domingo, 24 de agosto de 2008

CARTA DE UNIÃO AO SR. JAKUBASZKO

CARTA DE UNIÃO AO SR. JAKUBASZKO

Magnífico o texto do sr. Richard Jakubaszko, publicado no www.agrolink.com.br no dia 18.08.2008, “Está tudo errado no agronegócio brasileiro!”. É claro e necessário, que não concordemos com tudo que ali está escrito, pois temos algumas divergências, mas segundo o nosso propósito e que já foi explicitado no título, o que importa é a premissa da união de esforços.
Temos procurado difundir as nossas teses, construídas nos mais de trinta anos de carreira profissional, muitas publicadas também pelo sítio Agrolink, no sentido da agregação de valor ao produto rural: - “VENDER ARROZ EM CASCA É COMO VENDER MILHO EM ESPIGA , e também “DESCASCAR ARROZ NÃO É INDÚSTRIA” - mas ainda um processo da produção (abater o boi, empacotar o leite, serrar a madeira etc., também não é), estimulando todos os agente a dar “UM PASSO À FRENTE NA COMERCIALIZAÇÃO DO ARROZ”.
Vemos que a proposta de união dos produtores, embora perfeitamente factível, com ricos exemplos país afora, é igual a uma relação de casamento, não se realiza por um decreto, requerendo primeiro o consentimento das partes. Mas esta relação também pode ser coordenada por um gestor de cadeia ou ainda nos sistemas integrados, como nos belos exemplos existentes no setor do frango e dos suínos, onde existem empresas que impressionam o mundo.
Corretíssimo está o sr. Jakubaszko, quando diz que os que investem em tecnologia para obter produtividade acima da média, também podem quebrar em anos ruins. Chegamos a mesma conclusão, quando divulgamos o texto “O ARROZ, SAINDO DO BASTANTÃO”, onde procuramos alertar que produzir bastante (quantidade), já não é suficiente, o importante é obter renda. Não dissemos na ocasião, mas o beneficiamento primário da produção fará com que o produtor não veja o dinheiro somente ao final de cada safra, tendo uma renda mensal como na produção de leite, melhorando o seu fluxo de caixa.
Quanto à exportação com valor agregado, também está com toda a razão, embora no artigo “O ARROZ, EXPORTAR É O QUE IMPORTA”, sem discordar no mérito, procuramos fazer ver aos produtores, que há outras etapas mais importantes a serem vencidas, estas com maior margem de contribuição ao agronegócio nacional, desviando dos “trustees”, que afetam e que ainda não foi, mas que pretendemos estudar.
Dinheiro não falta para os produtores, tem até sobrado para grandes imobilizações, na maioria das vezes desnecessárias e insustentáveis social e econômicamente, ao longo do tempo. Publicamos: - “A IMOBILIZAÇÃO DE CAPITAL COMO FATOR DE INSALUBRIDADE DAS EMPRESAS AGROPECUÁRIAS”.
Quanto às lideranças não há reparo nenhum, apenas acrescentando que político só diz o que o produtor quer ouvir, “pode deixar comigo, se eu me eleger eu vou fazer, vou ajudar, vão perdoar, vão prorrogar etc.”, não embarcam em onda que possa apresentar o mínimo risco de não chegar até à praia. Então, apresentar soluções concretas não dá voto, pois todos querem uma solução tirada da cartola, por isso tanta promessa. Publicamos: “ME ENGANA QUE EU GOSTO”.
Idéias novas é preciso. Dizem: Demência é tentar a mesma coisa, achando que vai se conseguir resultado diferente!
O sr. Jakubaszko disse: - É tempo de reinventar e de recriar. Escrevemos: - “O ARROZ, AINDA NA ERA DO ENGENHO”. É preciso sair do “chak-chak”, fazer novos produtos, sair do saquinho, transformar-se em uma indústria de alimentos. Dissemos, também: - “A produção deve se adequar aos novos tempos; Fazer pêssego em lata é como fabricar máquina de escrever; e, Novos produtos para um novo consumidor ou um velho produtor e um novo consumidor”.
Uma discordância importante se deu quando fomos ver o artigo sobre “A sustentabilidade do agricultor” no que se refere à velha cantilena do “sol-a-sol ou no dia-a-dia”, que, segundo Joaquim Severino em seu texto “BRASILEIROS RURAIS”, “desmistificar esta imagem é valorizar o agricultor”, devendo ser sustentável todos os elos da cadeia.
Não obstante toda essa produção técnica, obtivemos pouco retorno em resultados, levando-nos a acreditar que devemos introduzir no agronegócio novos profissionais, em especial, psicólogos, psiquiatras, sociólogos e outros profissionais do ramo.
Convém ainda citar, o ótimo livro que tivemos acesso há pouco, “Agronegócio: Gestão e Inovação/Luis Fernando Soares Zuin e Timóteo Ramos Queiroz... [et al.], que amplia, academicamente, o que estamos tratando. Polan Lacki (www.polanlacki.com.br), também segue em direção semelhante.
Esperamos ter atendido a conclamação incitada pelo sr. Jakubasko, deixamos o endereço www.josenei.blogspot.com com toda nossa trajetória profissional, acenando com a bandeira da união primeira entre nós, de Norte a Sul, doutrinadores do agronegócio. Que tal, senhores articulistas!

terça-feira, 22 de abril de 2008

O ARROZ, EXPORTAR É O QUE IMPORTA ?


ARROZ, EXPORTAR É O QUE IMPORTA?


Artigo publicado no site http://www.agrolink.com.br/, em 22.04.2008, www.arroz.agr.br e www.sonoticias.com.br/agronoticias .
A 18a. Abertura da Colheita do Arroz, realizada pela FEDERARROZ e IRGA foi monumental, conforme verificamos na visita que fizemos no domingo, 02.03.2008. A qualidade dos estandes, dos experimentos, da infra-estrutura, enfim, do calor humano dos denodados funcionários da autarquia estadual, que se desdobraram para bem receber as autoridades, produtores, técnicos e empresários, enfim, todos que para lá se dirigiram.
O que nos soou destoante em tão brilhante evento, foi o uníssono discurso das autoridades do Executivo, Legislativo e lideranças de classe, na direção da prioridade absoluta da exportação do arroz, como sendo uma panacéia para os problemas da falta de rentabilidade do setor. Foram, inclusive, anunciados os recursos necessários para a melhoria das instalações da CESA no Porto do Rio Grande para o fim mencionado.
O tema que estamos propondo é muito difícil, em vista do tamanho da empreitada em fazer um contraponto a essa avalanche, formada por este pensamento de grupo, porém não podemos nos omitir, visto que o tema é bastante sério, não obstante ainda que, na última semana, outras e maiores terem sido as notícias favoráveis à viabilidade da exportação do cereal.
Vários especialistas apregoam, ao longo do tempo, a pequena mobilidade do arroz nas transações no mercado internacional, que segundo a profa. Sílvia H. G. de Miranda (II Congresso Brasileiro da Cadeia Produtiva de Arroz realizada pela Embrapa em Brasília, de 26 a 28 de Abril/2006), atinge ao máximo de 5% a 7% da produção mundial. Já, o informe Inter@rroz, de fevereiro 2008, Patrício Mendez Villar, tendo como fonte USDA&FAO, projeta uma produção mundial de 645,7 milhões de toneladas (2008), uma produção de 642,2 milhões de toneladas (2007) e uma exportação e 30,3 milhões de toneladas (2007) ou 4,71% no ano que passou. O Informe da Corretora Mercado de 10.04.2008, citando a assessoria de mercado do IRGA, informa “...enquanto as exportações brasileiras não devem ultrapassar 250.000 toneladas”.
Temos proposto e exposto alternativas de agregação de valor para o aumento da rentabilidade do setor arrozeiro, de amplo conhecimento, perfeitamente viáveis e que já vêm sendo implementadas, porém ainda de forma incipiente, pois está faltando a mesma “força de venda”, que está sendo dada para a exportação do produto.
Não que esteja equivocada a atitude do setor, apenas estamos alertando que estão sendo despendidas energias consideráveis em uma direção que produzirá pequenos resultados e/ou de longo prazo, mesmo porque a exportação que já vem sendo trabalhada, há cerca de três anos, chegou a quantia de 295.000 toneladas, sendo em sua maior parte (71%) de arroz quebrado.
O fato que viceja neste propósito dentre os componentes da cadeia arrozeira é o de tomar uma direção que não desagrade a nenhum de seus agentes, isto é, ninguém se obriga a mudar ou inovar, postergando ações extremamente necessárias. Além do mais, não será o produtor o beneficiado, pois não é ele que estará exportando o produto e o setor não trabalha no sistema de integração. No caso da pecuária de corte, a rentabilidade em nível do produtor somente foi alcançada, quando houve a exportação do gado em pé, direto da fazenda, solução senão a mais adequada, mas a que propiciou a tão almejada renda que vige até hoje e que está obrigando os frigoríficos a repensarem suas atitudes na cadeia de produção.
Ainda comparando com a situação da pecuária, podemos relatar que participamos de nove reuniões realizadas na época de preços aviltantes e em todas elas, era apontado como o principal problema o “abigeato”, como não querendo encarar os principais problemas de frente (como agora no caso do arroz), “boxeando às cegas” contra um inimigo invisível e que, seguramente, não era o mais importante, mesmo que, de plano devesse ser repelido. Do mesmo modo, no setor de conservas de pêssego, atira-se na direção da “concorrência do produto importado”, para “esconder debaixo do tapete” as mazelas do setor, como ocorrem nos setores anteriormente citados.
Ao não ser apontado o melhor caminho a ser seguido, vão ficando “soldados” pelos caminhos, “emboscados” pela falta de renda de setores que poderiam ser extremamente ricos, perdendo renda os produtores, o país pela menor arrecadação e a população pela menor oferta de emprego.
Para que fique bem entendido, não estamos firmando posição contrária a exportação do arroz, apenas alertando que, o “esforço de venda”, deve concentrar-se em ações que precisam ser tomadas no setor arrozeiro e que trariam maior margem de contribuição, aumentando a renda do agronegócio arroz, em especial a do produtor.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A NEGOCIAÇÃO DO ARROZ A DEPÓSITO

A NEGOCIAÇÃO DO ARROZ A DEPÓSITO

Artigo publicado na revista Enfoque Sul, do NEA/UFPel, Lagoa Mirim, de maio de 2000, sob a coordenação do Dr. Alexandre Barun.

Ao aproximar-se o período da colheita e comercialização da safra de arroz 99/00, repete-se a conhecida celeuma produtor x indústria para o encaminhamento da negociação da fase de recepção, limpeza, secagem, armazenamento e beneficiamento da produção.
Esse momento agrícola, ao longo do tempo, não mereceu maior análise por parte do produtor que, tradicionalmente, não se preocupava com esta fase do empreendimento rural. Simplesmente, entregava a produção a depósito, sem um maior acompanhamento financeiro das conseqüências que este fato gerava. E, de outro lado, a indústria nunca se preocupou em repassar parte dos extraordinários ganhos que esta fase do agronegócio gera, a fim de garantir a sobrevivência do parceiro que viabiliza o seu negócio: a chamada “galinha dos ovos de ouro”, com o fim tão conhecido que teve na cadeia do pêssego, ora em reestruturação.
O risco de o arroz ter um fim semelhante ao do trigo, nos próximos dez anos, mantida a descapitalização do setor, também é apontado por Geraldo Pereira de Souza, Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel (CPovo, 27.12.99).
Desdobrando financeiramente o significado da entrega do arroz a depósito no engenho, que no primeiro momento pode significar “armazenagem de graça” para o produtor, pode-se encontrar uma série de valorizações que esta decisão gera, donde podem ser enumerados:
a) capital de giro sem custo, visto que o produto, não necessariamente, será guardado até a realização da venda;
b) compra do produto depositado por preço mais baixo do que a cotação do produto no mercado livre, visto que para retirá-lo, além do constrangimento que o fato produz, seguramente, caso isto venha a ocorrer, irá acarretar cobranças de taxas, não previamente estipuladas;
c) quando for adquirido o produto depositado, a aquisição será um procedimento meramente contábil, não se verificando despesas com fretes e corretagens;
d) como o engenho possui produto estocado e disponível para o beneficiamento, pode sair do mercado de compra, apenas o fazendo em condições bastante vantajosas, isto é, daqueles que se submetem ao preço oferecido;
e) se o produto for transformado em EGF (Empréstimo do Governo Federal), terá o ganho da taxa de armazenagem;
f) quando o produto for adquirido em leilão da CONAB, certamente o será por preço bem inferior ao de mercado.
Tantas valorizações tem o engenho com relação ao produto entregue a depósito, que este há muito mudou o foco de sua principal atividade, ou seja, do beneficiamento para o da compra e venda do cereal. Esta relação perversa tem contribuído para a perda de rentabilidade da lavoura orizícola, tornando-se, dentre outras, numa das razões da descapitalização do setor.
O produto de antemão comprometido com a indústria, impossibilita o produtor de ter acesso aos modernos mecanismos de comercialização agrícola, como os praticados nas Bolsas de Mercadorias, mercados de Opção, CPR e Leilão Eletrônico.
Caso não haja a visão da integração da cadeia produtiva como o já percebido por outros segmentos da agropecuária, não resta ao produtor outra alternativa, senão, via sistemas associativos ou de parcerias com setores mais a frente da cadeia, procurar livrar-se deste “amor fatal”.

VENDER ARROZ EM CASCA É COMO VENDER MILHO EM ESPIGA


VENDER ARROZ EM CASCA É COMO VENDER MILHO EM ESPIGA

Entrevista publicada na revista internacional de sementes SEED NEWS, Ano VI, n°2, Março/Abril de 2002, concedida ao Prof. Dr. Silmar Teichert Peske e ao Jornalista Miro Weirich, respectivamente Consultor Técnico e Editor da mídia referida.


A lembrança bem presente de uma prática de comercialização agrícola assistida na infância, reforça o conceito de engenheiro agrônomo José Nei Telesca Barbosa de que vender arroz em casca é um sistema que pode ser comparado a vender milho em espiga. Ele lembra que quando ainda era menino – há pouco mais de 40 anos – seu pai vendia milho em balaio, ainda na espiga, volume que depois de debulhado correspondia a 18 quilogramas. “Eram convenções antigas, que valiam para a época e eram bem aceitas. Só que houve uma evolução que, infelizmente, ainda não chegou para o arroz”, observa.
“Com o tempo, um vizinho da região adquiriu uma trilhadeira, e meu pai pagava certa quantia para trilhar e começou a vender o milho em grão. E, claro, ganhava um pouco mais vendendo o produto já debulhado, em sacos de 60 quilos”, descreve José Nei Barbosa para justificar a tese que já defendeu em artigos publicados na mídia nacional, favorável ao fim da negociação do arroz a depósito, em que o produtor simplesmente entrega a produção para beneficiamento, tornando-se refém dos engenhos e deixando de auferir, ele próprio, das vantagens financeiras de comercializar o produto já beneficiado, sem intermediários.
Segundo Barbosa, o momento da colheita e comercialização da safra acirra a cada ano a tradicional celeuma entre produtor e indústria em torno da negociação sobre recepção, limpeza, secagem armazenagem e beneficiamento da produção. De parte do produtor nunca houve um real acompanhamento financeiro das conseqüências da simples entrega do produto a depósito. De outro lado, a indústria nunca se preocupou em repassar parte dos extraordinários ganhos resultantes desta fase do agronegócio, “garantindo a sobrevivência do parceiro e viabilizando a atividade agrícola”.
“O engenho, por ter recebido grande quantidade de arroz dos produtores para a realização da secagem e armazenagem sai do mercado de compra, obtendo um capital de giro sem custos e comprando apenas em condições bastante vantajosas, ou seja, de produtores que se submetem ao preço oferecido. Por outro lado, o produto depositado, ao ser adquirido, constituirá uma aquisição meramente contábil, não contemplando despesas com fretes e corretagens. Se o produto for comprado nos leilões da CONAB, certamente o será por preço bem inferior ao de mercado, visto que esta operação é realizada para baixar os preços para o consumidor em períodos de pico”, adverte o entrevistado. Para inverter esse processo, surgem saídas como a armazenagem própria ou terceirizada, chegando-se à possibilidade que se tem mostrado ideal: a venda do arroz beneficiado (descascado e polido).
Há quinze anos envolvido no estudo da problemática do agronegócio, Barbosa pondera que esta nova situação impõe ao produtor o que chama de um novo paradigma ou um passo à frente na comercialização: ao invés de vender arroz em casca para o engenho, passar a vender o arroz já beneficiado para os supermercados ou para as grandes empresas que gerenciam a cadeia de produção (embalam e colocam o produto no mercado com a sua marca), mediante o pagamento a um beneficiador. “Isto faria com que o engenho voltasse a ganhar no beneficiamento e não na compra e venda do produto como se dá hoje”, argumenta.
“Hoje o orizicultor está muito especializado na produção, mas é preciso que saia de dentro da porteira, pois tanto ele quanto nós, técnicos, temos muito o que aprender no que se refere à comercialização”, afirma o agrônomo ao começar a demonstrar as implicações financeiras de se chegar ao mercado. O primeiro passo para comercializar o arroz beneficiado exigiu o estudo dos custos do beneficiamento e dos impostos a serem pagos até o produto chegar ao varejista, que até então significavam uma caixa-preta para os produtores. Este estudo concluiu que, aos preços de hoje, sobram ainda dez por cento ao produtor (representados por grãos inteiros, canjicão e quirela), permanecendo competitivo o seu preço final.
José Nei Barbosa pondera que a venda do arroz beneficiado diretamente pelo produtor exige a existência de um prestador de serviço com qualidade e a organização dos produtores, de forma a atender às exigências do mercado: qualidade, quantidade e regularidade de oferta. E, por fim, é necessário um sistema que aproxime o supermercadista do produtor.

Beneficiar não é industrializar

A tese que contraria a negociação do arroz a depósito é reforçada pelo conceito de que o beneficiamento seria ainda uma fase da produção e não da industrialização, pois não exige uma operação sofisticada, passando a indústria a dedicar-se à produção de alimentos pré-prontos, biscoitos e outros produtos à base de arroz. Esse conceito foi referendado em acórdão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de dezembro de 2000, em que um ministro, em seu parecer, considera que o beneficiamento de produtos feito pelos próprios agricultores não constitui processo industrial, entendido como o processo de transformação do produto. A decisão tem reflexos importantes no que diz respeito a imposto de renda e impostos – não perdendo a condição de pessoa física, IPI, PIS e COFINS não seriam cobrados.
“Se prevalecesse o entendimento contrário, o agricultor também seria considerado pessoa jurídica se preparasse e vendesse milho, soja e café, porque também nestes grãos se tira a palha e se separam os grãos quebrados e o farelo, sem a utilização de qualquer processo de transformação”, afirmou o ministro relator do recurso no STJ, lembrando que, após descascado, o arroz continua sendo arroz (inteiro ou quebrado) e é vendido “in natura”.
A Lei Complementar n° 16, que fundamentou o voto do ministro, define produto rural como aquele de origem vegetal ou animal que não passou por qualquer processo de industrialização, “ainda que haja sido submetido a processo de beneficiamento, destinado à preparação de matéria-prima para posterior processo de industrialização”.
“Essa decisão extrapola o meu raciocínio inicial, que comparava o arroz com o milho em espiga, pois afirma que o mesmo vale para qualquer produto de origem vegetal ou animal. Então, colocar o leite no saquinho também não pode ser considerado um processo industrial – a industrialização seria fazer o queijo, o yogurte. Matar o boi e simplesmente dividi-lo em pedaços também não seria. O STJ ampliou essa visão”, analisa Barbosa.
O especialista em agronegócios encerra fazendo uma estimativa sobre os lucros do orizicultor a partir deste conceito. Avalia que a despesa com o beneficiamento do produto (se o produtor não tiver equipamento próprio) representa seis a dez por cento, mas o fato de não entregar o arroz a depósito pode gerar uma receita extra de 20%., o que possibilita boa margem de negociação junto ao supermercado ou ao grande revendedor, tornando-o mais competitivo. “Ele pode ganhar 10% a mais e ainda dar um desconto equivalente ao comprador. E hoje essa margem pode representar a lucratividade que viabilize o negócio”, observa.
A venda do arroz já descascado e polido tem como resultado, portanto, um preço maior, gerando ainda renda sobre os sub-produtos (o farelo, a casca, o canjicão, o quebradinho).
Como a valorização do produto e o retorno financeiro decorrente, estão na dependência direta dos fatores como índice de impurezas, ponto de colheita e evitar a mistura de arroz verde com maduro, dentre outros cuidados, o resultado será a oferta de um produto de melhor qualidade. Já a indústria poderá sofisticar mais o produto, alargando cada vez mais o mercado, pois o arroz chegará à mesa do consumidor também na forma de pão, bolachas, chips...

quarta-feira, 12 de março de 2008

O ARROZ, "SAINDO DO BASTANTÃO"

O arroz, "saindo do bastantão”
Artigo novo, lançado aqui.
O título não é nenhum contraponto a letra da linda música gaúcha “Entrando no Bororé”. Na verdade, trata-se de um mote dado por um produtor de arroz, que já se deu conta do que vamos discorrer adiante.
Até agora, na produção orizícola, vem trabalhando-se, quase que unicamente para aumentar a quantidade produzida, seja através do aumento da área plantada ou do uso intensivo de tecnologias para a melhoria do índice de produtividade (maior produção por unidade de área).
Este esforço extraordinário de recursos e de ações, até então despendidos pelos organismos de pesquisa e assistência técnica, mesmo que já tenham sido atingidos patamares extraordinários de produtividade e de produção, não está resultando em melhoria da renda do produtor de arroz, antes pelo contrário, tem funcionado como um “tiro pela culatra”, visto que, uma maior produção oferecida a um consumidor, cada vez mais seletivo, tem se tornado um grande problema, pois se avolumam os estoques e os preços em contrapartida, tendem a ficar deprimidos.
Esta visão, eminentemente produtivista, tem até colocado em cheque o que se aprendeu na década de 70 e 80, com relação à economia de escala, que preconizava quanto maior a área plantada maior a rentabilidade, derivando daí os reis do arroz, da soja etc e que já restam poucos. No negócio agrícola, na maioria das vezes, quando se aumenta a área de produção, são exigidos outros investimentos, como em tratores, colheitadeiras, armazéns, galpões e outros itens, que dependendo da situação, podem reduzir a margem de ganho ou até mesmo, torná-la deficitária. Já, há algum tempo, além dos fatores produção e produtividade, para o orizicultor obter a tão almejada rentabilidade no seu negócio, estão sendo dele exigidas outras competências, como a redução dos custos de produção (aquisição de insumos, arrendamento, capital imobilizado), a produção de qualidade e/ou de produtos diferenciados e a melhor comercialização. Para a obtenção da qualidade do produto, são requeridas, além da qualidade intrínseca do produto, como aspecto, cor, sabor, padronização etc (que a cada momento estão sendo avaliados pelos consumidores), também os diferenciais que ele pode apresentar, ou seja, produção integrada, orgânica, cultivar diferente, rastreabilidade, dentre outros.
A melhor comercialização, além da conhecida lei da oferta e procura e do fator do orizicultor não estar premido pela necessidade urgente da venda, deverá se dar pela boa negociação, pelo beneficiamento primário da produção e pela atitude de vendedor ou da nova competência exigida de comerciante da sua produção. Este novo agricultor, agora empresário rural e comerciante, deverá sair da região da produção e buscar os mercados com maior potencial de consumo, aproximando-se dos atacadistas e supermercadistas e por que não, do próprio consumidor.
Ainda, convém ressaltar quanto ao aspecto qualidade e diferenciação do produto, cada vez mais os consumidores estão dispostos abrir o bolso e pagar mais em detrimento do fator quantidade, hoje premido pelas dietas alimentares, pela maior renda dos consumidores e pelas fartas campanhas publicitárias dos produtos concorrentes.
Este novo empresário agrícola, além do planejamento inerente às atividades internas da produção e da produtividade da sua lavoura, deverá desenvolver ou contratar as competências apontadas acima, mais a de controle de riscos internos e externos, de modo a assegurar a rentabilidade do seu negócio, como ocorre nos demais setores empresariais da economia brasileira.
Por fim, estas novas competências exigidas devem perpassar o ambiente interno da propriedade, atingindo o ambiente de relacionamento externo do produtor, como os organismos de pesquisa e assistência técnica, entidades governamentais, consultorias, lideranças rurais etc, de modo que num curto espaço de tempo, fique para trás a visão produtivista dominante, até então.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O ARROZ, AINDA NA ERA DO ENGENHO





Artigo publicado no jornal Diário da Manhã de Pelotas-RS e nos sites agropecuários www.sonoticias.com.br/agronoticias, em 15.10.2007; http://www.revistacultivar.com.br/, 19.11.2007; e, www.agrolink.com.br/colunistas, em 22.01.2008.


Há mais de sete anos, estamos divulgando aos quatro ventos, Brasil afora, em seminários agropecuários, palestras em universidades, em sítios da internet, na mídia escrita, televisiva e radiofonizada, a necessidade dos seculares engenhos de arroz passarem a atuar como indústria de alimentos.
A mudança preconizada, pressupõe a fabricação de outros produtos à base de arroz, como massas, biscoitos, “chips” e pães, sendo que nestes últimos, poderá conter até 30% de farinha de arroz, sem nenhuma modificação no aspecto ou sabor do tradicional “cacetinho” ou pão-de-padaria.
Recentemente, fomos surpreendidos com a notícia que o governo federal, quer reduzir os tributos na importação de trigo para a produção de farinha, para evitar o aumento da inflação, em face da escassez deste produto no mercado interno.
Além da remessa de divisas na importação de trigo, vemos a oportunidade, que está sendo desperdiçada pelos engenhos de arroz, em ocupar espaço no mercado, através da oferta de farinha de arroz para o fabrico do pão.
A não fabricação de farinha de arroz para suprir as necessidades do mercado, seja no pão ou para os demais produtos mencionados, demonstra a falta de competência tecnológica e comercial para atender a oportunidade que está aberta.
A maioria dos engenhos, por comodismo e falta de atitude empreendedora, deixa de buscar espaço no mercado, que está ávido por novos produtos, aumentando seus ganhos apenas para trás na cadeia de produção, isto é, mantém seus lucros com a redução do preço pago ao produtor.
A classe política, parlamentar e executiva, mesmo sabedora da situação vigente, tenta fazer leis que obrigam a adição de farinha de arroz no pão e a sua colocação na merenda escolar, como se o mercado funcionasse através de decretos.
Os poucos engenhos que estão assumindo a condição de indústria de alimentos, não mostram interesse em ocupar o espaço apontado, pois estão produzindo a farinha de arroz para ser veículo de complexos vitamínicos ou de cereais matinais, que resultam em produtos comerciais de alto valor agregado, não como seria no caso do pão, num produto de “consumo de massa”.
A adição de farinha de arroz ao pão, além da economia em divisas, seria fundamental para absorver até 30% da safra e alavancar o mercado do arroz, mantido hoje, às custas do aporte dos escassos recursos públicos.
O aumento da renda do produtor de arroz, somente virá, com o desenvolvimento de novos produtos para um consumidor cada vez mais “moderno”, precisando para isso, aos moldes do que ocorreu no setor de transportes de cargas, em que houve a incorporação dos novos conceitos de logística, os antigos engenhos adentrem na era da indústria de alimentação.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

AGRONEGÓCIOS - PRODUÇÃO DEVE SE ADEQUAR AOS NOVOS TEMPOS


AGRONEGÓCIOS – PRODUÇÃO DEVE SE ADEQUAR AOS NOVOS TEMPOS

Especialista defende que pêssego e arroz devem se adequar às modernas necessidades dos consumidores.
Entrevista concedida ao Jornalista Sérgio Turnes e publicada no semanário”Extra” de Pelotas-RS 06 a 12/08/06.

“Hoje em dia fazer pêssego em lata é como fabricar máquinas de escrever”. A provocativa afirmação é do Engenheiro Agrônomo e Advogado José Nei Telesca Barbosa, especialista em agronegócios. Ele defende, há algum tempo, que os principais produtos da região, como pêssego e arroz, devem se adequar aos tempos modernos. José Nei, que costuma realizar palestras sobre o tema e participar dos fóruns mais representativos do setor primário local, observa que todos os produtores devem, além de produzir, estar focados nas vendas e nas novas necessidades dos consumidores.
“A apresentação do pêssego não mudou”, aponta José Nei, lembrando que produtos como a cachaça do centro do país e o vinho de Caxias, que num passado recente eram muito primários, sem nenhum requinte ou sofisticação, hoje são artigos nobres e de exportação, devido exatamente ao progresso apresentado em termos de agregação de valor e embalagem.
Para o agrônomo, os consumidores podem não estar mais querendo a lata como forma de apresentação do pêssego. Ele diz que a praticidade, o conforto e a economia, são itens indispensáveis no mercado de hoje e que a antiga tecnologia de simplesmente colocar a fruta dentro da lata não atende mais ao consumidor moderno.
“Além disso temos a preocupação com a estética pessoal. A compota é um doce, que ajuda a elevar o peso”, observa. O suco da fruta seria uma opção à produção das tradicionais conservas, por ser um artigo muito mais prático de ser consumido. “Hoje em dia as crianças nem sabem descascar uma fruta. Temos de estar atento à realidade”.
José Nei frisa que, pela praticidade e até para não desperdiçar o alimento, os consumidores chegam a pagar um pouco mais por aquele produto que atenda às suas necessidades do momento. Ele recorda que uma pessoa sozinha não abrirá uma lata de compota de pêssego para seu exclusivo consumo.

Purê de pêssego:
Ao se deparar com um purê de maçã fabricado na Alemanha, o especialista questionou-se por que não produzir também o purê de pêssego. Foi em busca da receita e hoje é um defensor da iguaria, que pode ser feita em casa sem maiores dificuldades e poderia ser produzida em escala industrial, garante. “O purê pode ser consumido diretamente na forma de mussi ou usado em bolos, tortas ou receitas de carnes”, explica. O modo de fazer é simples: basta dar uma fervura rápida nos pedaços da fruta in natura, levá-los ao liquidificador e adicionar açúcar e farinha de maisena. Muitos já provaram e aprovaram, diz José Nei.

Massas de arroz:
O arroz é outro tradicional produto da região que, na análise do agrônomo, merece ter destinos novos e mais nobres que o simples saquinho do grão. Ele diz que a farinha do cereal pode ser usada na fabricação de biscoitos, bolachas, massas e por que não, salgadinhos tipo chips, tão apreciados pelas crianças.
“Não podemos ficar esperando que o governo apresente as soluções para as crises de cada setor”. Temos de vender os produtos e para tanto devemos nos relacionar melhor com os consumidores, ver o que eles estão querendo”, alerta.

domingo, 27 de janeiro de 2008

DESCASCAR ARROZ NÃO É INDÚSTRIA


Descascar arroz não é indústria
José Nei Telesca Barbosa
Engº.Agrº.- Advogado - MBA Agronegócios

(Artigo publicado nas revistas: Planeta Arroz, em maio de 2002; A Granja, em dezembro de 2004; no jornal Diário da Manhã de 13.12.2004; nos sites da internet:
www.sonoticias.com.br; www.portaldoagronegocio.com.br; www.arroz.agr.br; www.agrolink.com.br)

A partir do início do ano 2000 desenvolvemos a tese que “descascar o arroz não é um processo de industrialização”, mas sim, um processo da produção e cuja responsabilidade seria ainda do produtor.
Industrializar o arroz seria fazer biscoito bolacha, chips, isto é, transformar o produto. Para facilitar a compreensão, procuramos comparar com o milho, em que, quando éramos menino, há quarenta anos atrás, o nosso pai vendia milho em espiga e, quando um vizinho comprou uma trilhadeira, ele pagava um tanto pela trilha e vendia o milho em grão. Então, pudemos correlacionar, que “vender arroz em casca é a mesma coisa que vender o milho em espiga”. É um processo atrasado, que não evoluiu ficando semelhante ao da época em que se vendia o milho em espiga.
Quanto ao leque de opções na industrialização do arroz, também precisa evoluir, visto que se come pão até de batata, mas de arroz ainda não. Com a fabricação de outros produtos à base de arroz, o produto chegaria à mesa do consumidor não só na hora do almoço como hoje chega, nas formas de arroz branco, arroz com galinha ou arroz de carreteiro. O arroz teria o seu consumo ampliado como pão, biscoitos e cereais matinais na hora do café e através dos waflers e chips nos lanches e sobremesas.
Do mesmo modo podemos ampliar o raciocínio para o caso dos produtos pecuários, como no caso de pasteurizar o leite e colocá-lo dentro do saquinho, que também não é um processo de industrialização e sim, ainda um processo da produção. A industrialização é fazer queijo, yogurte, requeijão etc. Era considerado indústria quando um pasteurizador era um enorme de um equipamento, importado da Alemanha e bastante caro. Hoje, pelo preço de um carro médio o produtor de leite pode adquirir um equipamento completo e entregar embalado no saquinho para o consumidor. Abater o boi e dividi-lo em pedaços, picanha para um lado, costela para o outro, por este novo modo de ver o agronegócio, também não é industrialização, mas sim é, fazer a linguiça, o salame etc.
Claro que cada produtor não precisa ter o processo do beneficiamento só para si, mas dependendo do seu porte, ele pode ou adquirir os equipamentos em grupos, como nas associações e cooperativas ou via pagamento da prestação de serviços para terceiros.
No final do ano 2000, tivemos conhecimento de um acórdão do Superior Tribunal de Justiça, de uma lide entre a receita federal e produtores em que o fisco entendia que deveria considerar pessoa jurídica o produtor que beneficiasse arroz e que estabeleceu uma jurisprudência sobre o assunto, que estamos tratando. No acórdão referido o STJ teve o seguinte entendimento: “A operação, feita pelo próprio produtor, de descasque do arroz e separação dos subprodutos, tais como farelo, canjica e canjicão, não representa processo industrial. Com isso, o produtor (pessoa física) não se transforma em pessoa jurídica (empresa individual)”.
Agindo da forma que estamos preconizando, no caso do arroz, tem-se um estudo que o fato do produtor deixar de pagar um corretor para vender o arroz para o engenho, mais o lucro do engenho, obter valor pelos subprodutos e mais outro corretor para vender o produto para o supermercado, terá um acréscimo de 30% de renda no seu negócio. Poderá pagar de 6 a 10% pela prestação do serviço de beneficiamento, baixar 10% para o consumidor e ter um lucro de 10% na operação, o que poderá ser o percentual que está lhe faltando para viabilizar o seu negócio orizícola, nestes tempos de margens apertadas.
Até há pouco, o tema beneficiamento da produção não era estudado pelos técnicos, produtores etc., era considerado uma caixa preta. Todos sabem na ponta da língua o custo de produção para implantar a lavoura. Quantos sacos de adubo, de semente e de herbicida, quantas horas máquina para lavrar, discar e colher, porém ninguém estuda o quanto custa para beneficiar o produto, pagar os tributos e faze-lo chegar ao mercado consumidor.
O objetivo deste texto é propor uma mudança de atitude na cadeia de produção, mostrando que os processos mudaram, foram simplificados, devendo então, também serem mudados os conceitos desta fase do agronegócio, de modo que todos os agentes da produção dêem um passo à frente: - o produtor beneficiando a produção e fazendo-a chegar ao consumidor final e a indústria ampliando a possibilidade de transformação e de consumo dos produtos agrícolas, oferecendo outros atrativos a estes consumidores.

UM PASSO À FRENTE NA COMERCIALIZAÇÃO DO ARROZ

UM PASSO À FRENTE NA COMERCIALIZAÇÃO DO ARROZ

José Nei Telesca Barbosa
Engº Agrº, Advogado, MBA em Agronegócios

(Artigo publicado no Jornal Gazeta Mercantil, Caderno RS, em 13.11.2000)

À cerca de dois anos vem reunindo-se os produtores de arroz ligados a Sala Sul Agronegócios do Banco do Brasil de Pelotas para discutir a problemática da lavoura orizícola.
Como um Norte para estudar os problemas estabeleceu-se um consenso sobre a necessidade de aumentar a rentabilidade e reduzir os custos de produção dentro do quadro difícil, imposto pelas importações dos países do MERCOSUL, pelo avanço tecnológico obtido com a cultura no Brasil Central e pelos elevados custos internos da lavoura, aí incluídos o arrendamento, monocultura, alto valor imobilizado e dificuldades na comercialização.
Quanto ao aspecto da comercialização levantou-se inicialmente a hipótese “da entrega do arroz a depósito”, em que o engenho por ter recebido grande quantidade de arroz dos produtores para a realização da secagem e armazenagem, sai do mercado de compra, obtendo um capital de giro sem custos, permanecendo comprando apenas daqueles que precisam urgentemente de fazer algum dinheiro.
Dentro dessa premissa, passou-se a estudar saídas como a armazenagem própria ou terceirizada, chegando-se por que não a uma assertiva que pareceu factível – a venda do arroz beneficiado.
Esta nova situação impõe ao produtor um novo paradigma, ou seja: ao invés de vender arroz em casca para o engenho, passar a vender o arroz beneficiado para o supermercado, dando um passo à frente na cadeia, mediante o pagamento desse serviço a um beneficiador. Isto faria com que o engenho retornasse a ganhar no beneficiamento e não na compra e venda do produto como se dá hoje.
Para ilustrar melhor esta hipótese, foi traçado um paralelo com o que ocorria com o milho no passado, em que o produtor vendia milho em espigas e que passou a vender em grãos, mediante o pagamento de trilhadeira de terceiros. Assim, procurou-se comparar que a venda do arroz em casca é semelhante ao que se dava com a venda do milho em espigas. Evoluindo mais no raciocínio, poderá dizer-se que o beneficiamento seria ainda uma fase da produção e não da industrialização, haja vista que não exige tanta sofisticação na operação, passando a indústria a dedicar-se a produzir comidas pré-prontas, biscoitos, chips etc., à base de arroz.
O primeiro passo para comercializar o arroz beneficiado exigiu o estudo dos custos do beneficiamento e dos impostos a serem pagos até o produto chegar ao varejista, que até então, significava uma caixa-preta para os produtores. Este estudo chegou a conclusão que, aos preços de hoje, com o pagamento de cerca de 8% ao beneficiador (R$0,80/sc mais o farelo), ainda sobra outros 10% ao produtor (grãos inteiros, canjicão e quirela), permanecendo competitivo o seu preço final.
A venda do arroz beneficiado diretamente pelo produtor, exige a existência de um prestador de serviço com qualidade e a organização dos produtores para se ter os atributos exigidos pelo mercado - qualidade, quantidade e regularidade de oferta e, por fim, um sistema que aproxime o supermercadista do produtor.
O lançamento do Balcão Eletrônico pelo Banco do Brasil S/A, através do site www. agronegócios-e, proporcionou a aproximação que faltava entre a ponta da produção e a ponta do consumo, garantindo a realização dos negócios com a segurança do recebimento do pagamento pelo produtor e a da qualidade do produto adquirido pelo comprador.
Este passo à frente da cadeia da produção poderá se dar com outros produtos como o feijão, pêssego, milho etc. No entanto, para que este passo à frente seja dado, exige a tomada de uma nova atitude pelos produtores, não bastando achar boa a idéia aqui exposta, pois como técnico, a nossa parte já foi feita dando a idéia e os caminhos a serem seguidos - devem simplesmente, colocá-la em prática.

domingo, 6 de janeiro de 2008

A IMOBILIZAÇÃO DE CAPITAL COMO FATOR DE INSALUBRIDADE FINANCEIRA DAS EMPRESAS AGROPECUÁRIAS DA ZONA SUL DO RS

A IMOBILIZAÇÃODE CAPITAL COMO FATOR DE INSALUBRIDADE FINANCEIRA DAS EMPRESAS AGROPECUÁRIAS DA ZONA SUL DO RS

Artigo não publicado, escrito em 1999, como tarefa da disciplina de Análise Financeira do curso MBA Agronegócios da UFRGS/UFPel.

Ao longo do tempo os empresários da atividade agropecuária da Zona Sul do Rio Grande do Sul, carregam consigo a visão patrimonialista, ou seja, a tendência de imobilizar o lucro auferido no decorrer do exercício financeiro, ou até antes mesmo da sua realização, em investimentos fixos. Estes investimentos se dão, em sua maioria, na aquisição de bens imóveis, como terras, apartamentos, armazéns, ou bens móveis, como carros, camionetes, máquinas agrícolas etc.
O crescimento desmedido do ativo permanente das empresas resulta, em conseqüência, na diminuição do ativo circulante e, também, muitas vezes, no aumento significativo do passivo circulante, pois os recursos para as imobilizações, são oriundos do caixa ou do desvio de finalidade do empréstimo de capital de giro, proveniente do custeio agrícola, exigível em curto prazo.
A análise financeira deste tipo de gestão empresarial permite verificar a ocorrência da constante dependência de capital externo oneroso, suprido, muitas vezes, às taxas mais altas do mercado financeiro, para o financiamento dos déficits de caixa, como o dos cheques especiais ou da aquisição de insumos com prazo de pagamento por ocasião da colheita. Este último sistema de financiamento, recentemente foi atingido duramente pela variação cambial, que embora já fosse previsível, não houve forma do empresário com este tipo de visão, obter outra fonte de recursos. Tem-se, ainda, que a imobilização nestes investimentos fixos, gera a necessidade de mais capital de giro para custear as novas despesas decorrentes dos próprios bens que estão sendo adquiridos. Resumindo, há o aumento da necessidade de capital de giro para custear as despesas com as atividades já existentes e para as novas áreas ou bens que estão sendo incorporados ao processo produtivo.
A mera aplicação em bens imóveis também acarretará a diminuição de recursos para o investimento em novas tecnologias, que irão, com o passar do tempo, provocar a obsolescência dos sistemas de produção.
Esta visão patrimonialista, até há pouco, era corroborada por analistas financeiros, que enxergavam a solidez econômica das empresas pelo tamanho do seu ativo permanente, confrontando frontalmente, com o que se aprende, modernamente, qual seja, a saúde financeira da empresa está na razão direta do seu CAIXA e do seu LUCRO.
O Governo Federal instituiu recentemente, um programa para revitalizar o setor agropecuário, o PESA – Programa Especial de Saneamento de Ativos, que consiste, basicamente, no refinanciamento do passivo circulante das empresas agropecuárias, mediante a compra de um título no valor de 10% do saldo devedor, pago à vista, mais encargos financeiros de 8% a.a., calculado sobre o saldo devedor corrigido pelo IGPM, com um prazo de 20 anos. Para a maioria das empresas, esta proposta de solução, ainda assim, não deverá resolver o problema, podendo-se dizer mais, mantendo-se a visão imobilizadora de capital referida “ab initio” do texto, mesmo que fosse perdoada a dívida não resultaria em vida longa para estas empresas. Isto porque, terá que ser rompido tal conceito, partindo o empresário para o enxugamento do seu ativo permanente, de modo a colocá-lo em giro para produzir CAIXA. No entanto, a quebra deste paradigma, de forte tradição cultural, ainda está longe, pois há na região, a visão que, “quem está adquirindo patrimônio, está bem, e quem está vendendo, está mal”.
Além da quebra do paradigma, há a necessidade de profissionalização da atividade, através da contratação de bons gestores financeiros, gestores de produção e do ingresso de sócios capitalizados. Este modelo, ora preconizado, poderá ser encontrado mediante a fusão de empresas agropecuárias já existentes ou da parceria com segmentos da agroindústria ou das próprias redes atacadistas ou de distribuição de alimentos.