O seu boi já comeu arroz hoje?
Em algumas regiões da Ásia o consumo de arroz é tão popular, que as pessoas costumam se cumprimentar dizendo: “Você já comeu o seu arroz hoje?”, o equivalente ao nosso “Tudo bem?”. No Brasil, o arroz já teve um consumo mais elevado, sendo que a maioria das famílias da minha geração foi criada com o saboroso “arroz com feijão”.
No entanto, nestes últimos anos, o Brasil desenvolveu um crescimento econômico de tal forma que resultou em um significativo aumento na renda das famílias. Com maior poder aquisitivo, as pessoas alteraram uma série de hábitos fazendo com que o consumo do arroz decrescesse significativamente. Não bastasse isso, muito se aprimorou as técnicas de cultivo do arroz e pouco foram trabalhadas alternativas de consumo, o que resultou num grande excedente de produção.
No município de Dom Pedrito-RS, região com pequena produção de milho, um produtor de arroz e pecuarista, para atender compromisso de entrega de animais prontos em um período que a região atravessava forte estiagem, resolveu racionar seus animais com uma dieta composta com arroz em casca. O trabalho foi assessorado por especialistas em nutrição animal e apresentou excelentes resultados e teve ampla divulgação em seminários e na mídia especializada.
Num primeiro momento a informação causou grande impacto, pois se dava a quebra de um paradigma que tira a visão de um produto sempre direcionado à “panela” e que passa a ser redirecionado para o “cocho” animal. O “quadrado” em que moldamos o nosso pensamento teve uma dificuldade inicial muito intensa de aceitar esta inovação, pois se tem que o arroz é um produto nobre e deve ser direcionado para a alimentação humana. Agora, já fora do “quadrado” cabe-nos ver o arroz compondo a ração animal. E que, o que temos que enxergar, é que o arroz tendo este novo uso, resultará em um produto também nobre e mais valorizado, que é a carne. E a carne atinge um consumidor com maior renda e sedento por proteína animal.
Além do uso do arroz para a alimentação de bovinos, já está confirmada por pesquisas existentes a possibilidade de entrar na composição da ração de suínos e aves.
O simples cálculo comparativo com o saco de milho não é suficiente para que o produtor consiga vencer este dilema e passe a adotar esta nova ferramenta. O fato do saco de arroz ter 20% a menos de peso que o saco de milho e com isso teria que ter uma diferença de 20% a menos no preço, não é indicativo necessário e suficiente para ver se o negócio é compensador. Há outros raciocínios não meramente matemáticos que irão estimular o produtor a usar o arroz para o arraçoamento dos animais, tais como:
- O uso do arroz desvalorizado na ração de bovinos de corte é compensado pelo excelente preço alcançado pelos animais no momento da venda;
- Normalmente, as granjas de arroz não produzem milho para a suplementação alimentar da pecuária de corte;
- Nos períodos de inverno, as vacas de cria e os terneiros sofrem uma enorme perda de peso em decorrência da escassez de alimentos, chegando estes últimos a retardar em um ano o seu tempo de abate;
- O arroz de menor rendimento de engenho, que possui baixa cotação no mercado sofre altos descontos na hora da comercialização, é submetido a parboilização e tem recuperado o seu maior valor, só que agora já na mão do engenho. Este “novo arroz” acaba concorrendo com o produto de melhor qualidade que ficou com o produtor.
- O arroz quando destinado ao consumo animal acaba sendo retirado do mercado, contribuindo para o controle da oferta e valorizando o produto ainda no estoque do produtor;
- Com a destinação do arroz para a ração animal será reduzido o alto custo governamental com o pagamento de subvenções de prêmios para o escoamento da produção;
- Também diminuirá o alto custo com o aluguel de depósitos pela CONAB para o armazenamento do arroz, que hoje chega a R$0,26/mensal por saco depositado;
- Reduzirá as perdas de qualidade do arroz nos armazéns, visto que alguns permanecem já por mais de quatro anos estocado;
- Não há necessidade de políticas públicas para o uso do arroz na ração animal, basta apenas uma atitude dos produtores na alimentação do seu gado ou através da parceria com outros criadores;
- Com essa nova destinação dada ao arroz será possível prosseguir na busca do aumento da produtividade e da produção e ter-se o pleno aproveitamento das várzeas com o plantio do cereal, já que haverá uma nova demanda por arroz.
Para que o propósito seja alcançado é necessária uma grande e “difícil” mudança no comportamento do produtor, que até então vinha direcionando o seu produto apenas para o engenho e, agora, também deverá levá-lo também na direção dos seus potreiros.
Esta é mais uma das tantas alternativas que já foram sugeridas!
Tudo bem? Já deu arroz para o seu boi hoje?
3 comentários:
Boa Noite escrevo este com o propósito de falar que seu blog tem como o objetivo de falar sobre o agronegócio mas creio que o individuo de uma sociedade rural não tenha tanto contato com aparelhos eletronicos mas nos tempos de hoje é muito possível caro josé nei não vou falar mal de seu blog mas quando procurei foi com a intensão de achar uma maneira de descobrir fórmulas e tipos de arroz para dar aos meus gados.
Obrigada pela atenção!
Prezado Internauta,
Obrigado por suas observações. Claro, que hoje, o rural e o urbano se confundem. Talvez, o rural já esteja tão aparelhado quanto o urbano, senão devem aparelhar-se para obter as informações que necessitem.
O propósito do blog é apontar caminhos, as receitas e "fórmulas prontas" cada um deve ir atrás delas. Estão aí: - as universidades, os escritórios de assistência técnica, instituições de pesquisa etc para assessorar áqueles que tiverem atitude!
Mais uma vez, agradeço.
Atenciosamente.
Sr. Oscar,
Importante o seu interesse pelo tema "arroz na raçao animal", assim como as orientações do Dr. Caio. Encaminho o link abaixo que trata do assunto já com resultados práticos para bovinos de corte:
www.estanciaguatambu.com.br/php/noticia.php?idnoticia=441
Também o Dr. Jorge Schafhäuser Jr. da EMBRAPA/CPACT possui trabalhos em andamento e, certamente, terá o maior interesse em prestar-lhe informações sobre as pesquisas em andamento pelo telefone 53-3275-8400
O IRGA também poderá auxiliá-lo em mais informações.
No caso de suínos e aves há um trabalho da Universidade Federal de Viçosa que poderei lhe repassar por e-mail - remeta-o para jntb@via-rs.net
Atenciosamente.
José Nei
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