Artigo publicado em 27.08.1992
Diário Popular - Pelotas-RS
Jone Tebar – Engenheiro Agrônomo
Os pequenos agricultores, os fazendeiros e a sociedade urbana da Zona Sul do RS
O estudo em referência parte da análise dos costumes e aspirações dos fazendeiros, grandes proprietários rurais da Zona Sul do Rio Grande do Sul, onde se verifica que os mesmos têm anseios ou necessidades de consumo bastante simples, confrontando com os produtos e serviços colocados à disposição dos consumidores nos tempos atuais.
No que se refere aos métodos de produção para a pecuária de corte, atividade principal desta categoria de produtores, temos também que esta também se processa sob métodos rudimentares, empíricos e atávicos, como exemplo, temos: a) a não priorização do conforto na propriedade rural, tal como a residência, a energia elétrica, o telefone ou as demais instalações rurais; b) o uso de sistemas extensivos de produção: - aramados antigos ou de baixa qualidade; não utilização de pastagens cultivadas; não utilização de raças melhoradas etc.
Esta negação aos “tempos modernos”, tem em contrapartida a existência de uma solidez econômica, com um polpudo saldo em caderneta de poupança e um vasto patrimônio em terras, que a cada ano procura aumentar.
O nível cultural do fazendeiro também é baixo, haja vista não ser afeito a leituras ou viagens de estudo ou turismo. Por outro lado, o tamanho da propriedade lhe confere um poder político sem igual, quase sempre ligado aos partidos conservadores, e que passam a ser respeitados em seu meio pela extraordinária capacidade de acumular bens e realizar bons negócios devido ao seu alto poder de barganha.
Resumindo, seu hobby é comprar campo e seu lado conservador resiste às mudanças ou técnicas novas, que exijam maiores dispêndios ou esforços mentais.
Na região colonial, nas áreas próximas das grandes fazendas, temos os pequenos proprietários e os sem-terras, que possuem hábitos, costumes e aspirações influenciados pelos fazendeiros. É comum ver-se propriedades de até 40 hectares, dedicando-se a criação de ovinos e bovinos de corte, ao invés dos produtos típicos da pequena propriedade como suínos, aves, hortigranjeiros ou bovinos de leite. Tal categoria de produtores, não obstante a dificuldade financeira que atravessam, possuem o mesmo nível cultural, a aversão às mudanças ou técnicas novas de cultivo ou criação e a mesma visão conservadora do fazendeiro.
O estudo propõe que as duas categorias de produtores não diferem entre si nos diferentes aspectos que possam ser analisados, especialmente o do nível cultural, pois a visão de ambos é a mesma. Trazendo à luz o caso da reforma agrária, tem-se que o tema é renegado tanto pelo latifundiário como pelo pequeno produtor sem-terra. Para ambos, o sonho é o mesmo: - Comprar terra. Só que para o latifundiário este sonho é factível e a cada ano acrescenta mais algumas centenas de hectares ao seu patrimônio, deixando de usufruir o seu capital em conforto (melhorias na residência, ar condicionado, antena parabólica, telefone, viagens etc.), ou em investimentos para melhorar a produtividade, para imobilizá-lo na aquisição de mais terras. Para estes, o que lhes confere status e poder político é a quantidade de terras que possuem, mesmo estando ociosas. Já, os sem-terras ou pequenos produtores, têm a mesma visão de comprar terras. Quando estes são instados a opinar sobre reforma agrária, imediatamente rechaçam: - “Terra de graça, não quero”!
Então, latifundiários e pequenos agricultores vêem a terra apenas como um bem imóvel e não como um meio de produção.
Como as cidades da Zona Sul, têm na atividade agropecuária a sua principal fonte de renda, os componentes da sociedade urbana (professores, bancários, agrônomos, veterinários, advogados etc.), são fortemente influenciados pelo pensamento conservador dos produtores rurais. Já se têm exemplos de técnicos, que de tanto conviver com este meio retrógrado estão a negar a própria ciência. Senão, vejamos o exemplo da eletrificação rural, que de tanto ser apregoada pelo técnico e ter a sua aceitação rejeitada pelo agropecuarista, sob os mais diferentes argumentos: - “Não preciso, me criei sem isto”! “Vai custar caro”! “Isto é capaz de dar uma chispa e pegar fogo na casa”! – que os técnicos também desistem de apregoar a sua utilidade, só que a partir de então, sob um novo argumento: - “O colono não precisa de energia elétrica, pois se tiver este melhoramento vai querer ver televisão e não vai querer trabalhar”!
Os industriais também não fogem à regra, vejamos o da indústria do pêssego, onde a pessoa jurídica apresenta um parque industrial praticamente obsoleto, com os mesmos equipamentos e produtos finais de 30 anos atrás, já a pessoa física é detentora de 150 imóveis, inclusive alguns de massas falidas de outros que incorreram no mesmo erro da falta de modernização industrial.
Outros exemplos poderiam ser tomados, no entanto, todos seguindo na mesma direção. Tais fatos têm prejudicado sobremaneira o desenvolvimento da Zona Sul, haja vista haver fazendas com 20.000 hectares com apenas quatro empregados. Ou até mesmo, o choque cultural em que se vêem os próprios filhos dos fazendeiros, que depois de formados, ficam obrigados a obterem empregos de balconistas por não encontrarem espaço ou ambiente de trabalho, não obstante a enorme área das fazendas de seus progenitores.
Diário Popular - Pelotas-RS
Jone Tebar – Engenheiro Agrônomo
Os pequenos agricultores, os fazendeiros e a sociedade urbana da Zona Sul do RS
O estudo em referência parte da análise dos costumes e aspirações dos fazendeiros, grandes proprietários rurais da Zona Sul do Rio Grande do Sul, onde se verifica que os mesmos têm anseios ou necessidades de consumo bastante simples, confrontando com os produtos e serviços colocados à disposição dos consumidores nos tempos atuais.
No que se refere aos métodos de produção para a pecuária de corte, atividade principal desta categoria de produtores, temos também que esta também se processa sob métodos rudimentares, empíricos e atávicos, como exemplo, temos: a) a não priorização do conforto na propriedade rural, tal como a residência, a energia elétrica, o telefone ou as demais instalações rurais; b) o uso de sistemas extensivos de produção: - aramados antigos ou de baixa qualidade; não utilização de pastagens cultivadas; não utilização de raças melhoradas etc.
Esta negação aos “tempos modernos”, tem em contrapartida a existência de uma solidez econômica, com um polpudo saldo em caderneta de poupança e um vasto patrimônio em terras, que a cada ano procura aumentar.
O nível cultural do fazendeiro também é baixo, haja vista não ser afeito a leituras ou viagens de estudo ou turismo. Por outro lado, o tamanho da propriedade lhe confere um poder político sem igual, quase sempre ligado aos partidos conservadores, e que passam a ser respeitados em seu meio pela extraordinária capacidade de acumular bens e realizar bons negócios devido ao seu alto poder de barganha.
Resumindo, seu hobby é comprar campo e seu lado conservador resiste às mudanças ou técnicas novas, que exijam maiores dispêndios ou esforços mentais.
Na região colonial, nas áreas próximas das grandes fazendas, temos os pequenos proprietários e os sem-terras, que possuem hábitos, costumes e aspirações influenciados pelos fazendeiros. É comum ver-se propriedades de até 40 hectares, dedicando-se a criação de ovinos e bovinos de corte, ao invés dos produtos típicos da pequena propriedade como suínos, aves, hortigranjeiros ou bovinos de leite. Tal categoria de produtores, não obstante a dificuldade financeira que atravessam, possuem o mesmo nível cultural, a aversão às mudanças ou técnicas novas de cultivo ou criação e a mesma visão conservadora do fazendeiro.
O estudo propõe que as duas categorias de produtores não diferem entre si nos diferentes aspectos que possam ser analisados, especialmente o do nível cultural, pois a visão de ambos é a mesma. Trazendo à luz o caso da reforma agrária, tem-se que o tema é renegado tanto pelo latifundiário como pelo pequeno produtor sem-terra. Para ambos, o sonho é o mesmo: - Comprar terra. Só que para o latifundiário este sonho é factível e a cada ano acrescenta mais algumas centenas de hectares ao seu patrimônio, deixando de usufruir o seu capital em conforto (melhorias na residência, ar condicionado, antena parabólica, telefone, viagens etc.), ou em investimentos para melhorar a produtividade, para imobilizá-lo na aquisição de mais terras. Para estes, o que lhes confere status e poder político é a quantidade de terras que possuem, mesmo estando ociosas. Já, os sem-terras ou pequenos produtores, têm a mesma visão de comprar terras. Quando estes são instados a opinar sobre reforma agrária, imediatamente rechaçam: - “Terra de graça, não quero”!
Então, latifundiários e pequenos agricultores vêem a terra apenas como um bem imóvel e não como um meio de produção.
Como as cidades da Zona Sul, têm na atividade agropecuária a sua principal fonte de renda, os componentes da sociedade urbana (professores, bancários, agrônomos, veterinários, advogados etc.), são fortemente influenciados pelo pensamento conservador dos produtores rurais. Já se têm exemplos de técnicos, que de tanto conviver com este meio retrógrado estão a negar a própria ciência. Senão, vejamos o exemplo da eletrificação rural, que de tanto ser apregoada pelo técnico e ter a sua aceitação rejeitada pelo agropecuarista, sob os mais diferentes argumentos: - “Não preciso, me criei sem isto”! “Vai custar caro”! “Isto é capaz de dar uma chispa e pegar fogo na casa”! – que os técnicos também desistem de apregoar a sua utilidade, só que a partir de então, sob um novo argumento: - “O colono não precisa de energia elétrica, pois se tiver este melhoramento vai querer ver televisão e não vai querer trabalhar”!
Os industriais também não fogem à regra, vejamos o da indústria do pêssego, onde a pessoa jurídica apresenta um parque industrial praticamente obsoleto, com os mesmos equipamentos e produtos finais de 30 anos atrás, já a pessoa física é detentora de 150 imóveis, inclusive alguns de massas falidas de outros que incorreram no mesmo erro da falta de modernização industrial.
Outros exemplos poderiam ser tomados, no entanto, todos seguindo na mesma direção. Tais fatos têm prejudicado sobremaneira o desenvolvimento da Zona Sul, haja vista haver fazendas com 20.000 hectares com apenas quatro empregados. Ou até mesmo, o choque cultural em que se vêem os próprios filhos dos fazendeiros, que depois de formados, ficam obrigados a obterem empregos de balconistas por não encontrarem espaço ou ambiente de trabalho, não obstante a enorme área das fazendas de seus progenitores.
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