segunda-feira, 11 de novembro de 2013

RE: Uma industria chamada agricultura

(Artigo publicado no site agrolink.com.br/colunistas/economia) Em artigo um tanto confuso e que não representa o mínimo que podia se esperar de um pensamento avançado de um técnico com vasto currículo profissional, o presidente da EMBRAPA defende tese retrógrada conformando-se e ainda justificando a exportação dos produtos agrícolas na forma de commodity. Tomamos conhecimento do texto publicado em jornais do país no dia 04/11/2013 e no site da instituição do dia 14/10/2013, no endereço http://www.embrapa.br/imprensa/noticias/2013/outubro/3a-semana/artigo-uma-industria-chamada-agricultura. Estamos certos que tal pensamento não representa a grande maioria dos pesquisadores da Embrapa e esperamos que também não o seja das forças políticas que lhe dão sustentação, num posto que deve pontear a vanguarda do agronegócio brasileiro. É tamanha a certeza que temos que a tese defendida pelo dirigente não é dominante na EMBRAPA, em face termos acompanhado o esforço dispendido por técnicos da Embrapa Trigo e da Embrapa Soja para levar a efeito a Américas: Conferência Internacional de Utilização de Soja. Buscam estes técnicos a agregação de valor a commodity, como há muito fazem os chineses, que não reclamam do preço que pagam pelo produto aos agricultores brasileiros. Noutra cruzada brilhante contra o atraso comercial agropecuário que ainda vivemos, um pesquisador da área do trigo afirmou que o problema da cultura não é produção ou qualidade do grão e que o seu principal problema é o comércio. Sem falar noutras ações de dirigentes de unidades da Embrapa como a de Arroz e Feijão sobre a agregação de valor ao arroz. No caso do arroz, que trabalhamos com maior proximidade, recentemente tivemos o presidente do Instituto Riograndense do Arroz – IRGA, defendendo a tese que “o arroz tem que ser usado como ingrediente de outros produtos”, como uma forma de agregação de valor e retorno de uma maior remuneração ao produtor. O Presidente Lula no Café com o Presidente de 25.05.2009, com a responsabilidade inerente a sua função na época, disse: - “Os vendedores como nós, que queremos vender, é que temos que sair, bater à porta dos outros e dizer que nós existimos, e que temos produtos sofisticados, além das commodities”. Em artigos publicados, ao longo destes últimos 20 anos, trabalhamos na direção da melhoria da renda dos produtores e dos moradores do interior do país. Com recursos próprios, pregamos a mudança de conceitos na agricultura brasileira, através da palestra “Inovações em Agronegócios”. Dizemos que: - Vender arroz em casca é como vender milho em espiga. Descascar arroz não é indústria, indústria é fazer biscoito, bolacha, chips etc. Estes textos também correm o Brasil, via internet, palestras e na mídia impressa com a maior aceitação dos agentes que temos contatado, inclusive dos seus antecessores no cargo. Enfim, evoluímos muito nas técnicas de produção e produtividade e na hora de ganhar dinheiro entregamos para outro ganhar. Em artigo publicado na Zero Hora de 14/06/2013, as lideranças municipais de Tupanciretã-RS, queixam-se que a soja é transportada por caminhões em estradas esburacadas do município em direção ao porto de Rio Grande e dali para a China. Ganham os produtores, as revendas de insumos, máquinas, fretes e sobra muito pouco para a municipalidade investir em infraestrutura e geração de empregos para os jovens, que estão abandonando o município, pois nem para óleo a soja é esmagada no local. Para termos uma idéia do que a “descomoditização” contribui para o aumento da renda municipal, temos o exemplo de Capão do Leão-RS, onde um produtor que cultiva 1.000 hectares e que beneficia parte do produto colhido, contribui com 3,3% do ICMS do município. Outra agroindústria de arroz um pouco maior, 9,8% e uma média cooperativa de laticínios, que transforma o leite em vários produtos é responsável pela geração de 37% da arrecadação municipal. Isto sem falar em municípios do Paraná, como Toledo com cerca de 119.000 habitantes e o 9º PIB agrícola municipal do Brasil e que possui uma infraestrutura invejável. Também pudera, presidente, vende filé de Tilápia a 28,00 o kg. Cria o peixe, produz a ração, engorda, abate e exporta para os EE.UU., já embalada. Outro excelente exemplo é o da cadeia do frango, que comercializa produtos diferenciados, cortes especiais e mais de cem itens aos consumidores nacionais e internacionais. Esta há muito, quase que abandonou o frango inteiro com o pescoço, pés e miúdos no seu interior, satisfazendo o consumidor moderno com maior renda e menor tempo para as refeições. Na repartição da renda desta apregoada agricultura baseada em insumos e máquinas focalizada no seu artigo, ganham os produtores mais especializados, os agentes do comércio de insumos e de máquinas, além dos empregos gerados. Para uma gama significativa de produtores, ocorre uma grande movimentação financeira, mas que ao final, em sistemas de gestão não tão aprimorados e de comércio intrincado, “trocam seis por meia dúzia”, quando não fecham em “vermelho”. Alguns empresários obtêm maiores lucros nos juros que cobram nos sistemas “troca-troca” do que no produto que vendem. Outros vendem e recebem à vista via crédito rural e “pouco se lixam” em saber se o agricultor terá meios para o pagamento, ou estabelecem algum acompanhamento ou compromisso de compra antecipada da produção. Temos o recente caso do milho no Centro Oeste, que está a desdizer o apregoado com a exportação de commodities agrícolas. Eis que este sai da zona de produção a R$10,00/saco e chega ao porto a R$28,00/saco, gastando mais em combustível, estiva e algum almoço na beira da estrada do que vale o produto na lavoura. É imprescindível que este milho saia, ou seja consumido lá mesmo, na forma de carne, álcool ou e em outros produtos em que o articulista poderá fazer a Embrapa ajudar a elaborar. Isto sem falar no café, no boi e no arroz, dentre outros. Esperamos que o presidente da EMBRAPA reveja a sua posição, busque a urgente integração das Unidades da Embrapa Agroindústria com as demais unidades para alavancar a renda das populações rurais, dos produtores e dos moradores do interior do país, para que estes não precisem se deslocar para o flagelo da vida urbana atual. Ao encerrar a sua frágil argumentação, o articulista ainda sugere a volta do malfadado subsídio agrícola, de triste memória, num país de miseráveis e credores de um vultoso investimento duma dívida histórica que temos com este povo brasileiro em educação básica e técnica. Temos que tirar a visão somente da lavoura estendendo-a ao consumidor, como muitas empresas e cooperativas brasileiras já estão fazendo. Dizemos: - “Novos produtos para um novo consumidor”. Tomemos o exemplo das indústrias de automóveis, de celulares ou de computadores, que a cada pouco reinventam os seus produtos. O agricultor brasileiro, seus técnicos e agentes econômicos podem mais que somente plantar, colher e exportar apenas commodities agrícolas, desde que a inteligência do agronegócio seja voltada também para o consumo e para o aumento da renda e que os novos conceitos sejam assimilados. Somos inteligentes, trabalhadores e criativos e o Jeca Tatú não existe mais!

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