Faculdade de Filosofia de Pelotas
Curso de Bacharelado em Filosofia.
Trabalho de Conclusão de Curso
A Intuição no Processo de Conhecimento
José Nei Telesca Barbosa
Pelotas, 2018
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José Nei Telesca Barbosa
A Intuição no Processo de Conhecimento
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para a Graduação em Filosofia, na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Filosofia.
Orientador: Prof. Dr. Clademir Araldi
Acadêmico: José Nei Telesca Barbosa
Pelotas, 2018
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Resumo
BARBOSA, José Nei Telesca. A Intuição no Processo de Conhecimento. 2018. Xxf. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Filosofia. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2018.
Esse trabalho tem o objetivo de trazer à luz o Método Intuitivo como uma forma de apreensão do conhecimento a partir do embasamento teórico do filósofo francês Henri Bergson. A inquietação do autor desse trabalho em sua vida prática, voltada às questões da tecnologia em agronomia, levou-o a ingressar no curso de filosofia para a obtenção de respostas às suas indagações, que haviam sido compiladas em um livro sobre temas suscitados na sua vida profissional, nos decorrer dos últimos trinta anos. São dois os pressupostos básicos levantados no trabalho: a)O que leva ao acerto de proposições formuladas que ainda não estão sendo contempladas pelo método científico? b)Como o pensamento é capaz de produzir conhecimento sem que o autor desse pensamento tenha a informação de que a solução desse problema já possa existir em outro local muito distante dali? O próprio encontro com a obra do autor já foi enigmático, colocando-o em contato com o grande filósofo francês Henri Bergson, Prêmio Nobel de Literatura, que traz todas as respostas para essas indagações. Além do que a possibilidade da validade e divulgação do Método Intuitivo poderá trazer avanços rápidos ao conhecimento e contribuir para o progresso social e econômico aos países periféricos como o Brasil.
Palavras-Chaves: método intuitivo; conhecimento; pensamento; progresso econômico.
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Sumário
Introdução ................................................................................................ 04
1 O Método Científico ou Experimental .................................................... 09
2 A Intuição no Processo de Conhecimento ............................................ 11
2.1 O que é a intuição? .................................................................................. 11
2.1.1 Gramatical ................................................................................................ 12
2.2 Na Filosofia a palavra é empregada como ............................................ 12
2.2.1 Intuição filosófica .................................................................................... 12
2.2 Insight ....................................................................................................... 12
3 O Método Intuitivo em Henri Bergson .................................................... 14
3.1 A intuição bergsoniana ........................................................................... 15
3.2 Metafísica x Ciência e a criatividade do povo brasileiro ...................... 19
3.3 O pensamento está no campo das frequências .................................... 20
3.4 Um exemplo vivenciado .......................................................................... 23
3.5 Metafísica e Ciência ................................................................................. 25
3.6 Outras diferenças entre ciência e intuição ............................................ 29
3.6.1 Conhecer x Pensar x Simpatizar ............................................................ 29
3.6.2 Análise e Intuição .................................................................................... 29
3.6.3 Absoluto x Infinito ................................................................................... 30
3.6.4 Intuição e a frequência do pensamento ................................................. 30
3.6.5 A filosofia em Bergson, Ciência ou Metafísica? ................................... 33
3.6.6 Filosofia e Ciência ................................................................................... 33
3.6.7 O Método Intuitivo ................................................................................... 34
3.6.8 O projeto de pesquisa em Filosofia ....................................................... 35
Considerações Finais .............................................................................. 37
Referências Bibliográficas ...................................................................... 40
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Introdução
A elaboração do Trabalho de Conclusão do Curso - TCC é, talvez, um dos períodos mais importantes na graduação do aluno do Bacharelado em Filosofia, visto que no durante a graduação passou por momentos extremamente importantes e variados no processo do aprendizado. E aqui, nesse momento tem que escolher um tema que sintetize o que de mais marcante ficou registrado na sua vida acadêmica.
Durante todo o curso teve-se o contato com importantes conteúdos de natureza filosófica , que contemplaram o estudo de filósofos antigos, modernos e contemporâneos. Todos trouxeram uma gama grande de conhecimentos a partir das suas inquietações filosóficas, que foram pensadas ao longo da história da humanidade e, muitas delas, sem uma definição, da origem de própria existência da filosofia.
Diante disso, dentro deste vasto mundo filosófico escolher o tema a ser estudado para a graduação em bacharelado é uma tarefa bastante difícil, mas ao cursar a disciplina de Filosofia da Religião, teve-se o contato, primeiro com o “Warranted” em Alvin Plantinga e, depois, com o “Insight” do Padre Bernard Lonergan, tendo sido o fator decisivo para exercer a opção em definir o tema pelos estudos dos aspectos relacionados aos estudos da mente e a formação do conhecimento.
Com a formação anterior de engenheiro agrônomo, diplomado pela Faculdade de Agronomia “Eliseu Maciel” da UFPel em 1975 e já tendo desenvolvido experiência profissional nas atividades de extensionista rural e assistência técnica e, noutra oportunidade, na área bancária, em fomento e análise financeira de projetos rurais, sempre em contato com o público, teve-se uma curiosidade enorme em entender o comportamento humano e como se dá a aquisição do conhecimento.
Também colaborou na escolha do tema para o trabalho de conclusão o exercício dalguma atividade profissional, em menor escala, mas da mesma forma com uma intensa observação, no trabalho de advocacia relacionado à formação em
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direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas – UFPel, em 1998.
No último semestre, teve-se um momento de grande impacto na graduação da filosofia através da disciplina de Seminários de Estudos da Metafísica, ministrada pelo Professor Luis Rubira, que tratou do estudo dos fragmentos do poema do filósofo Parmênides em que o mestre fez a afirmação com base na sua especialidade em Nietzsche, defendendo a ideia de que o autor do poema não deveria ser denominado de pré-socrático diante da essencialidade da sua obra.
Parmênides da Escola Eleática, juntamente com Heráclito da Escola Jônica, em verdade foram os que vincularam o uso do pensamento como um instrumento da filosofia. Já, os socráticos, que os seguiram, iniciaram a utilizar o engessamento do pensamento dentro de um método rígido de pensar, como no caso da maiêutica de Sócrates, nos diálogos de Platão ou na lógica Aristotélica.
No entanto, ainda no período socrático se encontra alguma menção a metafísica e ao pensamento filosófico em Platão, quando este faz referência a Teoria das Ideias. Nela, Platão afirma a existência do conhecimento captado pelos “olhos da alma”, o ser não visível, incorpóreo, diferentemente do mundo sensível, físico, inteligível e corpóreo.
O salto fundamental de Platão tornou-se possível por meio da “segunda navegação”: as formas ou Ideias platônicas são o originário qualitativo imaterial, são realidades de caráter não físico, mas metafísico. Escreve justamente Friedländer: “Platão possuía {...} o olho plástico do heleno, um olho de natureza igual à daquele com o qual Policleto viu o cânon {...}; e igualmente, da mesma natureza daquele que o matemático grego dirigia às puras formas geométricas”. Poderia parecer que Platão fosse consciente desse dom que lhe coube em sorte mais do que a outros pensadores {...}. A prova dessa consciência está no fato de que é justamente a Platão que remonta a criação das expressões “a visão da mente”, “a visão da alma”, para indicar a capacidade da inteligência para pensar e captar a essência.
Portanto, a analogia é clara: as coisas que captamos com os olhos do corpo são formas físicas; as coisas que captamos com “o olho da alma” são, ao contrário, formas não-físicas: o ver da inteligência capta formas inteligíveis que são, exatamente essências puras. As Ideias são as essências eternas do bem, do verdadeiro, do belo, do justo, e assim por diante, que a inteligência, quando se pretende no máximo da sua capacidade e se move na pura dimensão do inteligível, consegue “fixar ou ver” (REALE, 1994, p.63).
No período subsequente com o advento da era Cristã tivemos a dominação do pensamento a partir das ideias da revelação em que todas as explicações passaram a ter sua origem na criação.
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Nesse período, a Filosofia é vista de forma ambivalente. De um lado, por conta das “verdades reveladas” pela mensagem cristã, que exigem uma adesão incondicional e, de certa forma, até mesmo dispensam a razão para a sua compreensão, via-se na Filosofia uma “inimiga da fé”, na medida em que, precisamente, por causar a dúvida, insatisfação e curiosidade entre os homens, ela seria perigosa para a difusão da doutrina cristã. De um lado estavam os que compreendiam que a Filosofia poderia ser de grande valia com seus ensinamentos e, até mesmo, ser útil com seus métodos de argumentação e raciocínio como preparação para uma compreensão mais profunda da fé (REALE, 1994, p. 63).
Com o Renascimento e o advento da reviravolta Copernicana no século XVI, houve a introdução da ciência experimental e a dessacralização do mundo dando-se a ampliação das possibilidades do conhecimento, tendo surgido novos métodos ou formas para esse acontecimento. Com o desenvolvimento das grandes ciências teve-se a supremacia dos aspectos científicos, que passou a dominar as teorias do Conhecimento. Descartes com o Discurso do Método lançou as bases do método científico moderno. Nesta obra Descartes apresenta o seu método de raciocínio “Penso, logo existo”, que é a base da sua filosofia e do futuro racionalismo científico.
A ciência neste período através de Lagrange e Laplace considerou mesmo a existência de Deus como uma hipótese desnecessária para seus cálculos físicos e matemáticos, pois entendiam que a matemática estava dentro da natureza e com ela poderiam resolver tudo, sendo para eles o cálculo uma linguagem da natureza.
Na nova ciência não há lugar para explicações que recorram a causalidade divina, como ocorria na antiga astronomia, em que se admitia que o movimento das esferas celestes era impulsionado pelo Primeiro Motor Imóvel, ou seja, Deus.
A ciência é secularizada, laicizada, o que significa justamente abandonar a dimensão religiosa que permeia todo o saber medieval. Galileu separa razão e fé, buscando a verdade científica independente das verdades reveladas (F.I.F, p.151).
Segundo ensinamentos do Prof. Angelo Marinucci da disciplina de Filosofia da Matemática, os filósofos da época depositavam toda a confiança nos Cálculos Algébricos, para a solução dos problemas, mas se não houvesse solução naquele momento, entendiam que, seguramente, haveria no futuro, o surgimento de outros especialistas no cálculo, que iriam encontrar a solução.
Devemos considerar o estado presente do universo como o efeito de seu estado anterior e como a causa do que vai se seguir. Uma inteligência que, um dado instante, conhecesse todas as forças que animam a natureza e a situação respectiva dos seres que a compõem, e, além disso, fosse suficientemente ampla para submeter todos esses dados à análise, compreenderia na mesma fórmula os movimentos dos maiores corpos do
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Universo e aqueles do mais leve átomo; nada lhe seria incerto, e o futuro bem como o passado estariam presentes em seus olhos (LAPLACE, 2010, p.42-43).
Nesse mesmo período histórico, Poincaré através da sua Teoria do Caos, passou a afirmar que alguns fenômenos, não podem ser previsíveis e que por causas mínimas podem alcançar resultados completamente imprevisíveis.
Uma causa mínima que escapa de nós determina um efeito notável, do qual não podemos não perceber... Se conhecêssemos com precisão as leis da natureza e o estado do universo no instante inicial, poderíamos prever qual será o estado deste universo mesmo no instante seguinte. Porém, mesmo se as leis naturais não tivessem mais segredos para nós, poderíamos conhecer o estado inicial só aproximativamente. Se isso permite de conhecer o estado seguinte com a mesma aproximatividade, não precisamos de nada mais e afirmaremos que o fenômeno foi previsto, que existem leis que o dirigem. Porém, não é sempre assim: pode acontecer que pequenas diferenças nas condições iniciais produzam diferenças grandíssimas nos fenômenos finais; um pequeno erro a respeito das primeiras produziria, então, um erro enorme a respeito destes últimos. A previsão se tornaria impossível, estamos em frente de um fenômeno fortuito (POINCARÉ–MARINUCCI, 2006, p. 107-108).
Da citação acima, se pode inferir que os estudos baseados exclusivamente na ciência também estão sujeitos ao erro, quando houver alguma causa acidental, que não havia sido prevista ou que tenha sido desconsiderada no cálculo, em virtude do corte necessário do último número, exigido para realizar o fechamento de uma dízima periódica, por exemplo, em sua centésima casa após a vírgula. Esse fato será muito importante quando forem apresentadas, ao final deste trabalho de conclusão do curso as diferenças entre a ciência e o método intuitivo.
Entrando nos séculos XX e XXI a ciência continua a dominar as correntes do pensamento, inclusive em relação ao estudo da Filosofia para a qual quer estabelecer estudos científicos para se equiparar às demais ciências, como no caso das pesquisas em neurociências e no mapeamento cerebral através de aparelhos de Eletro Encefalograma.
Esse engessamento maior ainda da Filosofia, agora não mais com a criação de um método de pensamento, mas até mesmo com a sua vinculação a maquinários e equipamentos irá subjugar o pensamento ligando-o a programas de computador, cálculos estatísticos e algoritmos.
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Sem entrar propriamente no mérito deste novo uso da Filosofia, parece que é um desvirtuamento maior da finalidade da mesma, sempre tão preocupada com a verdade e a emancipação do ser humano. Sem dúvida, que a Filosofia tem que conviver com outras ciências, mantendo, porém a sua capacidade pura e múltipla do pensamento, trazendo luzes na busca de novos entendimentos de modo que contribua para a evolução integral do homem. Mas, sem colocar o pensamento dentro de um engessamento, ainda com maior rigor do que o do período socrático, da dialética e da lógica aristotélica.
A partir dessa análise inicial em que houve um longo período histórico de cerca de dezenove séculos desse aprisionamento do pensamento aos dogmas criados pelo homem, procurou-se amadurecer um tema que já se vinha perseguindo, qual seja o da independência do pensamento através da liberação da intuição e a colocando como um método válido e reconhecido perante os homens. Essa é, portanto a origem ou o nascimento deste Trabalho de Conclusão do Curso.
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1 O Método Científico ou Experimental
Como foi citado no item 1, desde o período antigo há um propósito de separar o conhecimento do senso comum ou do mito, sendo que em Sócrates, se busca a definição ou o estabelecimento de conceitos para atingir a essência das coisas. A própria “maiêutica” foi um método utilizado por Sócrates para extrair o conhecimento existente em todo o ser humano para fazê-lo “parir” a verdade a partir de uma bateria de perguntas e respostas.
Também Platão já mostrava o caminho da educação para o sábio, que deveria se transportar da opinião para o conhecimento. No entanto, foi na Idade Moderna, no século XVII com Descartes, que seguiu rigorosamente o caminho, sendo que o método que ele estabeleceu começava por duvidar de tudo, até chegar ao indubitável.
Nesse período, também Galileu teoriza sobre o método científico, tendo provocado uma verdadeira revolução e também, nesse momento, a ciência rompe com a filosofia, saindo na busca do seu próprio caminho.
O Método Científico ou Experimental passa por diversas etapas, a começar pela observação, hipótese, experimentação, lei e teoria.
Segundo Descartes em seu método, tem-se a separação dualística do homem “como constituído por duas substâncias: uma de natureza espiritual, a substância pensante (a res cogitans) e, a outra, de natureza material (a res extensa)”. Apenas a “res extensa”, que diz respeito ao corpo, que pode ser submetida às leis da natureza ou da ciência. Já a “res cogitans” que diz respeito à natureza do pensamento somente poderia ser objeto da reflexão filosófica.
Hoje, se sabe por inúmeros exemplos, que mesmo o Método Científico utilizado em seu máximo rigor em suas fases está sujeito a erros de interpretação pela subjetividade do cientista, ainda existente ou pelo que já se conhece a partir da citação de Poincaré sobre a teoria do Caos. Nela, o grande matemático francês fala sobre a possibilidade de pequenos cálculos desconsiderados em uma das fases da pesquisa, que podem gerar resultados completamente diferentes do esperado inicialmente.
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Mas, com todas essas possibilidades de erro as ciências físicas e até mesmo as ciências humanas passaram a usar o método científico, tendo granjeando grande credibilidade entre os homens.
Até pode-se acrescentar que ao citar uma fonte de pesquisa sobre determinado assunto poucos vão duvidar de tal informação, servindo até como impedimento para a exceção da verdade, passando por ignorante quem faz tal questionamento.
Isso se prolongou com força a partir do Século XVII até os dias de hoje, fazendo com que seja inquestionável aquele que subsidiar sua tese fazendo referência a tal pesquisa científica.
Aqui não se quer contraditar ou desmerecer o trabalho da ciência e de seu Método Experimental, a não ser clarear a situação relegada que ficou a outra banda do ser humano, qual seja a sua capacidade pensante, que ficou a reboque da ciência da natureza.
E a Filosofia seguiu nesse ritmo querendo encontrar seu método semelhante ao utilizado pela ciência, mas que está a carecer de credibilidade, ficando o filósofo ou o estudioso da Filosofia confinado em seu saber para a função de professor ou de pesquisador em sua área. Essas duas possibilidades, mesmo de alto valor, não dá ainda a devida dimensão ao que a Filosofia pode trazer ao crescimento do homem e das demais ciências da natureza.
Além disso, praticamente exclui o pesquisador ou o estudante da filosofia das agências financiadoras de bolsas ou projetos de pesquisa, pois suas formas de análise são estabelecidas de acordo com os parâmetros fixados para as ciências em seu Método Científico. Daí, a própria importância desse trabalho para o reconhecimento da filosofia como detentora de um método independente das demais áreas do conhecimento e para que não seja preterida nessa possibilidade de financiamento.
De outro lado, tem-se a questão da necessidade do reconhecimento da Filosofia, não enquanto comparada às demais ciências e sim, de forma independente e de tanta utilidade quanto elas.
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2 A Intuição no Processo de Conhecimento em Henri Bergson.
No Processo de Conhecimento sempre somos intrigados pelo fato de tentarmos determinar onde ele tem o seu início. Nos aspectos históricos relacionados na introdução desse trabalho, viu-se que ao longo desse período houve várias formas de determinar a sua ocorrência, mas que nos últimos três séculos teve a predominância majoritária do Método Científico. Ao longo da carreira profissional, especialmente devido à função exercida nas atividades da engenharia agronômica e que transitava frequentemente entre a ciência e o senso comum, começou-se a estabelecer uma nova visão para a origem do conhecimento.
Nas aulas de Filosofia da Linguagem passou-se a incluir a proposição da existência do Método Intuitivo, a qual era descartada a validade da sua existência.
Não obstante tal informação continuava-se insatisfeito quanto à impossibilidade da existência do Método Intuitivo. Eis que, em uma conversação na Noite de Natal, durante a ceia, obteve-se como referência a obra do autor Henri Bergson, a qual ainda não se tinha nenhum conhecimento sobre a mesma, imediatamente passou-se a estudá-lo e viu-se que o método empregado por Bergson era justamente o que faltava para embasar como válidas, as afirmações efetuadas nos mais de trinta e oito artigos publicados na área de agronomia.
Nesses textos produzidos na carreira de engenheiro agrônomo, que se vai discorrer mais adiante, sobrevinha a ideia de que os mesmos tinham origem em outra fonte do conhecimento, haja vista que não possuíam como único embasamento o método científico ou até mesmo, o contrariava ou o levava a sua ampliação.
2.1 O que é a Intuição?
Tem-se a palavra intuição aplicada em vários sentidos:
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2.1.1 Gramatical
Vê-se que da forma gramatical a palavra intuição é aplicada como uma opinião depois de feita uma reflexão simples sobre o tema em análise.
A intuição consiste na capacidade de conhecer algo sem de fato entender seu funcionamento. Está fundamentada na noção inicial que temos sobre algo, noção esta que nasce da experiência sensorial e/ou de uma análise superficial das características que compõe determinado elemento. Tomando como base esta noção inicial, conseguimos entender de forma pouco esclarecida do que se trata determinado elemento e já nos dispomos a emitir juízos acerca do mesmo.1
2.2 Na Filosofia a palavra é empregada como
2.2.1 Intuição filosófica
A aplicação do termo faz referência a uma opinião (doxa) por quem formula raciocínios filosóficos ou quando estabelece uma hipótese para o estabelecimento de um argumento.
2.2.2 Insight
Muitas vezes a intuição é confundida com a aplicação desse termo, que faz referência a um entendimento ou a compreensão de um problema simples, quando se chega ao resultado de um raciocínio ou quando se completa o entendimento. O Padre Lonergan - aplicou este termo e dedicou um livro de cerca de oitocentas folhas para descrevê-lo e explicar o seu emprego. Para estudar mais o tema, cursou-se em duas oportunidades a disciplina de Filosofia da Religião em que o Professor Carlos Adriano Ferraz, dedicou-se a explanar brilhantemente, sobre a obra “Insight”. O “insight” é um ato de compreender e depende das capacidades internas da mente e não é originário dos sentidos, sendo constituído de predisposições internas que precisam ser trabalhadas.
1 Disponível em:
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São fases do “Insight”, a experiência, o entendimento, o juízo e a decisão. O “Insight” começa com a experiência que nos dá algumas informações sobre o que está a intrigar-nos, onde trazemos a julgamento todo o nosso conhecimento apreendido na matemática, nas ciências da natureza e no senso comum, ao nosso desejo natural de conhecer. O entendimento se dá através do “Insight”, que é como um fulgor cintilante que ocorre quando percebemos que estamos conhecendo. Quando chegamos a compreensão daquilo que procurávamos é como sentíssemos um alívio pelo resultado alcançado. O juízo e as questões que formulamos a seguir para testar e confirmar o conhecimento obtido através do “Insight” para garantir a sua infalibilidade. Após exposto a julgamento o conhecimento obtido através do insight cabe a decisão e a divulgação do conteúdo obtido (LONERGAN, 2010).
Mesmo sendo uma obra de excelente conteúdo, o autor não trata a palavra “Insight”, como é definida em Henri Bergson. Apenas em um momento da obra quando discorre sobre a famosa palavra “Eureka”, quando da descoberta do princípio da hidrostática ou do Princípio de Pascal é que Padre Lonergan faz referência ao que poderia ser chamado de intuição no modo bergsoniano, mas na sequência do trabalho ele não dá um tratamento diferenciado ao exemplo citado, mantendo-o conjuntamente com as formas do entendimento quando se processa o conhecimento. Lonergan (2010) propõe um caso que considerou dramático, qual seja, o famoso Eureka de Arquimedes em que o físico e matemático grego é incumbido pelo rei de Siracusa a determinar se a coroa que havia mandado confeccionar por um artesão, detinha de fato a quantidade de ouro que lhe havia sido entregue. Depois de pensar muito sobre a questão, Arquimedes chegou a solução do problema, quando entrou na banheira e percebeu que o corpo deslocava determinada quantidade de líquido quando emergia na água. Associou ali a possibilidade de utilizar o apreendido ali com o problema que tinha para determinar as quantidades de ouro e prata contidos na coroa do rei, estabelecendo então o famoso Princípio de Arquimedes.
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3 O Método Intuitivo em Henri Bergson
O trabalho pretende desenvolver a intuição no processo de conhecimento a partir do filósofo Henri Bergson, em vista de que tem sido dada a primazia aos estudos com base na afirmação da ciência na idade moderna e contemporânea. Esse reconhecimento quase que absoluto da ciência pode ter prejudicado o avanço do desenvolvimento humano com essa consagração e o fechamento para outras formas de apreensão do conhecimento. Parece que a utilização do procedimento intuitivo na formação do conhecimento, traria um acesso mais rápido ao desenvolvimento dos povos, ainda mais em países periféricos, que carecem de maior número de profissionais, empresas de pesquisa e mesmo cidadãos com maior nível de escolarização. O estímulo e apoio às iniciativas a partir do método intuitivo poderá suprir às necessidades e anseios dessas populações num processo mais rápido rumo ao desenvolvimento. A Filosofia ao estudar o processo do conhecimento pode contribuir com iniciativas locais a partir da retomada do método intuitivo, que é estudado ao longo do tempo, mas parece que em Henri Bergson isso se dá de uma forma mais definitiva ou categórica.
Portanto, a intuição como um método simples – que se fixa na experiência, que recusa a circunscrição de conceitos criados para possibilitar a humanidade uma maior facilidade na resolução de problemas que dizem respeito a sua sobrevivência – é justamente o que permite a Bergson torná-la como um método, uma vez que se encontra despojada das complexas operações efetivadas pela inteligência “alinhar” e “classificar” o real (WARLEY, 2009, p.31).
Ao ingressar no curso de Filosofia da UFPel trouxe-se toda uma vivência de 39 anos exercendo as funções de engenheiro agrônomo praticada em vários municípios brasileiros realizando observações e constatações, bem como estabelecendo soluções para problemas encontrados e que eram obtidas num processo de compreensão repentina. A solução proposta não encontrava oposição,
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mesmo que fosse atribuída à dificuldade de implementação, mas que era considerada válida e resolutória.
3.1 A intuição bergsoniana
Para estabelecer seu Método Intuitivo, Bergson parte da diferenciação de tempo e espaço, sendo que a partir da filosofia evolucionista de Spencer ele é conduzido à ideia de Tempo. Ali observou que o tempo real escapa a matemática, pois em seus processos de medição verificou que é impossível sobrepor algo medido sobre uma quantidade de tempo, por que o tempo pressupõe duração e ao ser sobreposto à medição fica eliminada a sua capacidade de durar. Há que se distinguir a linha que é medida que é imóvel e o tempo que é móvel. “A medida do tempo nunca versa sobre a duração enquanto duração; contamos apenas um certo número de extremidades de intervalos ou de momentos, isto é, em suma, paradas virtuais do tempo” (BERSON, 2006, p.5).
Para Bergson ao longo da história da filosofia, tempo e espaço foram tratados como coisas do mesmo gênero. Depois de estudado o espaço atribui-se uma unidade de tempo e ele é fixado como se este não fosse móvel, eliminando-se a duração real. Segundo Bergson, até que para a ciência esta teria as suas razões para assim proceder, mas para a metafísica ele entendia que não precisava operar desse modo, mas que observava que também já funcionava desse modo, mesmo sendo anterior a ciência. Como já vimos no item 1.1 acima, a filosofia, a metafísica ou o pensamento teria sido “engessado” ou passou a ter método de pensar no período socrático.
A duração exprime-se sempre em extensão. Os termos que designam o tempo são tomados de empréstimo à língua do espaço. Quando evocamos o tempo é o espaço que responde a nosso chamado. A metafísica precisou conformar-se aos hábitos da linguagem, os quais se regram eles próprios pelo senso comum (BERGSON, 2006, p.7).
Aqui Bergson percebeu que o nosso entendimento é que exige assim, como uma forma de mascarar a duração seja no tempo ou na mudança.
[...] não viram que o tempo intelectualizado é um espaço, que a inteligência trabalha sobre o fantasma da duração, e não sobre a própria duração, que a eliminação do tempo é o ato habitual, normal, banal de nosso entendimento, que a relatividade de nosso conhecimento do espírito provém precisamente disso e que, desde então, para passar da intelecção à visão, do relativo ao
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absoluto não há que sair do tempo (já saímos dele!); cabe, pelo contrário, reinserir-se na duração e recuperar a realidade na mobilidade que é sua essência (BARROSO, 2009, p. 9).
Além do tempo e espaço, Bergson trabalha com o movimento e a mudança, a partir da doutrina da evolução de Spencer, para seguir o real em sua mobilidade, seu progresso, sua maturação interior, sendo isso à própria mudança.
O que é real não são os estados que fixamos por nosso entendimento, como instantâneos de um filme cinematográfico. O real está no movimento que é constituído por uma série de posições e na mudança que é uma série de estados que se sucedem e não podem ser entendidos como partes.
Na citação a seguir, Bergson de certa forma discorre o que Poincaré denominou a Teoria do Caos no ano 1800, citado no item 1.1:
É verdade que, ao lado das consciências que vivem essa duração inencurtável e inextensível, há sistemas materiais sobre os quais o tempo não faz mais que deslizar. Acerca dos fenômenos que nele se sucedem, pode-se dizer que são o desenvolvimento de um leque, ou melhor, de um filme cinematográfico. Antecipadamente calculáveis, preexistiam, na forma de possíveis à sua realização. Assim, são os sistemas usados pela astronomia, pela física e pela química. Será que o universo material, em seu conjunto, forma um sistema desse tipo? Quando nossa ciência o supõe, entende simplesmente com isso que deixará de lado, no universo, tudo aquilo que não é calculável. Mas o filósofo, que não quer deixar nada de lado, é de um modo ou de outro obrigado a constatar que os estados de nosso mundo material são contemporâneos da história de nossa consciência. Como esta dura, é preciso que aqueles se liguem de algum modo à duração real. ... Exprime o fato de que, embora possamos recortar no universo ele próprio é outra coisa. Se pudéssemos abarcá-lo em seu conjunto inorgânico, mas entremeado de seres organizados, veríamo-lo tomar incessantemente formas novas, tão originais, tão imprevisíveis quanto nossos estados de consciência. ... Digamos, portanto, que na duração, considerada como uma evolução criadora, há criação perpétua de possibilidade e não apenas de realidade (BERGSON, 2006, p.14-15).
Outra forma de estabelecer um entendimento sobre a intuição em Bergson é quando ele faz a afirmação que a intuição é a própria metafísica e o que falta é estabelecer uma precisão para a filosofia, tornando ela com a mesma precisão quanto ao que possui as demais ciências. Para Deleuze o que traz “do ponto de vista do conhecimento, as próprias relações entre Duração, Memória e Impulso vital permaneceriam indeterminadas sem o fio metódico da intuição”.
Na verdade, Bergson não chegou a determinar um Método para a Intuição para não lhe pedir que se atenha a manipulação de conceitos. “Seria também deixá-la na região do puro possível. No terreno da experiência, pelo contrário, com
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soluções incompletas e conclusões provisórias, atingirá uma probabilidade que poderá finalmente equivaler à certeza”.
Bergson procurou estabelecer um ponto de congruência entre a metafísica e o absoluto, onde afirma “que existem duas maneiras profundamente diferentes de se conhecer uma coisa”:
Uma implica que se dêem voltas em torno dessa coisa. Isso depende do ponto de vista no qual nos colocamos e dos símbolos que usamos para exprimi-la. A outra maneira requer que entremos na coisa, ou seja, que coincidamos com ela. Esta segunda maneira de conhecer não se prende a nenhum ponto de vista e não se apoia em nenhum símbolo. É, segundo Bergson, por esta segunda maneira que se é capaz de chegar ao absoluto. Para o autor francês, quando falo “de um movimento absoluto, é porque atribuo ao móvel um interior e como que um estado de alma, é também porque simpatizo com os estados e neles me insiro por um esforço de imaginação”. Criando, assim, uma coincidência com o objeto, ele não é mais apreendido nem de fora, nem a partir de nós. Ele será apreendido de dentro, em si. Em absoluto. É “nesse sentido, e somente nesse sentido, que o absoluto é sinônimo de perfeição”. Ou seja, o absoluto só existe e é perfeito enquanto fim da separação entre sujeito (conhecedor) e objeto (conhecido). “O absoluto é perfeito na medida em que ele é perfeitamente aquilo que é. É pela mesma razão, sem dúvida, que frequentemente se identificou o absoluto com o infinito”. Para explicar a correlação, agora identificada, entre absoluto e infinito, o autor nos oferece o exemplo clássico do movimento de braço. A saber: ao levantar o braço, a pessoa que realiza o movimento (portanto coincide com este) tem, interiormente, uma percepção simples, de um movimento contínuo. Mas, no lado de fora, para quem o olha, seu braço passa por um ponto, então por outro ponto, e entre esses dois pontos haverá outros pontos novamente, de forma que, se começar a contar, a operação nunca terá fim, sendo composta de etapas que podem ser divididas inesgotavelmente. Ora, um mesmo movimento pode ser apreendido de duas formas: indivisível (por quem o realiza) e, ao mesmo tempo, em uma enumeração inesgotável (seja m = momento, podemos ter: m1, m2, m3... mn). Sendo assim, para Bergson, o que se pode pensar ao mesmo tempo como múltiplo e uno “é, por definição, um infinito”, que só “se pode dar numa intuição”. Define o pensador francês intuição como “uma simpatia pela qual nos transportamos para o interior do objeto, para coincidir com aquilo que ele tem de único e, por conseguinte, de inexprimível”. A metafísica seria a “ciência” capaz de captar a realidade em sua forma absoluta. Isto porque, para o filósofo francês, o único método capaz de fazê-lo é o intuitivo, que seria também o método, por excelência, da metafísica (BARROSO, 2009, p.3-4).
Bergson não admite uma diferença de valor entre a metafísica e a ciência, apenas reconhece a diferença quanto ao método a ser utilizado, sendo que ambas partem da experiência ficando cada uma com a metade da realidade. Não considera que nenhuma é superior à outra e nem vem uma após a outra, pois estão no mesmo nível, têm pontos em comum e podem ser complementares.
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Dêem-lhes, pelo contrário, objetos diferentes, a matéria para a ciência e o espírito para a metafísica: como o espírito e a matéria se tocam, metafísica e ciência poderão ao longo de toda a sua superfície comum, pôr-se à prova uma à outra, esperando que o contato se torne fecundação. Os resultados obtidos dos dois lados irão confluir, uma vez que matéria conflui com o espírito. Se a inserção não for perfeita, será porque algo deverá ser retificado em nossa ciência ou em nossa metafísica ou em ambas. A metafísica irá exercer assim, por sua parte periférica, uma influência salutar sobre a ciência. De modo inverso, a ciência irá comunicar à metafísica hábitos de precisão que se propagarão, nesta última da periferia para o centro. Quando mais não seja pelo fato de que suas extremidades precisarão superpor-se exatamente às da ciência positiva, nossa metafísica será a metafísica do mundo em que vivemos e não de todos os mundos possíveis. Ela cingirá realidades. O que significa que a ciência e a metafísica diferirão de objeto e de método, mas comungarão na experiência (BERGSON, 2006, p.47).
Para Bergson, a metafísica verdadeira começará a expulsar os conceitos já prontos; ela também se confiará à experiência. Mas a experiência interior não encontrará linguagem estritamente apropriada.
A metafísica moderna também foi confundida com a divindade, mesmo que trabalhasse apenas com a razão, ainda assim teria o juízo que o teólogo obtém da revelação. Isso ocorria, segundo Bergson, porque trabalhava fora da experiência e sobre puros conceitos de onde tudo pudesse ser deduzido e que contivesse tudo. Tal era justamente a ideia que a metafísica Moderna se fazia de Deus. Ele condena a apologia que foi aceita pela filosofia no que atribuiu Aristóteles ao Motor imóvel como o princípio de tudo, fazendo que ali contivesse o topo do conhecimento. Aristóteles atribuiu o princípio de tudo a um Deus que não é o da mitologia grega, nem o Deus da religião, mas que serve para dar o tom dogmático da filosofia moderna.
Bergson interpreta que a existência de algo só pode se dar numa experiência. Essa experiência será denominada visão ou contato se for sobre algo material e terá o nome de intuição se provier do espírito.
Até onde vai a intuição? Apenas ela poderá dizê-lo. Ela retoma um fio: cabe a ela ver se se esse fio sobe até o céu ou se detém a alguma distância da terra. No primeiro caso, a experiência metafísica ligar-se-á à dos grandes místicos: acreditamos constatar, de nossa parte, que a verdade está desse lado. No segundo caso, essas duas experiências permanecerão isoladas uma da outra, sem por isso se repugnarem mutuamente, De qualquer forma, a filosofia nos terá elevado além da condição humana.
Já nos liberta de determinadas servidões especulativas quando põe o problema do espírito em termos de espírito e não mais de matéria, quando, de um modo geral, nos dispensa de empregar os conceitos num trabalho para o qual, na maior parte não foram feitos. Esses conceitos estão inclusos nas palavras. Foram, o mais das vezes, elaborados pelo organismo social com vistas a um alvo que nada tem de metafísico. Para formá-los, a
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sociedade recortou o real segundo suas necessidades. Porque haveria a filosofia de aceitar uma divisão que tem todas as chances de não corresponder as articulações do real? Aceita-a, no entanto, de ordinário. Submete-se ao problema como é posto pela linguagem. Condena-se, portanto, antecipadamente, a receber uma solução já pronta ou, na melhor das hipóteses, a simplesmente escolher entre as duas ou três soluções, as únicas possíveis, que são co-eternas a essa posição do problema. Seria o mesmo que dizer que toda a verdade já é virtualmente conhecida, que o modelo está depositado nos arquivos públicos da cidade e que a filosofia é um jogo de quebra-cabeça no qual se trata de reconstituir, com peças que a sociedade nos fornece, o desenho que não nos quer mostrar. Seria o mesmo que atribuir ao filósofo o papel e a atitude do aluno que procura a solução pensando consigo mesmo que uma espiadela indiscreta lhe a mostraria, anotada na frente do enunciado, no caderno do professor (BERGSON, 2006, p.53-54).
3.2 Metafísica x Ciência e a criatividade do povo brasileiro
Em dois momentos de sua obra, pode-se correlacionar o que Bergson fala na diferença de método entre Ciência e Metafísica ao que é identificada na vida brasileira, ao que popularmente se atribuí como “jeitinho”, a grande capacidade do seu povo em fazer frente às dificuldades naturais que se apresenta no cotidiano. Essa especificidade de tratamento na solução dos problemas decorre de sua baixa capacidade de renda e de escolaridade, mas que com a sua alta sagacidade e comunicabilidade resolve seus problemas de modo eficaz, mesmo sem utilizar métodos científicos, mas outros decorrentes de grande improvisação a partir do uso da intuição metafísica. Antes mesmo que a palavra “jeitinho” seja crucificada por muitos por ser atribuída na década de setenta em um anúncio televisivo, num sentido pejorativo como “o de levar vantagem”, pode-se sair em sua defesa. Todo ato fruto de uma inteligência pode ser destinado ao bem ou ao mal, como dizia Aristóteles em sua Ética a Nicômaco: a sabedoria levada para o mal torna o homem um habilidoso e quando levada para o bem torna o homem um sábio.
Mas pôr o problema não é simplesmente descobrir, é inventar. A descoberta versa sobre aquilo que já existe, atual ou virtualmente; era portanto certo que haveria de surgir cedo ou tarde. A invenção confere ser àquilo que não era, ela poderia não ter surgido nunca.
[...] O homem é essencialmente fabricador. A natureza, ao lhe recusar instrumentos já prontos como, por exemplo, nos insetos, deu-lhe a inteligência, isto é, o poder de inventar e de construir um número indefinido de utensílios. Ora, por simples que seja a fabricação, ela é feita com base num modelo percebido ou imaginado: real é o gênero definido pelo próprio modelo ou pelo esquema da sua construção (BERGSON, 2006, p.54-66).
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3.3 O pensamento está no campo das frequências
O tema a seguir sempre despertou grande interesse, qual seja a de constatar que o pensamento descobre fatos que são levados a efeito ou transformados em realidade por uma atitude e, lá adiante, em outro local bem distante, aquilo já é real. Não foi nem uma ou duas, mas várias vezes que isso aconteceu e, tendo submetido a terceiros essa situação, teve-se confirmada por inúmeros interlocutores a sua ocorrência.
Na experiência de engenheiro agrônomo, preocupado com a renda dos produtores de pêssego da região de Pelotas no Rio Grande do Sul, pensava sobre a possibilidade da criação de novos usos para o pêssego de modo a garantir a agregação de valor ao produto final.
Estando em visita a um supermercado na cidade de Curitiba no Paraná, encontrou-se em uma prateleira destinada aos doces, um frasco de purê de maça ou “apfelmus”. Prontamente, num processo intuitivo encontramos a solução para o problema que era motivo de aflição tendo realizado a seguinte manifestação interior: “purê de maçã, purê de pêssego”! Havia encontrado naquele local uma possibilidade de modificar a forma de apresentação do pêssego, saindo da tradicional conserva de pêssegos em calda para essa nova forma de apresentação. Quando do retorno à cidade de Pelotas, buscou-se alguém que pudesse auxiliar na concretização do intento e ele se viabilizou, mostrando ser uma alternativa muito interessante, não apenas como sobremesa, mas como acompanhamento de carnes.
Mas, agora vem o fato que aproxima da análise de Bergson sobre a frequência do pensamento, visto que até então atribuíamos, grosseiramente, como ondas eletromagnéticas. Algum tempo depois, por ocasião de uma viagem turística à cidade americana de Los Angeles, encontrou-se em um supermercado o mesmo produto, já pronto e embalado para o consumo, sendo que antes, nunca se tinha visto ou ouvido falar a notícia ou qualquer outro tipo de informação a cerca da sua existência.
O próprio contato com o filósofo Henri Bergson se deu de forma inusitada, eis que em uma ceia de Natal, entre amigos foi-se colocado em contato com a obra do autor através da filha de um dos amigos da dona da casa, a qual não se tivera conhecimento até aquele momento. Em conversa sobre o tema da intuição, foi citado o filósofo Henri Bergson, cuja obra desconhecia-se. Como nunca tivera
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nenhuma menção ao autor, anotou-se o seu nome para procura na Web, vindo prontamente à solução do problema pendente, já há alguns meses, qual seja o de cumprir a exigência de encontrar um autor para embasar a pesquisa para a conclusão da graduação em filosofia.
Depreende-se desses dois casos que havia a preocupação inicial na solução dos problemas suscitados, sendo que no primeiro caso, a solução já era levada a efeito em outro lugar distante e, no segundo caso, colocou-se em contato com alguém que tinha a solução do problema.
Limitemo-nos a dizer uma palavra acerca da hipótese para a qual nos conduziria nosso aprofundamento da vida. Se há um verde que, em milhares e milhares de lugares diferentes, é o mesmo verde (pelo menos para nosso olho, pelo menos aproximativamente), se o mesmo vale para outras cores, e se as diferenças de cor se prendem à maior ou menor frequência dos acontecimentos físicos elementares que condensamos essa percepção de cor, a possibilidade para essas frequências de nos apresentarem em todos os tempos e em todos os lugares algumas cores determinadas provém do fato de que sempre e em todo lugar se encontram realizadas todas as frequências possíveis (dentro de certos limites, sem dúvida): então, necessariamente, aquelas que correspondem às nossas diversas cores produzir-se-ão em meio às outras, seja lá qual for o momento ou o local; a repetição do idêntico, que permite aqui constituir gêneros, não terá outra origem. Posto que a física moderna nos revela cada vez mais diferenças de número por trás de nossas distinções de qualidade, uma explicação desse gênero vale provavelmente para todos os gêneros e para todas as generalidades elementares (capazes de serem compostas por nós para formar outras) que encontramos no mundo da matéria inerte. A explicação só seria plenamente satisfatória, é verdade, se dissesse também porque nossa percepção colhe, no campo do imenso das frequências, essas frequências determinadas que serão as diversas cores – por que, em primeiro lugar, colhe estas ao invés de outras. A esta questão especial respondemos outrora definindo o ser vivo por uma certa potência de agir quantitativa e qualitativamente determinada: é essa ação virtual que extrai da matéria nossas percepções reais, informações das quais necessita para se guiar, condensações, num instante de nossa duração, de milhares, de milhões, de bilhões de acontecimentos que se realizam na duração muitíssimo menos tensionada das coisas, essa diferença de tensão mede justamente o intervalo entre o determinismo físico e a liberdade humana, ao mesmo tempo que explica sua dualidade e sua coexistência. Se, como acreditamos, a aparição do homem, ou de algum ser de mesma essência, é a razão de ser da vida em nosso planeta, caberá dizer que todas as categorias de percepções, não apenas dos homens, mas dos animais e mesmo das plantas (as quais podem comportar-se como se tivessem percepções) correspondem globalmente à escolha de uma certa ordem de grandeza para a condensação. Esta é uma simples hipótese, mas parece-nos sair de modo inteiramente natural das especulações da física sobre a estrutura da matéria (BERGSON, 2006, p.63-65).
Na palestra intitulada Neurociências e Comportamento, proferida pela Professora Gabriele C. Ghisleni, no lº Colóquio de Filosofia e Neurociências numa realização conjunta do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de
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Pelotas e do Laboratório de Neurociências da Universidade Católica de Pelotas, nos dia 01 e 02 de outubro de 2018, teve-se a oportunidade de questionar sobre questões inerentes às ondas cerebrais. Na ocasião, perguntou-se “ se o cérebro através das suas trocas elétricas teria a capacidade de captar ondas externas”, ao que a palestrante respondeu afirmativamente.
Do mesmo modo, em pesquisa rápida na internet pode-se ver que o tema já vem sendo estudado, muito embora como as pesquisas ainda sejam bem segmentadas observa-se que ainda estudam temas muito particulares e que não há uma comunicação entre pesquisas de diferentes etapas que ocorrem no meio interno e externo.
Surpreendeu por outro lado, também na internet, o anúncio de aparelhos que captam as ondas cerebrais através de um sistema Arduíno e fazem mover carrinhos, mouses e outros equipamentos, sendo recomendado para pessoas com dificuldade locomotora.
No entanto, tudo isso corrobora o tema proposto por Bergson, mas que está sendo apreendido pela ciência e que a filosofia ao invés de persistir nas suas análises metafísicas, passa a querer a fabricação de aparelhos dentro do modelo científico e não persistir no seu método intuitivo, submetendo a filosofia ao controle da ciência.
A telecinética ou a capacidade de mover um objeto com seus pensamentos não é mais uma realidade distante. Usando o Muse™, um dispositivo usável que coleta sinais de onda cerebral, um dispositivo Arduino e um programa Python, este artigo demonstra como é possível mover um carrinho usando o poder da sua mente. Na realidade, o carrinho não é movido analisando seus pensamentos, mas, na verdade, determinando o tipo de ondas cerebrais que estão sendo mais ativas em um determinado momento.
Mover um carrinho pode não ser um aplicativo significativo. Entretanto, imagine as possibilidades para pessoas com deficiência que não podem andar ou falar usando suas ondas cerebrais, agora elas podem mover potencialmente um objeto. Além disso, graças à Internet, você pode ser capaz de mover um objeto com suas ondas cerebrais em outro país ou continente!2
2 Disponível em:
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3.4 Um exemplo vivenciado
Neste momento de conclusão da graduação em Filosofia muitos são os procedimentos necessários para dar cabo dos pormenores que envolvem os seus rituais burocráticos. Um deles é a computação e cotejo do cumprimento das disciplinas obrigatórias constantes da grade curricular. Todo este trabalho é de responsabilidade do coordenador do curso e diretor do Departamento de Filosofia da UFPel, Professor Pedro Leite.
Tendo em vista, que na primeira metade do curso fez-se concomitante ao exercício de trabalho profissional, optou-se por cursar primeiro as disciplinas obrigatórias deixando para o final as disciplinas optativas. Acontece que em um dos inícios de semestre confundiu-se uma disciplina que era obrigatória, como se fosse optativa e que ficou para trás. Ainda no período de elaboração deste Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, recebeu-se um e-mail do professor Pedro para comparecesse no departamento para analisar o currículo e solucionar o problema encontrado pela falta de uma disciplina obrigatória. Sem entrar no mérito da solução encontrada, mas prendendo-se apenas ao fato da ida ao departamento marcada para a sexta-feira, 16.11.2018, pós-feriado acordou-se que a reunião seria no prédio da faculdade, sem marcar o horário, mas anterior à aula no período noturno e sem que o professor mencionasse o seu período, se à tarde ou à noite. O fato é que programei- me para chegar ao local da reunião no final do período da tarde, sem definição do horário (e sem saber o horário do professor).
Às 15:00 horas acordei da habitual sestia e preparei-me para sair de casa, mas fui instado pela minha filha a ir ao centro comercial da cidade de Pelotas para convalidar â compra de um vestido. Na caminhada, sempre agradável da companhia da filha, muito espirituosa e alegre o tempo foi passando e, depois dum pequeno happy hour em um bar da cidade, separamo-nos no caminho, ela foi para casa e eu segui em frente, até à faculdade, mas primeiro na direção da loja de cópias xerográficas para a impressão de uma versão do TCC, passando depois pela oficina de veículos para saber notícias do automóvel que se encontra sob reparos.
Mesmo tendo feito estas diversas paradas, seguia com o pensamento firme na direção do compromisso que tinha com o diretor do departamento de filosofia. O ritmo não era acelerado, pois parei na frente dalgumas casas para tirar fotografias,
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diante do espetáculo que se apresentava nalguns jardins, com flores maravilhosas deste período primaveril.
Na última quadra fiz uma modificação pequena no roteiro que havia feito em ocasião anterior, pensei em parar para fazer uma selfie defronte à faculdade, chegando a preparar a câmera, mas desisti. Pensei: - vou em frente para atender ao compromisso, visto que já estava quase ao final do turno vespertino e o relógio já marcava quase dezoito horas.
Nisso, já estando na frente da porta do prédio da faculdade, fiz um giro de noventa graus na caminhada e coloquei o pé direito na soleira da porta para impulsionar o corpo para subir o degrau de acesso e eis, que descendo o último degrau da escada, que vem do primeiro piso, vi um senhor de óculos, camisa verde ou azul, muito linda, o Professor Pedro Leite com um sorriso largo, como já compreendendo ao que eu iria fazer referência: -“ intuição”, disse ele! Estendemos à mão para o cumprimento de praxe, compartilhamos o ocorrido, fomos para a calçada e aproveitamos para nos comunicar sobre o encontro de contas da disciplina.
Antes de tratar do problema principal que era o motivo da nossa reunião, fiz questão de registrar a maravilha do momento em que estávamos vivenciando. Tanto pelo fato de estar registrando o que já havia lhe relatado sobre o tema do TCC, em que Bergson apresenta a teoria do pensamento como frequência e que eu a denomino, como ondas eletromagnéticas. O professor Pedro confirmou o ocorrido o que foi muito importante, pois registrava o fenômeno diante de um profissional experimentado e titulado com o grau de Doutor em Filosofia.
Como se já tudo isso não bastasse, cerca de dez minutos após o fato ocorrido, e ter confirmado verbalmente o fato objeto deste relato e discorrido sobre as providências que deveria tomar para completar o registro das disciplinas obrigatórias e optativas para a conclusão do curso, outro fato veio a ilustrar o acontecido. No tempo indicado, estaciona um carro bordô e desce dele o Professor Clademir Araldi, meu orientador do trabalho de TCC, chegando para a aula das dezenove horas. Com sua habitual simpatia, veio ao nosso encontro para os cumprimentos de praxe e aproveitei para voltar ao caso acontecido na presença do professor Pedro em relação a frequência do pensamento, discorrendo sobre o fato novamente e obtendo a sua fiança para o relato e confirmação do que aqui vai registrado. Sobre tal fenômeno já tínha conhecimento e assinalado como “ondas
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eletromagnéticas” e em Bergson como “frequências”, mas agora com o registro e testemunho de dois professores gabaritados e doutores em filosofia.
Para mim, esse registro é considerado maravilhoso, mesmo que em muitas outras oportunidades já tenha vivenciado situações semelhantes e algumas com testemunhas também gabaritadas, mas que essa parece “sui generis”, pois pode ser colocada neste trabalho sem risco de contestação.
As situações semelhantes que já ocorreram são tantas, que já se teria material para escrever um livro, mas que por falta de registro, vão sendo postergadas. No entanto, cabe salientar, que não podem ser mais consideradas como mais nenhuma novidade.
A maior dificuldade é comunicar às pessoas fora do círculo do episódio ou até mesmo para os envolvidos, sentirem-se confiantes quanto a essa capacidade do pensamento e que pode ser utilizado com a finalidade da obtenção de maior tranquilidade, autoconfiança, autoestima e da realizações de projetos pessoais. Outro fator importante é que esta possibilidade do pensamento não deve ser atribuída a nenhuma força oculta, religiosa, dalguma irmandade, obra do acaso, da sorte, enfim tem que ser assumida como uma capacidade humana.
3.5 Metafísica e Ciência
Bergson procura demarcar bem em sua tese o posicionamento da Metafísica e da Ciência na teia do conhecimento, enfatizando que as duas tem o poder de chegar a um absoluto. No caso da Ciência ele recomenda que permaneça científica e não carregue uma metafísica inconsciente, que se apresenta então para os ignorantes ou para os semicientistas, sob a máscara da ciência. Este uso da metafísica pela ciência teria sido um obstáculo, pois o seu uso era imediatamente desencorajado por afirmações ou contraposições que se diziam científicas.
No capítulo VI “Introdução à Metafísica”, Bergson estabelece uma diferença entre a Ciência e a Metafísica quando trata das duas formas diferentes de conhecer uma coisa, estabelecendo que a primeira implique em dar voltas ao redor da coisa se apoiando em símbolos e a segunda, que se entre nela, não se apoiando em nenhum símbolo. A essa primeira forma atribui que se detém um conhecimento relativo e na segunda forma se atinge o absoluto.
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A forma em que a ciência pode atingir o absoluto é anotada por Bergson, no momento em que a Ciência se utiliza da Metafísica e através da intuição, através de alguns gênios, de longe em longe, promoveram na ciência positiva.
É relativo o conhecimento simbólico por conceitos preexistentes que vai do fixo para o movente, mas não o conhecimento intuitivo que se instala no movente e adota a vida mesma das coisas. Essa intuição atinge um absoluto (BERGSON, 2006, p.224).
Segundo Bergson ao se utilizar o Método Intuitivo não se sabe aonde se irá chegar e que conhecimentos serão utilizados e nem saber quando se irá terminar, podendo ser por período curto ou por anos ou nem será terminado ao longo de uma existência. O fato é que preciso se colocar sempre na função de estudante.
Assim, a percepção, o pensamento, a linguagem, todas as atividades individuais ou sociais do espírito conspiram para nos colocar em presença de objetos que podemos tomar por invariáveis e imóveis enquanto os consideramos, assim como também em presença de pessoas, inclusive a nossa, que aos nossos olhos se tornarão objetos e desse modo, substâncias invariáveis. Como erradicar uma inclinação tão profunda? Como levar o espírito humano a inverter o sentido da sua operação habitual, como leva-lo a partir da mudança e do movimento, considerados como a própria realidade, e a não ver mais nas paradas ou nos estados senão instantâneos que são tomados de algo movente? Será preciso mostrar-lhe que, embora a marcha habitual do pensamento seja praticamente útil, cômoda para a conversação, a cooperação, a ação, ela conduz a problemas filosóficos que são e que permanecerão insolúveis por terem sido postos às avessas (BERGSON, 2006, p.78).
A citação acima parece muito ilustrativa, visto que mostra a tendência da conversação ser colocada sempre no mesmo sentido de recortes da realidade e sem considerar a possibilidade do movimento e da mudança no seu sentido amplo. Praticamente, o diálogo entre duas pessoas que usam métodos diferentes, o científico e o metafísico, não será muito longo. Isto porque ao primeiro poderá parecer uma colocação incabível, até que possa carregar algum traço de ignorância, visto que o mundo atual é completado pela ciência. Então, o diálogo além de não ter prosseguimento e dependendo do interlocutor, poderá ser interpretado como alguém fora deste mundo ou até portador de algum traço de demência.
Aqui pode-se citar mais um caso ilustrativo da aplicação do Método Intuitivo na carreira de engenheiro agrônomo, em que trabalhou-se por trinta anos na região arrozeira da Zona Sul do Rio Grande do Sul e que nos colocou frente a frente em conflito com este tipo de situação.
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A lavoura arrozeira existe no Rio Grande do Sul desde o início do século passado, tendo sido formada em grande parte por estímulos governamentais, mais propriamente a partir dos anos sessenta em que houve um grande aporte de recursos governamentais para o incentivo da atividade.
Com o advento da chamada Revolução Verde, que coincidiu com esse período e que houve um estímulo à modernização e o uso de tecnologias agrícolas a partir do ensino universitário ou de centros de pesquisa, ela foi dominada completamente pelo uso da ciência.
Como atuava-se na área financeira num local que logo se tem uma percepção da viabilidade do empreendimento por seu resultado econômico, viu-se que a análise desse setor era praticamente inviável para os cientistas envolvidos na atividade ou até mesmo aos empreendedores e profissionais de outras áreas. Todos viam a atividade como deslocada das suas responsabilidades do custo e benefício, pois a viam somente no viés da ciência ou no recorte da produção e produtividade.
Produziu-se mais de trinta e oito artigos sobre o tema, mas de muito pouca acolhida diante do esforço dispendido. O simples fato de colocar o problema sobre outro enfoque já era motivo para obter a desconsideração sobre o argumento apresentado. Há trinta anos passados, teve-se de inópino uma visão intuitiva quanto à possibilidade do produtor rural incorporar ao seu processo uma atividade que havia sido apreendida por outros setores à frente da cadeia de produção orizícola e que lhe traria mais renda.
Durante uma viagem ao interior do município de Jaguarão, surgiu à mente a seguinte mensagem: “Vender arroz em casca é como vender milho em espiga”! A intuição obtida deve ter sido originada da experiência familiar de origem rural, “meu pai, agricultor no interior de Canguçu e produtor de milho no período de minha infância, na década dos anos sessenta, naquele período, vendia o milho, ainda na espiga, como era colhido na lavoura. Passado algum tempo, um vizinho comprou um equipamento de trilha puxado a bois, com um motor diesel estacionário e passou a prestar serviço para a vizinhança. Dali em diante o processo da venda de milho passou a ser na forma de grãos ensacados, o que foi um grande avanço para à época”.
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A vivência da época permitiu trazer a intuição que o processo de comercialização do arroz hoje, ainda estaria como se estivesse num período de cinquenta anos atrás, pois ainda estava sendo comercializado como o milho em espigas.
A lembrança de uma prática de comercialização agrícola assistida na infância reforça o conceito de engenheiro agrônomo José Nei Telesca Barbosa de que vender arroz em casca é um sistema que pode ser considerado a vender milho em espiga. Ele lembra que quando ainda era menino – há mais de 40 anos – seu pai vendia milho em balaio, ainda na espiga, volume que depois de debulhado correspondia a 18 quilogramas. Eram convenções antigas que valiam para a época e eram bem aceitas. Só que houve uma evolução que, infelizmente, ainda não chegou para o arroz, observa (BARBOSA, 2016, p.57).
O passo seguinte foi o entendimento que o arroz descascado não seria um produto industrializado e sim, um processo físico ou mecânico, que permitia fazer a afirmação que “Descascar arroz não é indústria”. A industrialização do arroz seria a sua transformação em biscoitos, bolachas, barra de cereais, chips...
A partir desse entendimento há uma mudança no conceito da produção rural, que não precisa ficar limitada a comercialização de um produto bruto “in natura” na forma em que sai da lavoura. Nessa nova forma o produto sofre um processamento primário, na propriedade ou em local próximo, mas que irá deixa-lo pronto para o consumo e com um valor agregado maior.
A partir do ano 2000 desenvolvemos a tese que “descascar o arroz não é um processo de industrialização”, mas sim, um processo da produção e cuja responsabilidade seria ainda do produtor.
[...] Quanto ao leque de opções da industrialização do arroz, também precisa evoluir, visto que se come pão até de batata, mas de arroz ainda não. Com a fabricação de outros produtos à base de arroz, este chegaria à mesa do consumidor não só na hora do almoço como chega, nas formas de arroz branco, arroz com galinha ou arroz de carreteiro. O arroz teria o seu consumo ampliado na forma de pães, biscoitos e cereais matinais, na hora do café, e através dos waflers e chips, nos lanches e sobremesas.
Do mesmo modo podemos ampliar o raciocínio analisando os produtos pecuários, como no caso de pasteurizar o leitene coloca-lo dentro de um saquinho, que também não é um processo de industrialização e sim, ainda um processo da produção. A industrialização é fazer queijo, iogurte, requeijão etc. Era considerado industrialização quando “pasteurizador” era um enorme de um equipamento, importado da Alemanha e bastante caro. Hoje, pelo preço de um carro médio o produtor de leite pode adquirir um quipamento completo e entregar embalado para o consumidor. Outro exemplo é o abate do boi. Dividi-lo em pedaços, picanha para um lado, costela para o outro, por este modo de ver o agronegócio, também não é industrializar. Industrialização é fazer linguiça, o salame e similares (BARBOSA, 2016, p.53).
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3.6 Outras diferenças entre Ciência e Intuição
3.6.1 Conhecer x Pensar x Simpatizar
Admite-se que toda a educação formal recebida deu-se através do Método Científico. Ao deparar-se com um objeto, logo é procura-se um conceito para o mesmo. Analisa-se de fora, avaliando suas propriedades externas, sua forma, coloração e consistência. De outro modo, quando nas atividades curriculares de uma disciplina qualquer, o primeiro contato com o termo novo é através do seu conceito ou a da sua definição. Diga-se, por exemplo, o caso de um termo da geografia - ilha, a qual é lembrada até hoje a sua resposta: é um pedaço de terra cercado de água por todos os lados. Enfim, foi-se treinado a trabalhar em conceitos já dados sobre as coisas ou objetos, moldando o pensamento à repetição do conhecimento daquele objeto. Segundo Bergson, (2006, p. 205): “Conhecer uma realidade, no sentido usual da palavra “conhecer”, é tomar conceitos já prontos, dosá-los e combiná-los entre si até obter um equivalente prático do real”.
Pensar, no mais das vezes diz respeito em ir dos conceitos às coisas e não das coisas aos conceitos. Do mesmo modo tende-se a pensar nos objetos por partes ou no que ele tem de imóvel.
No Método Intuitivo, se chega por um ato simples ou o de simpatizar com a realidade, desprendendo-se de qualquer comparação do objeto, adentrando no seu interior através de uma simpatia com o mesmo ou de um esforço de imaginação, coincidindo com aquilo que ele tem de único, lidando com a sua duração real.
Experimentar um conceito num objeto é perguntar ao objeto o que devemos fazer com ele, o que ele pode fazer por nós. Colar sobre um objeto a etiqueta de um conceito é marcar em termos precisos o gênero de ação ou de atitude que o objeto deverá nos sugerir. Todo o conhecimento propriamente dito está, portanto orientado numa certa direção ou foi tomado de um certo ponto de vista (BERGSON, 2006, p.206).
3.6.2 Analise x Intuição
A forma de conhecimento em que se vê o objeto, como imóvel e fora do mesmo, dando-lhe voltas no seu entorno, expressando-nos por conceitos, símbolos ou pontos de vista, nos dizem o que ele tem de comum com outros e que não lhe é próprio. Isto porque olhando de fora, não vamos conhecer a sua essência, ou o que
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ele tem de próprio, ou no seu interior e que não seria exprimível por símbolos. Então, a descrição, a análise e a história nos deixam no relativo. Segundo Bergson, (2006, p. 187): “Analisar consiste, portanto em exprimir uma coisa em função daquilo que não é ela”.
A intuição é a coincidência imediata com o próprio objeto, sem símbolos ou conceitos, que nos dá o absoluto. Bergson, (2006, p. 188): “A metafísica é, portanto a ciência que pretende passar de símbolos”.
3.6.3 Absoluto x Infinito
A distinção entre Absoluto e Infinito se presta a mais um esclarecimento ao que ocorre entre um objeto que é analisado de fora para dentro, por símbolos ou conceitos e outro que é apreendido de imediato por uma intuição simples.
O Absoluto visto de dentro é algo simples, ele é perfeito na medida em que ele é perfeitamente aquilo que ele é. No entanto, o Absoluto visto de fora através de símbolos ou conceitos passa a ser algo indivisível e com divisões inesgotáveis, que é por definição um Infinito.
E pela mesma razão, sem dúvida, que frequentemente se identificou o absoluto com o infinito. Se quero comunicar àquele que não sabe grego a impressão simples que me deixa um verso de Homero, darei a tradução do verso, depois comentarei minha tradução, depois desenvolverei meu comentário e, de explicação em explicação, aproximar-me-ei cada vez mais daquilo que quero exprimir; mas nunca o conseguirei.
Quando alguém levanta o braço, realiza um movimento do qual tem interiormente a percepção simples; mas exteriormente, para mim que o olho, o seu braço passa por um ponto, depois por outro e, entre esses dois pontos, haverá outros pontos ainda, de modo que, se começo a contar, a operação nunca terá fim. Visto de dentro, portanto um absoluto é algo simples; mas, considerado de fora, isto é, relativamente a outra coisa, torna-se, com relação a esses signos que o exprimem, a moeda de ouro que nunca terminaremos de trocar em miúdos. Ora, o que se presta ao mesmo tempo a uma apreensão indivisível e a uma enumeração inesgotável é, por definição, um infinito (BERGSON, 2006, p.186-187).
3.6.4 A intuição e a frequência do Pensamento
A partir do contato com o filósofo Henri Bergson em que se obteve a informação do pensamento enquanto “frequência” e que até então tratava-se como “ondas eletromagnéticas”, pudemos relacionar alguns pontos que no artigo publicado inicialmente no Jornal Gazeta Mercantil, em 13.11.2000, “Um passo à frente na comercialização do arroz”, já como possível de ser enquadrada nessa
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perspectiva. Naquela ocasião, já afirmava-se que a operação de descasque do arroz poderia ser feita pelo produtor como pertencente ainda a uma operação da produção industrial. No início do ano seguinte (2001), recebeu-se de um produtor a cópia de uma notícia que tratava da publicação de um acórdão do STJ – Superior Tribunal de Justiça, órgão encarregado de dirimir dúvidas judiciais em terceiro grau e que tratou o tema do seguinte modo:
A operação feita pelo próprio produtor, de descasque do arroz e separação dos subprodutos, tais como farelo canjica e canjicão, não representa processo industrial. Com isso, o produtor (pessoa física) não se transforma em pessoa jurídica (empresa individual) (BARBOSA, 2016, p. 54).
Outro tema que pode ser atribuído na conta da “frequência” do pensamento tem a abordagem que fez-se no artigo “O Negativismo, o Pessimismo e a Região Sul”, publicado inicialmente em 29.12.1993, no jornal Diário da Manhã. O texto foi produzido a partir de muitos contatos e vivências realizadas no interior do município de Canguçu e que propiciaram a aquilatar a alta carga de pessimismo que ocorria na maioria dos seus moradores, onde pode-se verificar na seguinte passagem:
Assim, podemos afirmar que cada um que tenha uma ideia nova neste meio, seja ela qual for: - abrir uma malharia, uma padaria, fazer uma viagem etc., imediatamente são rechaçados por centenas de pessimistas, que lhes dizem: - “Isto não vai dar certo!”; “Cuidado, vais dar com os burros n’água!”; “Você é louco! Isto é coisa de comunista!” E o idealizador acaba sucumbindo, pois, por ser nova, a ideia é tênue e ainda falta a plena convicção do indivíduo que, mediante tamanha pressão negativa acaba desistindo (BARBOSA, 2016, p..24).
Após, a publicação desse artigo, surpreendentemente, teve-se contato com a pesquisa do Instituto de Pesquisas de Opinião, da Socióloga Elis Radmann – MTb 721, datada dos dias 02 e 03 de agosto de 1999, cujo título é “ Perspectiva dos Pelotenses Quanto ao Desenvolvimento Econômico de Pelotas”. Cita-se o resultado abaixo:
Os dados demonstram que a maioria dos eleitores entrevistados, 57,8%, consideram as perspectivas ruins ou péssimas, não parecendo crer nas possibilidades de desenvolvimento da cidade. Dentre os entrevistados, 22,6 consideram as possibilidades regulares e apenas 12,6% dos eleitores acreditam no desenvolvimento da cidade.
Obviamente seria interessante examinar os fatores conjunturais que poderiam estar causando essa percepção. Mas diante dos dados apresentados, pode-se partir de um enfoque sociológico para realizar uma reflexão da questão.
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A percepção da população expressa nos resultados acima demonstra um sentimento de negação e de pessimismo e agrava-se com a falta de resultados concretos e a não resolução dos problemas sociais. Isso se reverte na população, através de um estado de apatia ou desencanto em relação às possibilidades de desenvolvimento (RADMANN, 1999, p.3).
Para completar os exemplos do uso do Método Intuitivo corroborado por “frequências” do pensamento, podemos citar outro artigo “Me engana que eu gosto”, datado de 10.06.1994, que também consta do livro SOBRE ARROA EM CASCA E MILHO EM ESPIGA que publicou-se no ano de 2016. No texto analisou-se a influência da mídia, em especial à televisiva sobre a mente das pessoas:
Tem nos impressionado o poder de indução que a mídia, especialmente a eletrônica, vem provocando sobre o comportamento da população. Atualmente, como que obedecendo a uma ordem emanada da tela da TV, as pessoas consomem, ou agem, na razão direta do que as técnicas do marketing ou da psicologia de massa lhes determinam.
Senão, vejamos: - O locutor do telejornal da noite informa que vai ter um aumento de 20% no preço da gasolina à meia-noite. Muitos, como que autômatos, saem da frente da televisão, já de banho tomado e de pijama, e vão para longas filas dos postos de gasolina. Computando-se a distância percorrida até o posto e o risco do liga-desliga do automóvel, em nada será recompensada a pretensa economia de vinténs que poderá haver.
No entanto, mesmo assim aqueles que não puderam ir, por uma razão ou por outra, sentir-se-ão os mais infelizes entre os mortais. Da mesma forma, isso verifica com relação ao anúncio da promoção de cervejas em determinado supermercado, pois chegam a acorrer pessoas de cidades vizinhas, com poucos vasilhames no porta-malas de seus veículos, porém convictas de que estão fazendo um grande negócio.
Os bingos eletrônicos e os sistemas de apostas pela televisão acabam transformando os balcões dos correios em suas pessoas humildes a tagarelar sobre as virtudes de um ou outro carnê e entregando-os nos guichês, como se estivessem cumprindo uma ardorosa missão.
A distribuição de prêmios nos anúncios da TV, em troca do tradicional “compre isso ou beba aquilo”, além do surpreendente aumento nas vendas, provoca uma verdadeira enxurrada de cartas a tais anunciantes, que já se contam por toneladas. Alguns anúncios podem ser considerados como uma verdadeira apelação, como daquele comercial que diz assim: - Você ainda não tem a sua casa própria? Agora você vai ter! É só mandar uns rótulos de tal produto aqui para o programa, respondendo com quantas letras se escreve o seu nome, que você vai ganhar a casa própria! Tivemos a oportunidade de conhecer uma senhora que comprava em caixas o produto que prometia a tão sonhada casa própria, ficava com os seus rótulos e distribuía o conteúdo entre as amigas somente para concorrer “com mais chances” no sorteio (BARBOSA, 2016, p.33).
A ligação do texto na “frequência” de outro autor se confirmou com o mesmo tema publicado nas Páginas Amarelas da Revista Veja, numa entrevista com o filósofo americano David Livingstone Smith, com o título “Engana que eu gosto”, com uma abordagem semelhante, apenas relacionada com a fala dos políticos e em relação ao conteúdo de suas mensagens aos eleitores.
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3.6.5 A Filosofia em Bergson, Ciência ou Metafísica?
A evolução histórica da Filosofia abordada na parte inicial deste trabalho mostrou a sua transformação do que ela era nos primeiros filósofos, anteriores a Sócrates, ao que é nos dias de hoje, basicamente atrelada às questões da Ciência. Bergson em seu ensaio “Introdução à Metafísica, 1903”, procura tornar mais precisos os significados de ciência e metafísica, mesmo ressalvando que possam ser dados os sentidos, que se quiser às palavras. Também que ao longo de muito tempo se denominou “ciência” ou de “filosofia” para toda a espécie de conhecimento ou se poderia englobar tudo na metafísica. No entanto, admite que o conhecimento que investe na direção bem definida da medida e que tem por objetivo o estudo da matéria deve ser denominado de “científico”. Ao passo que aquele que segue na direção inversa sem qualquer outra intenção de comparação para simpatizar com a realidade, dedicando-se ao estudo do espírito, deve ser chamado de “metafísico”. Para Bergson, é na conta da metafísica, que pode se debitar a ocorrência da “filosofia da ciência” ou metafísica da ciência que habita o espírito dos grandes cientistas, que é imanente à ciência e que os fazem dar saltos extraordinários no avanço das ciências.
Deixa claro por outro lado, que a ciência positiva trata de analisar e trabalhar com conceitos e símbolos. Bergson, (2006, p. 188): “mesmo as mais concretas das ciências da natureza, as ciências da vida, atêm-se à forma visível dos seres vivos, de seus órgãos e de seus elementos anatômicos”.
A metafísica irá possuir a realidade de forma absoluta e não relativamente como a ciência, irá se colocar nela e não ter apenas pontos de vista sobre ela. Irá ter uma intuição dela ao invés de fazer sua análise, enfim apreendê-la fora de toda a expressão, tradução ou representação simbólica. Para Bergson, (2006, p.188): “A metafísica é, portanto a ciência que pretende passar-se de símbolos”.
3.6.6 Filosofia e Ciência
Muitas vezes a Filosofia se coloca no campo da Ciência, quando ela procura estudar de forma simples os objetos que a ciência se ocupa. Ambas exigem a experiência que se apresenta sob duas formas diferentes, que segundo Bergson “de um lado sob a forma de fatos que se justapõem a fatos, que se repetem
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aproximadamente, que se medem aproximadamente, que se desdobram enfim, no sentido da multiplicidade distinta e da espacialidade, do outro, sob a forma de uma penetração recíproca que é pura duração, refratária à lei e à medida” (PM, 2006, p.143).
Acredita o autor que não seria possível fazer filosofia através de uma síntese de saberes das ciências positivas, pois se seguiria trilhando o caminho da ciência, inobstante ao cientista seria possível criticar seus métodos, “voltar para trás e a criticar seus métodos” fazendo filosofia. A ciência é formada de conceitos prontos que são colados aos objetos, valendo-se de símbolos sobre estados imóveis em um tempo fixo - “o conhecimento científico, começa aqui e termina ali”.
A filosofia simpatiza com o objeto e por um ato simples de uma intuição, penetra em seu interior e na sua mobilidade e mudança, adota “o devir que é a vida das coisas”.
3.6.7 O Método Intuitivo
Bergson em sua obra trata dos caminhos que levam a intuição filosófica e deixa de aplicar uma definição ao seu Método Intuitivo, porque cairia numa incrível contradição, visto que ao longo de suas conferências sempre atribuiu ao Método Científico o domínio dos conceitos, dos símbolos e da imobilidade. Ao passo que a Intuição Filosófica é um caminho e a cada uma que é percebida ela é única e indivisível e cujo ato gerador somente dura um instante. O Método Intuitivo em Bergson é essencialmente interior, no sentido de se voltar primeiramente para dentro, em direção ao espírito, pois, como já foi dito, a intuição tem sua função principal, tal como é compreendida, “na visão direta do espírito pelo espírito” (PM, 2006, p. 45). De outra forma poderia ser dito “a intuição é aquilo que atinge o espírito, a duração, a mudança pura” (PM, 2006, p. 31).
Mesmo não tendo dado a definição do seu método como é o esperado quando se trata de aspectos da ciência, Bergson faz referência a palavra método em vários trechos de sua obra, como no caso onde diz: “tensão, concentração, tais são as palavras pelas quais caracterizaríamos um método que requer do espírito, para cada novo problema, um esforço inteiramente novo” (PM, p. 101). Ou quando relata a seguinte passagem: “Nossa iniciação ao verdadeiro método filosófico data do dia
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em que rejeitamos as soluções verbais, tendo encontrado na vida interior um primeiro campo de experiência” (PM, 2006, p. 101).
Mal se pode ainda dizer que seja um conceito, uma vez que se aplica apenas a essa única coisa. Não procede por combinação de ideias disponíveis no mercado, unidade e multiplicidade, por exemplo; mas, pelo contrário, a representação para a qual nos encaminha é uma representação única, simples, com relação à qual, aliás, compreendemos muito bem, uma vez formada, porque a podemos inserir nos quadros de unidade, multiplicidade etc., todos bem mais largos que ela. Enfim, a filosofia assim definida não consiste em escolher entre conceitos e em tomar partido por uma escola, mas em ir buscar uma intuição única da qual descemos com igual propriedade para diversos conceitos (BERGSON, PM, 2006, p.203-204).
3.6.8 O projeto de pesquisa em filosofia
Recolheu-se junto aos estudantes de filosofia, que se dedicam à pesquisa filosófica através de financiamento junto às agências de fomento ou bolsas de estudo para o apoio a esta atividade, quanto a dificuldade encontrada na aprovação de tais projetos. A queixa maior é a dificuldade de enquadramento dos dados nos formulários dos projetos, que são destinados praticamente àqueles que utilizam o método científico. Como na maioria das vezes a pesquisa em filosofia não resulta em um objeto concreto não há como preencher a maioria dos campos exigidos ou até mesmo não há como detalhar ao agente avaliador a natureza do projeto ou os resultados pretendidos.
No encaminhamento de tais projetos, mesmo sendo uma pesquisa sobre a obra de um autor e a interpretação do sentido ou entendimento do seu enunciado, já se têm dificuldade de preenchimento ou de aprovação fica-se a imaginar como seria a formulação de um projeto de pesquisa que utilizasse o Método Intuitivo. Sem dúvida nenhuma, seria o próprio caos, visto este ter mais dificuldade na sua expressão da linguagem ou de símbolos, diante do que é exigido no preenchimento dos formulários e no exame por seus analistas. Isso requer uma construção de formulários apropriados e destinados exclusivamente à pesquisa em Filosofia.
Este mesmo problema observa-se ao longo da carreira profissional quanto à exigência exclusiva do Método Científico, para entender uma realidade social qualquer , e a necessidade de elaborar um diagnóstico para a realização do projeto. Perdia-se um tempo enorme na aplicação e tabulação dos dados de questionários, formulações de hipóteses, chegando-se até mesmo a perder-se no meio do caminho
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esvaindo o ânimo da equipe de trabalho. Sem entrar no mérito ou desmerecer o procedimento quanto ao rigor do método tem-se que na aplicação do Método Intuitivo logo se tem a simpatia do pesquisador com o âmago do objeto ou do problema. Se a pesquisa for sobre uma comunidade de habitantes de determinada localidade, por meio do Método Intuitivo tem-se o envolvimento direto com seus moradores, simpatizando com seus anseios vivências e a apropriação se dará de forma imediata e direta das suas necessidades.
No decorrer da sua obra O pensamento e o movente, Bergson destina o uso da inteligência na direção da “ciência e da tecnicidade”, que foi aproveitada pela matemática e a arte mecânica, junto com as demais ciências . Para Bergson “uma mecânica ainda grosseira suscita uma matemática ainda imprecisa: esta, tornada científica e fazendo então surgir as outras ciências em volta de si, aperfeiçoa indefinidamente a arte mecânica. Por esse lado, a inteligência acabaria, em princípio, por tocar num absoluto (BERGSON, 2006, p.88).
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Considerações Finais
Como foi dito no desenvolvimento do tema, Henry Bergson não chegou a criar uma definição para o Método Intuitivo, apenas deu as formas de apropriação da intuição e da diferenciação do Método Científico, visto ser este baseado em conceitos, definições e símbolos. Mas, como comunicá-lo sobre a sua existência e da sua efetividade diante de um mundo cada vez mais comunicativo, em especial por mídias eletrônicas?
Segundo Ribeiro (2013, p.14):
Através de imagens e metáforas, aquilo que não pode ser dito de maneira analítica, pode ser, então, comunicado: “O recurso às metáforas é um meio de utilizar a linguagem para lhe fazer exprimir o inexprimível, para alertar o leitor sobre a singularidade do que deve ser dito.” (VIEILLARD-BARON, p. 73).
Segundo Barroso (2009, p.2):
O que propõe Bergson com o método intuitivo é dar à filosofia uma precisão tão grande em seu campo de investigação, quanto as ciências possuem no seu âmbito. Diz Deleuze que “do ponto de vista do conhecimento, as próprias relações entre Duração, Memória e Impulso vital permaneceriam indeterminadas sem o fio metódico da intuição. Considerando todos esses aspectos, devemos trazer, para o primeiro plano de uma exposição, a intuição como método rigoroso ou preciso.
Primeiro parece que se deve ressalvar a existência dos dois métodos e de que ambos são paralelos, mas com áreas de sombreamento ou até mesmo que podem ser complementares, trazendo mais segurança ao resultado final pretendido. Como viu-se, ambos estão sujeitos a erros e precisam ser bem avaliados e acompanhados na sua aplicação.
A intuição em Bergson se constitui em duas possibilidades de atribuições ao pensamento:
a) uma no campo das frequências em que pode haver sintonia por ondas eletromagnéticas com outros, que já ocorrem em outros locais próximos ou mesmo a distância e que, por não ser do conhecimento atual, poderá
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ser novidade apenas para aquele que está a sintonizar o campo da frequência daquele objeto ou coisa.
b) outra no sentido de exercer a simpatia sobre o objeto ou coisa que é fruto da preocupação ou apenas de uma curiosidade de solução, ou ainda, apenas uma “mensagem” recebida por uma intuição, fruto de uma situação inopinada, imediata (sem esperar) à consciência ou espírito, que coloca o agente dentro de uma realidade concreta e solucionadora, porém inesperada.
Estas duas situações deixam o agente receptor, na dúvida de como interpretar aquela mensagem obtida, diante do fenômeno ocorrido. O que fazer? Que tratamento dará a ela? Colocá-la em dúvida, esquecê-la (o que frequentemente ocorre), atribuir a uma obra do acaso ou de um poder espiritual? Na verdade se trata da intuição pura, límpida que veio à mente através de uma mensagem que pode ser a solução que se esperava ou a proposta de uma atividade diferente, devendo ter atitude diante dela, transformando-a em algo concreto.
Pode-se atestar a certeza do Método Intuitivo, teorizado e, seguramente vivenciado por Bergson, visto que já o conhecia, intuitivamente, mesmo não sendo conhecedor da obra bergsoniana. Esta certeza veio através de tantas situações experienciadas, registradas em textos escritos, atestadas por provas testemunhais e muitas comprovadas por métodos científicos ou que resultaram em objetos na sua concretude.
Sem dúvida é um método a ser trabalhado tanto nas escolas de filosofia, quanto na rede de ensino de todos os níveis, nos meios de comunicação existentes e na vida social em geral. Tal método poderá trazer a compreensão mais rápida do mundo real para a solução dos problemas que aflige tanto o filósofo quanto à população no seu dia-a-dia.
Cabe ressaltar, no entanto, que a intuição não é um processo meramente opinativo, tão em moda na sociedade atual. Ela exige precisão e entendimento, sendo resultado de um ato reflexo ou de inopino sob um tema que pode ou não estar sob a nossa preocupação. Ela vem ao natural, sem a sobrecarga da tentativa ou do esforço em obtê-la, mas sim ela chega quando menos se espera e como diz Bergson, pode ser de maneira rápida ou demorar uma vida. Não é um ato forçado, dialético ou decidido por escolha dentre alternativas que se apresenta ou um mero entendimento.
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Não há que se preocupar com a invalidade da intuição obtida na forma preconizada em Bergson, tendo ela com um elevado grau de precisão, estando as mesmas possibilidades de erro que podem ser atribuídos ao Método Científico.
Conclui-se então, a todos aqueles que colocam em dúvida a existência do Método Intuitivo, em vista de estarem dominados pelos dogmas das ciências temos que ser compreensivos e resilientes, visto que a nós, por intuição, cabe simpatizar com o seu problema de entendimento e sobre algo que lhes é sabidamente desestabilizador na sua base de conhecimento, que foi forjada ao longo de toda uma vida escolar, social e profissional.
Não é questão de negar a existência da ciência e de seu método, mas é compreender os fenômenos da natureza por outra forma de entendimento ou mesmo, que se pode também utilizar de um outro método para promover o crescimento da humanidade. Enfim, o que interessa é a solução do problema e não a fórmula que foi usada para resolvê-lo.
Todo aquele que é submetido a uma intuição e tem consciência e domínio sobre a sua validade e viabilidade cabe leva-la adiante, tendo presente que será criticado ou até ridicularizado pelo mundo atual, baseado na ciência positiva, moldado ao longo dos últimos séculos e que domina a compreensão dos problemas na atualidade.
Outra dinâmica será dada à sociedade que saiba operar e operacionalizar também o Método Intuitivo colocando-o em marcha na solução de problemas, visto que um ser intuitivo é diferente de um ser sonhador, mas sim é um agente criador, realizador e transformador.
A filosofia a partir do Método Intuitivo poderá contribuir muito para o avanço até mesmo da própria ciência, ao olhar as preocupações científicas de outra forma, questionando e contribuindo para o seu aprimoramento, nem que seja ao menos, através da aposição de dúvidas ou de um olhar a partir do objeto. Com isso a Filosofia passará a ocupar um lugar de maior destaque na solução dos problemas e das necessidades da sociedade.
O intercâmbio com outras ciências é fundamental para o filósofo calibrar ou alinhar seu pensamento com as demandas sociais objetivas, contribuindo com soluções de outra ordem ou provenientes da intuição, tendo sido a tentativa deste trabalho de conclusão do curso de Filosofia.
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