quarta-feira, 12 de março de 2008
O ARROZ, "SAINDO DO BASTANTÃO"
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
O ARROZ, AINDA NA ERA DO ENGENHO
Artigo publicado no jornal Diário da Manhã de Pelotas-RS e nos sites agropecuários www.sonoticias.com.br/agronoticias, em 15.10.2007; http://www.revistacultivar.com.br/, 19.11.2007; e, www.agrolink.com.br/colunistas, em 22.01.2008.
A mudança preconizada, pressupõe a fabricação de outros produtos à base de arroz, como massas, biscoitos, “chips” e pães, sendo que nestes últimos, poderá conter até 30% de farinha de arroz, sem nenhuma modificação no aspecto ou sabor do tradicional “cacetinho” ou pão-de-padaria.
Recentemente, fomos surpreendidos com a notícia que o governo federal, quer reduzir os tributos na importação de trigo para a produção de farinha, para evitar o aumento da inflação, em face da escassez deste produto no mercado interno.
Além da remessa de divisas na importação de trigo, vemos a oportunidade, que está sendo desperdiçada pelos engenhos de arroz, em ocupar espaço no mercado, através da oferta de farinha de arroz para o fabrico do pão.
A não fabricação de farinha de arroz para suprir as necessidades do mercado, seja no pão ou para os demais produtos mencionados, demonstra a falta de competência tecnológica e comercial para atender a oportunidade que está aberta.
A maioria dos engenhos, por comodismo e falta de atitude empreendedora, deixa de buscar espaço no mercado, que está ávido por novos produtos, aumentando seus ganhos apenas para trás na cadeia de produção, isto é, mantém seus lucros com a redução do preço pago ao produtor.
A classe política, parlamentar e executiva, mesmo sabedora da situação vigente, tenta fazer leis que obrigam a adição de farinha de arroz no pão e a sua colocação na merenda escolar, como se o mercado funcionasse através de decretos.
Os poucos engenhos que estão assumindo a condição de indústria de alimentos, não mostram interesse em ocupar o espaço apontado, pois estão produzindo a farinha de arroz para ser veículo de complexos vitamínicos ou de cereais matinais, que resultam em produtos comerciais de alto valor agregado, não como seria no caso do pão, num produto de “consumo de massa”.
A adição de farinha de arroz ao pão, além da economia em divisas, seria fundamental para absorver até 30% da safra e alavancar o mercado do arroz, mantido hoje, às custas do aporte dos escassos recursos públicos.
O aumento da renda do produtor de arroz, somente virá, com o desenvolvimento de novos produtos para um consumidor cada vez mais “moderno”, precisando para isso, aos moldes do que ocorreu no setor de transportes de cargas, em que houve a incorporação dos novos conceitos de logística, os antigos engenhos adentrem na era da indústria de alimentação.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
AGRONEGÓCIOS - PRODUÇÃO DEVE SE ADEQUAR AOS NOVOS TEMPOS
Especialista defende que pêssego e arroz devem se adequar às modernas necessidades dos consumidores.
Entrevista concedida ao Jornalista Sérgio Turnes e publicada no semanário”Extra” de Pelotas-RS 06 a 12/08/06.
“Hoje em dia fazer pêssego em lata é como fabricar máquinas de escrever”. A provocativa afirmação é do Engenheiro Agrônomo e Advogado José Nei Telesca Barbosa, especialista em agronegócios. Ele defende, há algum tempo, que os principais produtos da região, como pêssego e arroz, devem se adequar aos tempos modernos. José Nei, que costuma realizar palestras sobre o tema e participar dos fóruns mais representativos do setor primário local, observa que todos os produtores devem, além de produzir, estar focados nas vendas e nas novas necessidades dos consumidores.
“A apresentação do pêssego não mudou”, aponta José Nei, lembrando que produtos como a cachaça do centro do país e o vinho de Caxias, que num passado recente eram muito primários, sem nenhum requinte ou sofisticação, hoje são artigos nobres e de exportação, devido exatamente ao progresso apresentado em termos de agregação de valor e embalagem.
Para o agrônomo, os consumidores podem não estar mais querendo a lata como forma de apresentação do pêssego. Ele diz que a praticidade, o conforto e a economia, são itens indispensáveis no mercado de hoje e que a antiga tecnologia de simplesmente colocar a fruta dentro da lata não atende mais ao consumidor moderno.
“Além disso temos a preocupação com a estética pessoal. A compota é um doce, que ajuda a elevar o peso”, observa. O suco da fruta seria uma opção à produção das tradicionais conservas, por ser um artigo muito mais prático de ser consumido. “Hoje em dia as crianças nem sabem descascar uma fruta. Temos de estar atento à realidade”.
José Nei frisa que, pela praticidade e até para não desperdiçar o alimento, os consumidores chegam a pagar um pouco mais por aquele produto que atenda às suas necessidades do momento. Ele recorda que uma pessoa sozinha não abrirá uma lata de compota de pêssego para seu exclusivo consumo.
Purê de pêssego:
Ao se deparar com um purê de maçã fabricado na Alemanha, o especialista questionou-se por que não produzir também o purê de pêssego. Foi em busca da receita e hoje é um defensor da iguaria, que pode ser feita em casa sem maiores dificuldades e poderia ser produzida em escala industrial, garante. “O purê pode ser consumido diretamente na forma de mussi ou usado em bolos, tortas ou receitas de carnes”, explica. O modo de fazer é simples: basta dar uma fervura rápida nos pedaços da fruta in natura, levá-los ao liquidificador e adicionar açúcar e farinha de maisena. Muitos já provaram e aprovaram, diz José Nei.
Massas de arroz:
O arroz é outro tradicional produto da região que, na análise do agrônomo, merece ter destinos novos e mais nobres que o simples saquinho do grão. Ele diz que a farinha do cereal pode ser usada na fabricação de biscoitos, bolachas, massas e por que não, salgadinhos tipo chips, tão apreciados pelas crianças.
“Não podemos ficar esperando que o governo apresente as soluções para as crises de cada setor”. Temos de vender os produtos e para tanto devemos nos relacionar melhor com os consumidores, ver o que eles estão querendo”, alerta.
domingo, 27 de janeiro de 2008
DESCASCAR ARROZ NÃO É INDÚSTRIA
José Nei Telesca Barbosa
Engº.Agrº.- Advogado - MBA Agronegócios
(Artigo publicado nas revistas: Planeta Arroz, em maio de 2002; A Granja, em dezembro de 2004; no jornal Diário da Manhã de 13.12.2004; nos sites da internet: www.sonoticias.com.br; www.portaldoagronegocio.com.br; www.arroz.agr.br; www.agrolink.com.br)
A partir do início do ano 2000 desenvolvemos a tese que “descascar o arroz não é um processo de industrialização”, mas sim, um processo da produção e cuja responsabilidade seria ainda do produtor.
Industrializar o arroz seria fazer biscoito bolacha, chips, isto é, transformar o produto. Para facilitar a compreensão, procuramos comparar com o milho, em que, quando éramos menino, há quarenta anos atrás, o nosso pai vendia milho em espiga e, quando um vizinho comprou uma trilhadeira, ele pagava um tanto pela trilha e vendia o milho em grão. Então, pudemos correlacionar, que “vender arroz em casca é a mesma coisa que vender o milho em espiga”. É um processo atrasado, que não evoluiu ficando semelhante ao da época em que se vendia o milho em espiga.
Quanto ao leque de opções na industrialização do arroz, também precisa evoluir, visto que se come pão até de batata, mas de arroz ainda não. Com a fabricação de outros produtos à base de arroz, o produto chegaria à mesa do consumidor não só na hora do almoço como hoje chega, nas formas de arroz branco, arroz com galinha ou arroz de carreteiro. O arroz teria o seu consumo ampliado como pão, biscoitos e cereais matinais na hora do café e através dos waflers e chips nos lanches e sobremesas.
Do mesmo modo podemos ampliar o raciocínio para o caso dos produtos pecuários, como no caso de pasteurizar o leite e colocá-lo dentro do saquinho, que também não é um processo de industrialização e sim, ainda um processo da produção. A industrialização é fazer queijo, yogurte, requeijão etc. Era considerado indústria quando um pasteurizador era um enorme de um equipamento, importado da Alemanha e bastante caro. Hoje, pelo preço de um carro médio o produtor de leite pode adquirir um equipamento completo e entregar embalado no saquinho para o consumidor. Abater o boi e dividi-lo em pedaços, picanha para um lado, costela para o outro, por este novo modo de ver o agronegócio, também não é industrialização, mas sim é, fazer a linguiça, o salame etc.
Claro que cada produtor não precisa ter o processo do beneficiamento só para si, mas dependendo do seu porte, ele pode ou adquirir os equipamentos em grupos, como nas associações e cooperativas ou via pagamento da prestação de serviços para terceiros.
No final do ano 2000, tivemos conhecimento de um acórdão do Superior Tribunal de Justiça, de uma lide entre a receita federal e produtores em que o fisco entendia que deveria considerar pessoa jurídica o produtor que beneficiasse arroz e que estabeleceu uma jurisprudência sobre o assunto, que estamos tratando. No acórdão referido o STJ teve o seguinte entendimento: “A operação, feita pelo próprio produtor, de descasque do arroz e separação dos subprodutos, tais como farelo, canjica e canjicão, não representa processo industrial. Com isso, o produtor (pessoa física) não se transforma em pessoa jurídica (empresa individual)”.
Agindo da forma que estamos preconizando, no caso do arroz, tem-se um estudo que o fato do produtor deixar de pagar um corretor para vender o arroz para o engenho, mais o lucro do engenho, obter valor pelos subprodutos e mais outro corretor para vender o produto para o supermercado, terá um acréscimo de 30% de renda no seu negócio. Poderá pagar de 6 a 10% pela prestação do serviço de beneficiamento, baixar 10% para o consumidor e ter um lucro de 10% na operação, o que poderá ser o percentual que está lhe faltando para viabilizar o seu negócio orizícola, nestes tempos de margens apertadas.
Até há pouco, o tema beneficiamento da produção não era estudado pelos técnicos, produtores etc., era considerado uma caixa preta. Todos sabem na ponta da língua o custo de produção para implantar a lavoura. Quantos sacos de adubo, de semente e de herbicida, quantas horas máquina para lavrar, discar e colher, porém ninguém estuda o quanto custa para beneficiar o produto, pagar os tributos e faze-lo chegar ao mercado consumidor.
O objetivo deste texto é propor uma mudança de atitude na cadeia de produção, mostrando que os processos mudaram, foram simplificados, devendo então, também serem mudados os conceitos desta fase do agronegócio, de modo que todos os agentes da produção dêem um passo à frente: - o produtor beneficiando a produção e fazendo-a chegar ao consumidor final e a indústria ampliando a possibilidade de transformação e de consumo dos produtos agrícolas, oferecendo outros atrativos a estes consumidores.
UM PASSO À FRENTE NA COMERCIALIZAÇÃO DO ARROZ
José Nei Telesca Barbosa
Engº Agrº, Advogado, MBA em Agronegócios
(Artigo publicado no Jornal Gazeta Mercantil, Caderno RS, em 13.11.2000)
À cerca de dois anos vem reunindo-se os produtores de arroz ligados a Sala Sul Agronegócios do Banco do Brasil de Pelotas para discutir a problemática da lavoura orizícola.
Como um Norte para estudar os problemas estabeleceu-se um consenso sobre a necessidade de aumentar a rentabilidade e reduzir os custos de produção dentro do quadro difícil, imposto pelas importações dos países do MERCOSUL, pelo avanço tecnológico obtido com a cultura no Brasil Central e pelos elevados custos internos da lavoura, aí incluídos o arrendamento, monocultura, alto valor imobilizado e dificuldades na comercialização.
Quanto ao aspecto da comercialização levantou-se inicialmente a hipótese “da entrega do arroz a depósito”, em que o engenho por ter recebido grande quantidade de arroz dos produtores para a realização da secagem e armazenagem, sai do mercado de compra, obtendo um capital de giro sem custos, permanecendo comprando apenas daqueles que precisam urgentemente de fazer algum dinheiro.
Dentro dessa premissa, passou-se a estudar saídas como a armazenagem própria ou terceirizada, chegando-se por que não a uma assertiva que pareceu factível – a venda do arroz beneficiado.
Esta nova situação impõe ao produtor um novo paradigma, ou seja: ao invés de vender arroz em casca para o engenho, passar a vender o arroz beneficiado para o supermercado, dando um passo à frente na cadeia, mediante o pagamento desse serviço a um beneficiador. Isto faria com que o engenho retornasse a ganhar no beneficiamento e não na compra e venda do produto como se dá hoje.
Para ilustrar melhor esta hipótese, foi traçado um paralelo com o que ocorria com o milho no passado, em que o produtor vendia milho em espigas e que passou a vender em grãos, mediante o pagamento de trilhadeira de terceiros. Assim, procurou-se comparar que a venda do arroz em casca é semelhante ao que se dava com a venda do milho em espigas. Evoluindo mais no raciocínio, poderá dizer-se que o beneficiamento seria ainda uma fase da produção e não da industrialização, haja vista que não exige tanta sofisticação na operação, passando a indústria a dedicar-se a produzir comidas pré-prontas, biscoitos, chips etc., à base de arroz.
O primeiro passo para comercializar o arroz beneficiado exigiu o estudo dos custos do beneficiamento e dos impostos a serem pagos até o produto chegar ao varejista, que até então, significava uma caixa-preta para os produtores. Este estudo chegou a conclusão que, aos preços de hoje, com o pagamento de cerca de 8% ao beneficiador (R$0,80/sc mais o farelo), ainda sobra outros 10% ao produtor (grãos inteiros, canjicão e quirela), permanecendo competitivo o seu preço final.
A venda do arroz beneficiado diretamente pelo produtor, exige a existência de um prestador de serviço com qualidade e a organização dos produtores para se ter os atributos exigidos pelo mercado - qualidade, quantidade e regularidade de oferta e, por fim, um sistema que aproxime o supermercadista do produtor.
O lançamento do Balcão Eletrônico pelo Banco do Brasil S/A, através do site www. agronegócios-e, proporcionou a aproximação que faltava entre a ponta da produção e a ponta do consumo, garantindo a realização dos negócios com a segurança do recebimento do pagamento pelo produtor e a da qualidade do produto adquirido pelo comprador.
Este passo à frente da cadeia da produção poderá se dar com outros produtos como o feijão, pêssego, milho etc. No entanto, para que este passo à frente seja dado, exige a tomada de uma nova atitude pelos produtores, não bastando achar boa a idéia aqui exposta, pois como técnico, a nossa parte já foi feita dando a idéia e os caminhos a serem seguidos - devem simplesmente, colocá-la em prática.
domingo, 6 de janeiro de 2008
A IMOBILIZAÇÃO DE CAPITAL COMO FATOR DE INSALUBRIDADE FINANCEIRA DAS EMPRESAS AGROPECUÁRIAS DA ZONA SUL DO RS
Artigo não publicado, escrito em 1999, como tarefa da disciplina de Análise Financeira do curso MBA Agronegócios da UFRGS/UFPel.
Ao longo do tempo os empresários da atividade agropecuária da Zona Sul do Rio Grande do Sul, carregam consigo a visão patrimonialista, ou seja, a tendência de imobilizar o lucro auferido no decorrer do exercício financeiro, ou até antes mesmo da sua realização, em investimentos fixos. Estes investimentos se dão, em sua maioria, na aquisição de bens imóveis, como terras, apartamentos, armazéns, ou bens móveis, como carros, camionetes, máquinas agrícolas etc.
O crescimento desmedido do ativo permanente das empresas resulta, em conseqüência, na diminuição do ativo circulante e, também, muitas vezes, no aumento significativo do passivo circulante, pois os recursos para as imobilizações, são oriundos do caixa ou do desvio de finalidade do empréstimo de capital de giro, proveniente do custeio agrícola, exigível em curto prazo.
A análise financeira deste tipo de gestão empresarial permite verificar a ocorrência da constante dependência de capital externo oneroso, suprido, muitas vezes, às taxas mais altas do mercado financeiro, para o financiamento dos déficits de caixa, como o dos cheques especiais ou da aquisição de insumos com prazo de pagamento por ocasião da colheita. Este último sistema de financiamento, recentemente foi atingido duramente pela variação cambial, que embora já fosse previsível, não houve forma do empresário com este tipo de visão, obter outra fonte de recursos. Tem-se, ainda, que a imobilização nestes investimentos fixos, gera a necessidade de mais capital de giro para custear as novas despesas decorrentes dos próprios bens que estão sendo adquiridos. Resumindo, há o aumento da necessidade de capital de giro para custear as despesas com as atividades já existentes e para as novas áreas ou bens que estão sendo incorporados ao processo produtivo.
A mera aplicação em bens imóveis também acarretará a diminuição de recursos para o investimento em novas tecnologias, que irão, com o passar do tempo, provocar a obsolescência dos sistemas de produção.
Esta visão patrimonialista, até há pouco, era corroborada por analistas financeiros, que enxergavam a solidez econômica das empresas pelo tamanho do seu ativo permanente, confrontando frontalmente, com o que se aprende, modernamente, qual seja, a saúde financeira da empresa está na razão direta do seu CAIXA e do seu LUCRO.
O Governo Federal instituiu recentemente, um programa para revitalizar o setor agropecuário, o PESA – Programa Especial de Saneamento de Ativos, que consiste, basicamente, no refinanciamento do passivo circulante das empresas agropecuárias, mediante a compra de um título no valor de 10% do saldo devedor, pago à vista, mais encargos financeiros de 8% a.a., calculado sobre o saldo devedor corrigido pelo IGPM, com um prazo de 20 anos. Para a maioria das empresas, esta proposta de solução, ainda assim, não deverá resolver o problema, podendo-se dizer mais, mantendo-se a visão imobilizadora de capital referida “ab initio” do texto, mesmo que fosse perdoada a dívida não resultaria em vida longa para estas empresas. Isto porque, terá que ser rompido tal conceito, partindo o empresário para o enxugamento do seu ativo permanente, de modo a colocá-lo em giro para produzir CAIXA. No entanto, a quebra deste paradigma, de forte tradição cultural, ainda está longe, pois há na região, a visão que, “quem está adquirindo patrimônio, está bem, e quem está vendendo, está mal”.
Além da quebra do paradigma, há a necessidade de profissionalização da atividade, através da contratação de bons gestores financeiros, gestores de produção e do ingresso de sócios capitalizados. Este modelo, ora preconizado, poderá ser encontrado mediante a fusão de empresas agropecuárias já existentes ou da parceria com segmentos da agroindústria ou das próprias redes atacadistas ou de distribuição de alimentos.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
E CAIU O RESTAURANTE...
Artigo não publicado na imprensa, no período do período 1994-2000, abordado no
Não faz muito, ocorreu em Pelotas, o desabamento de um prédio onde funcionava um conhecido restaurante, que só não se transformou em uma enorme tragédia, por não ser hora de funcionamento.
O fato nos proporcionou a seguinte reflexão: - que, em nossa região, a maioria dos habitantes não pinta, não reforma, tampouco constrói novos prédios, só vão escorando, quando vê, estes caem.
Estes prédios escuros, mofados e quase caindo, provocam nas pessoas, desânimo e falta de entusiasmo, e em nada contribuem para movimentar a economia local. Não ganha com isto, o pintor, o pedreiro, o comerciário e nem o dono da loja de material de construção. Existem prédios incendiados, em pleno centro da cidade, há mais de vinte anos, que continuam somente no esqueleto carbonizado. Outras casas e sobrados velhos, tem suas portas e janelas obturadas com tijolos e lá permanecem à espera de valorização. Fechados também, ficam apartamentos no aguardo de alguém que pague aquilo que eles não valem, eis que um apartamento aqui, vale entre 1,5 a 2 vezes mais do que em Porto Alegre ou em qualquer outra cidade do Estado.
Todos sabemos, aqui o dinheiro só serve para especulação em aplicações financeiras, imobilizações improdutivas (terras, casas velhas e terrenos baldios), ou no comércio especulativo (imobiliárias, estacionamentos, revendas de automóveis usados etc.).
Temos questionado porque nossos poucos empreendedores não reaplicam os lucros obtidos na modernização dos seus próprios negócios. Vamos tomar como exemplo, o caso do profissional liberal que vai para o interior e começa a ganhar dinheiro no seu consultório ou escritório. Ao invés de reaplicar os lucros obtidos na modernização de suas clínicas ou em aquisições de aparelhagens mais sofisticadas (eletrocardiógrafos, tomógrafos computadorizados, fax, computadores etc.). Não! Compram terras e viram fazendeiros. Temos como exemplo, o acidente sofrido por um bancário de Pinheiro Machado, que resultou em uma luxação no braço, precisando fazer aplicações com raio infravermelho, tinha que se deslocar duas vezes por semana a Pelotas para realizar o tratamento, pois tal aparelho não existia em sua cidade, isto que o equipamento deve custar pouco mais de trezentos reais.
Do mesmo modo, o lucro destas atividades profissionais poderia ser investido na realização de viagens de estudo, seja em São Paulo, Estados Unidos ou na Europa. No entanto, isto também não ocorre, geralmente os fins-de-semana são dedicados a pescarias ou caçadas de tatu em Piratini.
Por fim, são tantos os exemplos, em todos os campos de negócios, que entendemos estar na hora de fazermos uma profunda reflexão como forma de sairmos do atraso em que nos encontramos, quando comparados com outras regiões. E se observarmos com atenção, sem o intuito de fazermos mau prenúncio, outros tantos prédios estão a ruir, como ocorreu com o restaurante.