizar as suas relações comerciais e de produção. No sistema integrado todos ganham, inclusive aumentam o seu potencial de competição, até junto ao mercado internacional. Outra alternativa é o sistema associativo, onde através da união dos produtores, estes podem chegar, por sua conta, ao beneficiamento e comercialização da produção.
Vamos, pois, produtores, comerciantes e industriais, espelhando-nos no tempo do fio-de-bigode, projetarmo-nos para o futuro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O NEGATIVISMO, O PESSIMISMO E A REGIÃO SUL

O NEGATIVISMO, O PESSIMISMO E A REGIÃO SUL

Artigo publicado no Diário da Manhã de Pelotas,
sob a chancela de Jone Tebar, em 29.12.1993


O estudo do atraso da Região Sul nos remete a adentrar na área do conhecimento humano, que estuda os aspectos culturais e a mentalidade dos seus habitantes.
No segmento agropecuário, não nos é possível entender como um proprietário rural, possuidor de 3.000 hectares de terras, não deseja a energia elétrica em seu estabelecimento, submetendo as privações a si e a sua família, deixando de aproveitar o conforto e as comodidades que o mundo atual oferece, vivendo pior que um proprietário de dez hectares na Serra Gaúcha. Todo o lucro que aufere na sua atividade agropastoril, investe em mais um pedaço de terra, sempre achando uma justificativa, que poderá ser: - Não podia perder, tem uma aguada muito boa! Era lindeiro! Tem uma sombra muito boa para o gado! E assim por diante. Por outro lado, por incrível que possa parecer, ao final de sua vida entra em um terrível conflito interior: - Está velho, não aproveitou a sua vida e se dá conta que não poderá levar consigo para a outra existência, toda aquela terra, que tanto lhe custou para acumular.
Do mesmo modo, verificamos que os moradores da região, são aficionados em Caderneta de Poupança ou outro ativo financeiro qualquer. Temos até nos questionado sobre o motivo que leva uma pessoa com mais de setenta anos a guardar o dinheiro para o futuro, privando-se do conforto, tratamento médico, viagens etc.
Já, os citadinos mais abastados, que não lhes é dado comprar terras, dedicam-se a comprar casas velhas, terrenos baldios ou sobrados do século passado.
As indústrias, por falta de tecnologia, tornam-se obsoletas e acabam inviabilizando-se, exatamente pela falta de modernização.
De técnicos a região não precisa, tanto que, cerca de 80% dos que aqui se formam vão trabalhar em outros centros, ou ficam desempregados. Não que não tenha o que ser feito por aqui, mas por que a região não acredita nos seus conhecimentos: – o meu pai já fazia assim.
Isto tudo nos leva a crer que estas pessoas compõem um pensamento majoritário na região, que têm medo do futuro. Tudo o que tem pela frente lhes assusta, isto é, querem segurança. Dizem-nos assim: - o seguro morreu de velho e assim mesmo se foi! Ou ainda, por pior que sejam os cômodos da gente, sempre são melhores que os dos outros.
Assim podemos afirmar que qualquer um que tenha uma idéia nova neste meio, seja ela qual for: - abrir uma malharia, uma padaria, fazer uma viagem etc, imediatamente são rechaçados por centenas de pessimistas, que lhes dizem: - Isto não vai dar certo! Cuidado, vais dar com os burros n’água! Olha, os seus filhos vão acabar passando fome, depois! Você é louco! Isto é coisa de comunista! Lógico que esta idéia acaba sucumbindo, pois, por ser nova, ela é tênue e ainda falta a plena convicção do indivíduo que, mediante tamanha pressão negativa, acaba não resistindo. Até podemos dizer que isto nada mais é que uma “explicação científica” para o que popularmente se chama “olho grosso, olho gordo ou mau olhado”.
Isto que aqui ocorre, é muito diferente daquilo que se verifica na Serra Gaúcha, em Santa Catarina ou no Paraná, aonde a maioria das pessoas são otimistas, mais dinâmicas ou dotadas de maior entusiasmo. Lá, se aparece uma idéia nova, ao contrário daqui, surge mais de uma centena de pessoas para darem apoio e respaldarem a iniciativa.
Para comprovar os fatos levantados neste texto, nada mais justo do que relatar um, coletado no dia-a-dia, que mesmo sendo triste, ilustra bem o efeito do negativismo sobre o ânimo das pessoas, como vemos a seguir:
- “Este fato se deu com um microempresário de uma serralheria, exímio fabricante de esquadrias metálicas e que, como todo o empresário, sonha em ter um crescimento em seu negócio, até quem sabe transformá-lo em uma grande empresa metalúrgica. Com este objetivo, em sendo um sujeito dinâmico, resolveu visitar o Estado do Tocantins, que está em fase de pleno desenvolvimento e que o encantou sobremaneira. De lá voltou cheio de planos, mudar-se para aquele lugar, começar pequeno e futuramente ter a sua grande metalúrgica. Andou falando por aqui dos seus planos e os amigos foram o desaconselhando, pois que ele iria entrar numa fria, que iria se dar mal etc., que acabou desistindo de sua idéia de transferir-se com toda a sua maquinaria para o Tocantins. Agora, já convencido de que de fato deveria ficar com o seu pequeno negócio, passou a explicar a sua atitude da seguinte forma: - Não posso ir! Devo matar o meu sonho de transformar-me em um grande empresário. Tenho que saber que todos os dias pela manhã, vou abrir minha oficina, vou preparar meu chimarrão e saber que, naquele dia, vai entrar um cliente e me encomendar uma porta de ferro. No dia seguinte, da mesma forma, virá mais um cliente e pedirá para reformar uma janela velha e assim, neste ritmo, serão todos os dias da minha existência”.
Entendemos que ao adotar esta forma resignada de pensar, este pequeno empresário, ainda jovem, estava condenando-se a tornar-se um morto-vivo que, como uma alma penada, vagaria como um zumbi, sem mais nenhuma perspectiva no horizonte de sua vida.
Como vemos, só resta aos nossos poucos idealistas e inovadores da região, entrar no esquema de acomodação ou irem-se embora. No entanto, se por qualquer motivo, estiverem impedidos desta primeira alternativa, não devem perder as esperanças, pois “não está morto quem peleia, dizia uma ovelha no meio de oitenta cachorros”. Devem reunir forças, redobrar o entusiasmo, bater com os dedos por três vezes na madeira e seguir com a idéia em frente, pois que, se não tentarem, jamais ficarão sabendo se os sonhos iriam se realizar, ou se de fato, iriam dar com os burros n’água.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Os pequenos agricultores, os fazendeiros e a Zona Sul do RS

Artigo publicado em 27.08.1992
Diário Popular - Pelotas-RS
Jone Tebar – Engenheiro Agrônomo

Os pequenos agricultores, os fazendeiros e a sociedade urbana da Zona Sul do RS

O estudo em referência parte da análise dos costumes e aspirações dos fazendeiros, grandes proprietários rurais da Zona Sul do Rio Grande do Sul, onde se verifica que os mesmos têm anseios ou necessidades de consumo bastante simples, confrontando com os produtos e serviços colocados à disposição dos consumidores nos tempos atuais.
No que se refere aos métodos de produção para a pecuária de corte, atividade principal desta categoria de produtores, temos também que esta também se processa sob métodos rudimentares, empíricos e atávicos, como exemplo, temos: a) a não priorização do conforto na propriedade rural, tal como a residência, a energia elétrica, o telefone ou as demais instalações rurais; b) o uso de sistemas extensivos de produção: - aramados antigos ou de baixa qualidade; não utilização de pastagens cultivadas; não utilização de raças melhoradas etc.
Esta negação aos “tempos modernos”, tem em contrapartida a existência de uma solidez econômica, com um polpudo saldo em caderneta de poupança e um vasto patrimônio em terras, que a cada ano procura aumentar.
O nível cultural do fazendeiro também é baixo, haja vista não ser afeito a leituras ou viagens de estudo ou turismo. Por outro lado, o tamanho da propriedade lhe confere um poder político sem igual, quase sempre ligado aos partidos conservadores, e que passam a ser respeitados em seu meio pela extraordinária capacidade de acumular bens e realizar bons negócios devido ao seu alto poder de barganha.
Resumindo, seu hobby é comprar campo e seu lado conservador resiste às mudanças ou técnicas novas, que exijam maiores dispêndios ou esforços mentais.
Na região colonial, nas áreas próximas das grandes fazendas, temos os pequenos proprietários e os sem-terras, que possuem hábitos, costumes e aspirações influenciados pelos fazendeiros. É comum ver-se propriedades de até 40 hectares, dedicando-se a criação de ovinos e bovinos de corte, ao invés dos produtos típicos da pequena propriedade como suínos, aves, hortigranjeiros ou bovinos de leite. Tal categoria de produtores, não obstante a dificuldade financeira que atravessam, possuem o mesmo nível cultural, a aversão às mudanças ou técnicas novas de cultivo ou criação e a mesma visão conservadora do fazendeiro.
O estudo propõe que as duas categorias de produtores não diferem entre si nos diferentes aspectos que possam ser analisados, especialmente o do nível cultural, pois a visão de ambos é a mesma. Trazendo à luz o caso da reforma agrária, tem-se que o tema é renegado tanto pelo latifundiário como pelo pequeno produtor sem-terra. Para ambos, o sonho é o mesmo: - Comprar terra. Só que para o latifundiário este sonho é factível e a cada ano acrescenta mais algumas centenas de hectares ao seu patrimônio, deixando de usufruir o seu capital em conforto (melhorias na residência, ar condicionado, antena parabólica, telefone, viagens etc.), ou em investimentos para melhorar a produtividade, para imobilizá-lo na aquisição de mais terras. Para estes, o que lhes confere status e poder político é a quantidade de terras que possuem, mesmo estando ociosas. Já, os sem-terras ou pequenos produtores, têm a mesma visão de comprar terras. Quando estes são instados a opinar sobre reforma agrária, imediatamente rechaçam: - “Terra de graça, não quero”!
Então, latifundiários e pequenos agricultores vêem a terra apenas como um bem imóvel e não como um meio de produção.
Como as cidades da Zona Sul, têm na atividade agropecuária a sua principal fonte de renda, os componentes da sociedade urbana (professores, bancários, agrônomos, veterinários, advogados etc.), são fortemente influenciados pelo pensamento conservador dos produtores rurais. Já se têm exemplos de técnicos, que de tanto conviver com este meio retrógrado estão a negar a própria ciência. Senão, vejamos o exemplo da eletrificação rural, que de tanto ser apregoada pelo técnico e ter a sua aceitação rejeitada pelo agropecuarista, sob os mais diferentes argumentos: - “Não preciso, me criei sem isto”! “Vai custar caro”! “Isto é capaz de dar uma chispa e pegar fogo na casa”! – que os técnicos também desistem de apregoar a sua utilidade, só que a partir de então, sob um novo argumento: - “O colono não precisa de energia elétrica, pois se tiver este melhoramento vai querer ver televisão e não vai querer trabalhar”!
Os industriais também não fogem à regra, vejamos o da indústria do pêssego, onde a pessoa jurídica apresenta um parque industrial praticamente obsoleto, com os mesmos equipamentos e produtos finais de 30 anos atrás, já a pessoa física é detentora de 150 imóveis, inclusive alguns de massas falidas de outros que incorreram no mesmo erro da falta de modernização industrial.
Outros exemplos poderiam ser tomados, no entanto, todos seguindo na mesma direção. Tais fatos têm prejudicado sobremaneira o desenvolvimento da Zona Sul, haja vista haver fazendas com 20.000 hectares com apenas quatro empregados. Ou até mesmo, o choque cultural em que se vêem os próprios filhos dos fazendeiros, que depois de formados, ficam obrigados a obterem empregos de balconistas por não encontrarem espaço ou ambiente de trabalho, não obstante a enorme área das fazendas de seus progenitores.