quarta-feira, 10 de junho de 2015
A agropecuária tem que produzir dinheiro novo!
Torna-se muito difícil questionar a atividade agropecuária, especialmente nestes últimos anos, em que ela vai de vento em popa!
Mas, respaldados por mais de 30 análises, já efetuadas sobre o setor agropecuário da região sul do RS, verificamos que é imperioso afirmar que ele tem que produzir mais dinheiro ou dinheiro novo! Esta é a necessidade para a qual a agropecuária deve redirecionar o seu foco.
Sem dúvida, temos que enaltecer e congratularmo-nos com os avanços ocorridos na agricultura em termos de produção e produtividade. O avanço tecnológico, na área de insumos, equipamentos, crédito e conhecimento são surpreendentes. No entanto, todo este avanço tecnológico ocorrido, em especial nos últimos dez anos, tem trazido pouco aumento da riqueza das comunidades rurais ou este aumento poderia ter sido bem maior.
Quais seriam as razões que poderiam alicerçar esta afirmação?
Por primeiro, podemos ter que o foco desmesurado no aumento da produção e da produtividade, turvou o olhar dos agricultores e dos técnicos, quanto ao aspecto da relação custo benefício no emprego das técnicas para alcançar este fim. Muitas das tecnologias são utilizadas como pacotes ou receitas de bolo, sem a realização de uma análise de solo, uma observação mais acurada do efetivo ataque das pragas e doenças, de uma análise financeira ou do estudo da capacidade de pagamento no caso da aquisição dos equipamentos agrícolas.
A forma de comercialização tem se mantido no modelo de décadas atrás. O comércio do arroz e do boi vem desenvolvendo-se da mesma forma há anos, sendo que o do boi para quem não oferta lotes maiores têm grande dificuldade de colocação, além da novela que se processa até a concretização do negócio. No comércio do arroz a grita dos agricultores é histórica e justa, pois que além do preço de venda do produto em si, têm o preço do arrendamento da terra e da água, travestido de parceria, a abocanhar uma fatia considerável da renda final.
A baixa evolução das agroindústrias de um modo geral é outro ponto importante a ser registrado. Ocorreu uma evolução significativa nos processos operacionais de beneficiamento da produção, mas ainda é muito baixa a transformação em outros produtos a serem ofertados aos novos consumidores. Estamos fazendo bem feito algo que está trazendo pouco resultado a nossa economia agropecuária. Precisamos entender os desejos destes novos consumidores, com maior renda, novos hábitos alimentares e com menor tempo para as refeições. A própria cultura da soja com sua liquidez na comercialização, pode ter questionada a sua exportação na forma bruta, com baixo valor agregado e com baixo recolhimento de tributos aos cofres públicos.
Como último item, deve ser analisada a destinação ou a reinversão do lucro obtido pelos agentes do agronegócio ao final do ciclo agropecuário. Eis que, predomina, há muito, a aplicação do lucro obtido dos empreendimentos, que resultam superavitários em imobilização deste capital em aquisição de imóveis rurais ou urbanos, que geram uma baixa circulação da riqueza produzida.
Os quatro itens apontados têm provocado baixa movimentação econômica nos municípios originários da produção, um baixo emprego de profissionais com maior nível de qualificação e menor renda aos próprios agentes envolvidos no agronegócio.
Há urgência na criação de novos negócios nos municípios da região, que resultem na produção de dinheiro novo, que acabe também aportando nas finanças municipais e estadual, entes que mostram-se desesperados por mais recursos. Ou mesmo para atender os justos reclamos dos próprios agentes envolvidos na produção e de suas lideranças, que pedem mais ações em infra-estrutura e logística. Obras necessárias, mas dependentes da geração de muita riqueza para a sua construção, visto o alto dispêndio para a sua realização.
Estamos certos que este dinheiro novo virá com a mudança da atual visão, de somente plantar e colher e vender na forma bruta para uma postura empresarial, em que predomine a incorporação da inovação e do empreendedorismo.
O Atavismo na Relação Agrária da Lavoura de Arroz do RS
O Atavismo na Relação Agrária da Lavoura de Arroz do RS
É impressionante como perdura no tempo a forma da relação agrária no arrendamento da terra e da água na lavoura de arroz, impactando sobremaneira o custo de produção.
O sistema vigente remete à época do meeiro, terça ou quinta parte, que eram utilizados nos anos 1950-1965 em outros cultivos no RS.
O IRGA – Instituto Rio Grandense do Arroz publicou o Censo da Lavoura de Arroz Irrigado no RS – Safra 2004-2005, do qual se pode deduzir, que 39,7% dos produtores de arroz cultivam o cereal sob o arrendamento da terra e da água.
No censo em referência não há menção ao valor pago pelo arrendamento da terra e da água. Porém, em consulta junto a alguns agentes de extensão da lavoura arrozeira, concluiu-se que estes valores podem ficar entre 20 a 32% (terra e água) com um valor médio de 25% (10% pela terra e 15% pela água).
Numa análise financeira mais apurada, tem-se que o custo de 25% não pode ser lido na forma direta, ou seja: de uma colheita de 140 sacos ao custo de 25% pela terra e água não significa apenas a entrega de 35 sacos ao proprietário! Deve ser somado a este montante outros 70% a título do custo da produção, visto que ela é entregue seca e limpa, pois não há nenhuma participação do proprietário nos demais custos de insumos, serviços e maquinários utilizados na condução da lavoura. Então, deve-se imputar 70% de custo de produção sobre os 35 sacos que serão entregues, somando outros 24,5 sacos num total agora de 59,5 sacos por hectare. Então, do total colhido de 140 sacos ficou assim dividido: 80,5 sacos para o plantador e 59,5 sacos para o pagamento do arrendamento da terra e da água. Em percentual fica assim dividido: - 57,5% da colheita para o plantador e 42,5% para o proprietário, sendo que o risco da produção e o do capital ficam com o primeiro.
Sem sombra de dúvida o item arrendamento da terra e água representa o maior custo da lavoura de arroz, o que praticamente inviabiliza os 39,7% dos produtores que cultivam o arroz neste sistema de produção. No entanto, este problema não é salientado a parte, quando são estudados os itens de custo da lavoura arrozeira, ele é tratado apenas com um valor médio dentre os sistemas existentes.
Temos afirmado isso em diferentes fóruns e artigos publicados a partir de 1993 e que estão disponíveis na internet, revistas especializadas, compêndios internacionais e na CPI do Arroz. Na ata da Comissão Setorial Estadual do Arroz do RS incluímos a seguinte afirmação: - ... visto que quarenta por cento dos produtores que pagam vinte e cinco por cento pela terra e água, já saem, por ocasião do plantio, sabendo que vão chegar “no vermelho” na colheita e comercialização.
Antonio Paulo Lima de Carvalho, em seu trabalho de conclusão de mestrado em economia, afirmou: - A cultura do arroz, economicamente predominante na região, é realizada, ao longo de décadas desde a sua constituição, predominantemente em áreas cultivadas sob a forma de arrendamento, oscilando histórica e estruturalmente em 2/3 da área cultivada e a um custo de 1/3 da produção, conforme salientado por Beskow (1986) e Becker (1992). http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/2592/1/000445337-Texto%2BCompleto-0.pdf
O presidente da Federação das Cooperativas de Arroz do Rio Grande do Sul -FEARROZ e Vice-Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Arroz – ABIARROZ e coordenador por oito anos da Câmara Setorial Nacional do Arroz, em entrevista a Revista Planeta Arroz, Edição 39, quando perguntado “Que pontos trabalham contra a lavoura? Respondeu: - Creio que um dos principais seja o elevado custo de produção. O problema é que um alto percentual de produtores não tem como controlar alguns itens desse custo. Não posso conceber como viável um negócio que retire da renda bruta parcela que comprometa de 25 a 30%, caso da maioria dos 65% de produtores que são arrendatários. O problema não é exatamente o percentual, o problema é que este percentual extrapola os itens terra e água e passa a incidir sobre o incremento da produção resultante da tecnologia adquirida pelo produtor e sua capacidade gerencial. A lavoura de arroz é uma lavoura cara e exige alta tecnologia, e o produtor/arrendatário termina deixando incidir aquele percentual sobre a parte da produção, que é resultante da sua gestão e da tecnologia aplicada, nada tendo a ver diretamente com a capacidade produtiva da terra ou do insumo água.
Em comentário no site de notícias da Revista Planeta Arroz, abaixo das notícias intituladas “Além do Horizonte e Plantio do arroz no Estado está prestes a ser concluído” - (23 e 24.12.2014), um produtor de Pelotas afirmou que: - Quem paga arrendamento e tem alguma dívida prorrogada, ... arroz a menos de 45,00 a conta não fecha – colheita 150-160 sc/ha.
O instituto do arrendamento nesta modalidade e montante gera enriquecimento sem causa para os proprietários e leva a derrocada de muitos produtores, além da necessidade de periódicos aportes de recursos públicos. O mais grave nisso tudo é que estes aportes públicos beneficiam mais os que não têm o item arrendamento terra e água como item do custo, gerando uma maior concentração nas áreas de produção arroz.
Para os mais incrédulos ou céticos, abaixo vai na integra dois anúncios de sites de negócios rurais e outra fonte consultados na internet:
1. Fazenda para Arrendamento-Pelotas/RS 220hec. para arroz 40 sacos o hec. area sem casa - http://www.imoveisvirtuais.com.br/fazendasofertoarrendar.htm
2. Arrendamento de Terras - Dom Pedrito/RS
Tenho hoje para arrendamento 200 hcte para arroz, 40 sacos por hcte - junto 400 hcte pra soja 10 saco s por hcte 250 hcte pra soja 8 sacos (idem a fonte aterior)
3. O importante é que o arrendamento da terra para o plantio de soja custa apenas 10% da produção, enquanto no caso do arroz, por causa da água para a irrigação, o percentual é de 25%. Geraldo Hasse (http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT304770-18283,00.html )
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