quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O NEGATIVISMO, O PESSIMISMO E A REGIÃO SUL

O NEGATIVISMO, O PESSIMISMO E A REGIÃO SUL

Artigo publicado no Diário da Manhã de Pelotas,
sob a chancela de Jone Tebar, em 29.12.1993


O estudo do atraso da Região Sul nos remete a adentrar na área do conhecimento humano, que estuda os aspectos culturais e a mentalidade dos seus habitantes.
No segmento agropecuário, não nos é possível entender como um proprietário rural, possuidor de 3.000 hectares de terras, não deseja a energia elétrica em seu estabelecimento, submetendo as privações a si e a sua família, deixando de aproveitar o conforto e as comodidades que o mundo atual oferece, vivendo pior que um proprietário de dez hectares na Serra Gaúcha. Todo o lucro que aufere na sua atividade agropastoril, investe em mais um pedaço de terra, sempre achando uma justificativa, que poderá ser: - Não podia perder, tem uma aguada muito boa! Era lindeiro! Tem uma sombra muito boa para o gado! E assim por diante. Por outro lado, por incrível que possa parecer, ao final de sua vida entra em um terrível conflito interior: - Está velho, não aproveitou a sua vida e se dá conta que não poderá levar consigo para a outra existência, toda aquela terra, que tanto lhe custou para acumular.
Do mesmo modo, verificamos que os moradores da região, são aficionados em Caderneta de Poupança ou outro ativo financeiro qualquer. Temos até nos questionado sobre o motivo que leva uma pessoa com mais de setenta anos a guardar o dinheiro para o futuro, privando-se do conforto, tratamento médico, viagens etc.
Já, os citadinos mais abastados, que não lhes é dado comprar terras, dedicam-se a comprar casas velhas, terrenos baldios ou sobrados do século passado.
As indústrias, por falta de tecnologia, tornam-se obsoletas e acabam inviabilizando-se, exatamente pela falta de modernização.
De técnicos a região não precisa, tanto que, cerca de 80% dos que aqui se formam vão trabalhar em outros centros, ou ficam desempregados. Não que não tenha o que ser feito por aqui, mas por que a região não acredita nos seus conhecimentos: – o meu pai já fazia assim.
Isto tudo nos leva a crer que estas pessoas compõem um pensamento majoritário na região, que têm medo do futuro. Tudo o que tem pela frente lhes assusta, isto é, querem segurança. Dizem-nos assim: - o seguro morreu de velho e assim mesmo se foi! Ou ainda, por pior que sejam os cômodos da gente, sempre são melhores que os dos outros.
Assim podemos afirmar que qualquer um que tenha uma idéia nova neste meio, seja ela qual for: - abrir uma malharia, uma padaria, fazer uma viagem etc, imediatamente são rechaçados por centenas de pessimistas, que lhes dizem: - Isto não vai dar certo! Cuidado, vais dar com os burros n’água! Olha, os seus filhos vão acabar passando fome, depois! Você é louco! Isto é coisa de comunista! Lógico que esta idéia acaba sucumbindo, pois, por ser nova, ela é tênue e ainda falta a plena convicção do indivíduo que, mediante tamanha pressão negativa, acaba não resistindo. Até podemos dizer que isto nada mais é que uma “explicação científica” para o que popularmente se chama “olho grosso, olho gordo ou mau olhado”.
Isto que aqui ocorre, é muito diferente daquilo que se verifica na Serra Gaúcha, em Santa Catarina ou no Paraná, aonde a maioria das pessoas são otimistas, mais dinâmicas ou dotadas de maior entusiasmo. Lá, se aparece uma idéia nova, ao contrário daqui, surge mais de uma centena de pessoas para darem apoio e respaldarem a iniciativa.
Para comprovar os fatos levantados neste texto, nada mais justo do que relatar um, coletado no dia-a-dia, que mesmo sendo triste, ilustra bem o efeito do negativismo sobre o ânimo das pessoas, como vemos a seguir:
- “Este fato se deu com um microempresário de uma serralheria, exímio fabricante de esquadrias metálicas e que, como todo o empresário, sonha em ter um crescimento em seu negócio, até quem sabe transformá-lo em uma grande empresa metalúrgica. Com este objetivo, em sendo um sujeito dinâmico, resolveu visitar o Estado do Tocantins, que está em fase de pleno desenvolvimento e que o encantou sobremaneira. De lá voltou cheio de planos, mudar-se para aquele lugar, começar pequeno e futuramente ter a sua grande metalúrgica. Andou falando por aqui dos seus planos e os amigos foram o desaconselhando, pois que ele iria entrar numa fria, que iria se dar mal etc., que acabou desistindo de sua idéia de transferir-se com toda a sua maquinaria para o Tocantins. Agora, já convencido de que de fato deveria ficar com o seu pequeno negócio, passou a explicar a sua atitude da seguinte forma: - Não posso ir! Devo matar o meu sonho de transformar-me em um grande empresário. Tenho que saber que todos os dias pela manhã, vou abrir minha oficina, vou preparar meu chimarrão e saber que, naquele dia, vai entrar um cliente e me encomendar uma porta de ferro. No dia seguinte, da mesma forma, virá mais um cliente e pedirá para reformar uma janela velha e assim, neste ritmo, serão todos os dias da minha existência”.
Entendemos que ao adotar esta forma resignada de pensar, este pequeno empresário, ainda jovem, estava condenando-se a tornar-se um morto-vivo que, como uma alma penada, vagaria como um zumbi, sem mais nenhuma perspectiva no horizonte de sua vida.
Como vemos, só resta aos nossos poucos idealistas e inovadores da região, entrar no esquema de acomodação ou irem-se embora. No entanto, se por qualquer motivo, estiverem impedidos desta primeira alternativa, não devem perder as esperanças, pois “não está morto quem peleia, dizia uma ovelha no meio de oitenta cachorros”. Devem reunir forças, redobrar o entusiasmo, bater com os dedos por três vezes na madeira e seguir com a idéia em frente, pois que, se não tentarem, jamais ficarão sabendo se os sonhos iriam se realizar, ou se de fato, iriam dar com os burros n’água.

Um comentário:

Anônimo disse...

José Nei,

Muito bom o Artigo, continua atual. Como romper paradigmas? A cultura está arraigada nas nossas entranhas. Mas acredito que devemos romper paradigmas na busca de sermos mais felizes, nunca apenas para atender aos apelos da mídia ou dos motivadores de plantão.
Um grande abraço e que 2.008 seja um Ano de realizações e Grandes Idéias.
Adalberto Telesca Barbosa
telesca@creapr.org.br