“ME ENGANA QUE EU GOSTO”
Texto publicado no jornal DIÁRIO DA MANHÃ, de Pelotas-RS, em 10.06.1994, sob a chancela de Jone Tebar. tendo como fato auspicioso que, em 18 de outubro de 2006, a revista “VEJA” publicou em suas Páginas Amarelas, uma entrevista com o filósofo americano David Livingstone Smith, com o título “Engana que eu gosto”, com uma abordagem semelhante, confirmando a visão correta do articulista deste blog e abordada há mais de 10 anos antes.
Tem nos impressionado o poder de indução que a mídia, especialmente a eletrônica, vem provocando sobre o comportamento da população. Atualmente, como que obedecendo a uma ordem emanada da tela da TV, as pessoas consomem, ou agem, na razão direta do que as técnicas do marketing ou da psicologia de massas lhes determinam.
Senão, vejamos: - O locutor do telejornal da noite informa que vai ter um aumento de 20% no preço da gasolina à meia-noite. Muitos, como que autômatos, saem da frente da televisão, já de banho tomado e de pijamas e vão para longas filas dos postos de gasolina. Computando-se a distância percorrida até o posto e o risco de uma batida no liga-desliga do automóvel, em nada será recompensada a pretensa economia de meia-dúzia de vinténs que poderá haver.
No entanto, mesmo assim aqueles que não puderam ir, por uma razão ou por outra, sentir-se-ão os mais infelizes entre os mortais. Da mesma forma, isto se verifica com relação ao anúncio da promoção de cervejas em determinado supermercado, pois que chegam a acorrer pessoas de cidades vizinhas, com poucos vasilhames no porta-malas de seus veículos, porém convictas de que estão fazendo um grande negócio.
Os bingos eletrônicos e os sistemas de apostas pela televisão, acabaram transformando os balcões dos correios em sucursais destas organizações. Lá, formam-se intermináveis filas de pessoas humildes a tagarelar sobre as virtudes de um ou outro carnê e entregando-os nos guichês, como que estivessem cumprindo uma ardorosa missão.
A distribuição de prêmios nos anúncios da TV, em troca do tradicional “compre isto ou beba aquilo”, além do surpreendente aumento nas vendas, provoca uma verdadeira enxurrada de cartas a tais anunciantes, que já se contam por toneladas. Alguns anúncios podem ser considerados como uma verdadeira apelação, como o daquele comercial que diz assim: - Você ainda não tem a sua casa própria? Agora você vai ter! É só mandar uns rótulos de tal produto aqui para o programa, respondendo com quantas letras se escreve o seu nome, que você vai ganhar a sua casa própria! Tivemos a oportunidade de conhecer uma senhora, que comprava em caixas o produto que prometia a tão sonhada casa própria, ficava com os seus rótulos e distribuía o conteúdo entre as amigas, somente para poder concorrer “com mais chances” no sorteio.
Mas as técnicas do marketing não se dão somente pela televisão. Recentemente, uma corrente milionária empolgou um grande número de adeptos, desta vez das classes média e alta. Através de suas técnicas fanatizantes, fizeram com que seus seguidores acreditassem que vendendo detergente líquido concentrado e outras quinquilharias importadas, num trabalho de apenas duas horas por dia, estariam transformados em milionários ao cabo de um ano. E assim são os jogos de quadra, candidatos presidenciais, esportes automobilísticos, aplicações financeiras, músicos sertanejos, enfim, tudo é enlatado e vendido a um consumidor ávido e submisso a verdadeiros mercadores de ilusões. E ai de quem tentar alertá-los para que saiam do mundo da fantasia em que vivem e encarem a realidade de frente. No mínimo serão chamados de loucos, ultrapassados ou fora-de-moda.
Vejam, atualmente, os anúncios e reportagens sobre a Copa do Mundo de Futebol, pelo que se pode observar o Brasil nem precisará jogar, poderá até trazer o seu time de volta, eis que já o consideram tetra-campeão.
Quando o nosso povo se dará conta, que poderosos grupos de comunicação estão explorando a sua boa-fé, e que pouco estão se importando com o que irá ocorrer com suas frustrações, que mais tarde outros encontrarão novas formas de explorá-las.
Temos certeza de que preconizando realidades, ou formas concretas de solução para os problemas do dia-a-dia, não encontraremos quem nos ouça. Porém, se sairmos apregoando milagres ou vendendo cadeiras no Céu, encantaremos multidões.
Vamos ficar alertas, de modo que, em breve, possamos escrever um novo texto, só que desta vez com o título na forma que consideramos correta: “NÃO ME ENGANA QUE EU NÃO GOSTO”.
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