segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Cadeia do Arroz agora irá vender felicidade !

A Cadeia do Arroz agora irá vender felicidade! O novo posicionamento da Cadeia do Arroz percebido a partir da Abertura da Colheita em Mostardas-RS, na qual os seus integrantes sinalizaram uma postura voltada para o mercado, mostra a necessidade da implementação de novas atitudes no agronegócio orizícola. Primeiro é convencer-se que ocorreu uma grande mudança no hábito alimentar do brasileiro, provocada pelo funcionamento das empresas comerciais no horário do meio-dia e pela entrada da mulher no mercado de trabalho, direcionando o consumidor para o almoço fora da sua residência. A refeição agora é feita nos bufês dos caros espaços urbanos, que não podem ser ocupados por muito tempo pelo mesmo cliente. Esta refeição rápida e frugal em que é paga a quantidade consumida, faz com que o consumidor dê preferência às carnes e a outros pratos mais sofisticados e de menor peso, para não retornar ao trabalho sonolento pela quantidade ingerida. Este fato, aliado a maior renda do “Novo Consumidor”, está a indicar a diminuição do consumo de arroz voltado para a “panela ou à hora do almoço”. Se por um lado é um problema, por outro pode ser uma grande oportunidade em fazer o produto ser consumido noutros momentos do dia e em produtos com maior agregação de valor. São as bolachinhas com farinha de arroz para o seu delicioso lanche e os snacks e barras de cereais para dar as suas mordiscadas, enquanto cumpre a sua jornada de trabalho. O etanol de arroz será usado como combustível no seu carro Flex no ir e vir do trabalho, que aliás, está com o consumo mais elevado em face ao caótico trânsito das cidades. Do resíduo da produção do combustível à base de “arroz gigante”, sobra ainda o DDGS para a alimentação do gado, que irá fornecer a carne a ser consumida no bufê do restaurante ou no hambúrguer do fast food. Chegando em casa o álcool do cereal ainda será servido no seu drink ou na cerveja no happy hour com os amigos. Como o nosso consumidor chegou cansado pelo trabalho e pelo trânsito, está ansioso para ver seus programas de entretenimento na TV e participar das redes sociais no computador, tendo levado para casa uma comida pronta congelada, então lhe será servido no seu sofá um “peito de peru com ervilhas ao molho branco e arroz”. A sua felicidade somente estará completa quando entregar os cereais matinais e os sucos de arroz com frutas no café da manhã, para os filhos ou netos, além do pacote com a ração à base de arroz e cordeiro para o seu pet, que o recebe amistosamente, todos os dias, na porta do apartamento. Com as necessidades do consumidor atendidas, mesmo tendo desembolsado um maior valor por estas comodidades, estará extremamente satisfeito e terá repassado uma maior renda ao produtor, que poderá externar um novo ânimo e olhar o mercado e as suas oportunidades, contagiando os seus familiares, técnicos e demais colaboradores com o sucesso obtido. Este novo entusiasmo deverá lhe proporcionar convicção e autoridade para um sopro de modernização no relacionamento produtor e proprietário da terra, que envolve cerca de 11.000 arrendatários. Quem sabe a criação de um departamento ou associação estadual que represente os arrendatários? Também a contratação de consultores técnicos, financeiros, administrativos, de recursos humanos e de mercado, que lhe auxiliem na complexa tarefa de condução de uma agropecuária empresarial e comercial, que modernize a relação produtor e engenho ou produtor e fornecedor de insumos para a lavoura. Quem sabe também, a mudança do padrão de comercialização do arroz em casca para arroz beneficiado com a comercialização efetivada em bolsas de mercadorias, melhorando a transparência nas negociações realizadas com a efetivação de contratos a termo com preços previamente assegurados. A diversificação das atividades do arroz com a soja ou o sistema de integração lavoura pecuária, preconizados pela Agricultura de Baixo Carbono, que já estão sendo feitos, poderão ser incrementados em mais propriedades, se os contratos agrários forem estendidos por longo prazo com a utilização em tempo integral das áreas de cultivos, estes também poderão acessar os investimentos facilitados oferecidos pelos programas de crédito de armazenagem. Há ainda, a oportunidade de cultivo do arroz orgânico, biodinâmico ou agroecológico, a produção integrada com Identificação Geográfica, o preto e o integral, a ser oferecido a um segmento crescente de novos consumidores preocupados com a saúde. Também a função nutracêutica do farelo de arroz poderá ser explorada, pois tem como componentes: o óleo, fitatos, fitosterol, inositol, γ-orizanol e ácido ferúlico (segundo WARREN; FARREL, 1990 apud Faccin, G.C., 2009). Com todas estas possibilidades que o mercado está a nos mostrar para o arroz, agora “MULTIUSO”, mais as que os nossos especialistas em marketing vão desenvolver, o atual engenho deverá sair apenas do beneficiamento primário e adentrar na indústria de alimentos, chegando à indústria de nutrição. Para isso poderá contar com as linhas de investimento do FINAME com taxas pré-fixadas e prazo longo, que tanto já aproveitam as indústrias de máquinas e equipamentos e outros tantos setores. Claro está, que a quantidade mais significativa da produção, ainda será vendida no “cinquentão e guerreiro” saquinho para as refeições de uma grande parcela da população, que almoça no domicílio ou para os nossos valorosos trabalhadores brasileiros, que se alimentam com o tão saboroso arroz das comidas prontas elaboradas nas cozinhas industriais. Agora sim, enquanto o nosso “rei consumidor” repousa feliz e encantado com o tratamento recebido, nós, os agentes da cadeia de produção devemos seguir estudando o mercado, juntamente com as entidades de classe e de pesquisa (esta ainda com o foco muito voltado para a produção e produtividade), monitorando e contribuindo com o governo para que desempenhe as suas reais funções de Estado.

quarta-feira, 12 de março de 2014

A Cadeia do Arroz, enfim, com os olhos voltados para o mercado!

A Cadeia do Arroz, enfim, com os olhos voltados para o mercado! A cidade de Mostardas no RS, no período de 19 a 21 de fevereiro acolheu delegações de todas as regiões produtoras para a 24ª Abertura da Colheita do Arroz. Tudo correu as mil maravilhas, da organização ao clima, da participação dos agentes (produtores, agroindustriais, técnicos, expositores) ao entusiasmo contagiante dos presentes. O ponto alto do evento foi a percepção da mudança comportamental da maioria dos agentes, ao invés de estarem com os olhos voltados para o governo, voltaram-se para o mercado. O discurso do Presidente da Federarroz na solenidade de abertura registrou bem este novo direcionamento, manifestando poucas reivindicações aos representantes do governo: - reajuste do preço mínimo; liberação dos recursos de comercialização para que esta possa ser feita de forma escalonada; e, ações do IRGA para o setor buscar novas formas de comercialização. A visão da cadeia do arroz na direção do mercado já havia sido sinalizada pela feliz escolha das palestras técnicas, que teve no primeiro painel: - “O IRGA com Olhos no Futuro”, em que o presidente do instituto Cláudio Pereira proferiu conferência sobre as ações que estão sendo implementadas para a diversificação da lavoura de arroz com a soja e a integração lavoura pecuária para o fortalecimento da renda do produtor, ao livrar-se da monocultura do arroz. Consideramos como patriótica uma das suas falas e que já vem manifestando há algum tempo, repetindo-a na sua exposição, no sentido da “utilização do arroz como ingrediente de outros produtos”, aos moldes do que já é feito com o leite, o ovo etc, que já são consumidos em grande quantidade em outras formas processadas. Também discorreu o Presidente do IRGA sobre as ações do Instituto na contratação por concurso público de um efetivo técnico para a Autarquia e as ações que estão sendo feitas para a exportação do arroz na parceria com a Agência Apex-Brasil. Noutro painel, sobre a Competitividade da Produção de Arroz do RS, os apresentadores discorreram sobre a situação da cultura referente a oferta e demanda no Brasil e no mundo, ambas muito bem embasadas, tendo um deles avançado em relação a perspectiva de novos produtos à base de arroz, mas permaneceu um tanto pessimista quanto a infraestrutura e logística, numa análise pouco propositiva. No último painel do dia 19 sobre a Produção de Etanol de Arroz, sob a coordenação do Dr. Ariano Magalhães Junior da Embrapa/CPACT, este discorreu sobre a variedade de arroz Gigante apropriada para a produção de etanol e que deverá ser lançada na Expointer. Apresentou a seguir o Presidente da USI, Engº Agrº Flávio Malmann, que discorreu sobre o projeto da USI-Usinas Sociais Inteligentes que irá fomentar o plantio do arroz gigante para a produção de etanol, em parte da propriedade, fornecendo ao produtor o óleo diesel e os fertilizantes, num módulo com a área total de 1.500 hectares e que terá o primeiro projeto implantado ainda este ano no município de São Gabriel, juntamente com a usina que terá a capacidade de produção de 10.000 litros de álcool por dia. Haverá a participação da empresa CHS, que ficará encarregada da logística e comercialização do etanol produzido. O outro integrante do painel, Engenheiro Vilson Neumann Machado apresentou a seguir o seu projeto de biorrefinarias com o uso múltiplo de cereais inclusive o arroz, triticale e a batata doce, cujo projeto será lançado em breve pelo Governo do Estado do RS, agora contando com o estudo de viabilidade a ser elaborado pela empresa Katzen International Inc . No primeiro painel do dia 20, a palestra “Como transformar o Arroz em Caviar” apresentada pelo especialista em Marketing José Luiz Tejon Megido, a programação técnica e comercial teve o seu ápice. O palestrante enfatizou a necessidade de o arroz empregar as ferramentas do marketing na sua comercialização, seja na venda do produto beneficiado ou na diversificação de produtos, empregando o conceito não mais de indústria de alimentos, mas agora de indústria de nutrição. Produtos saudáveis com origem controlada para um consumidor cada vez mais exigente. Um dos debatedores do Painel, o Presidente do Sindicato da Indústria do Arroz concordou com as afirmações do palestrante, mas sugeriu que os recursos para a implementação de um programa de marketing saísse da taxa CDO que é destinada ao IRGA. O palestrante retomou o tema de forma incisiva, sugerindo aspectos pontuais a serem trabalhados, apontando formas concretas de realização e conclamando o setor em buscar alternativas de novas formas de inserção no mercado. O outro debatedor e Presidente da Associação Braford e Hereford mostrou a forma de organização do seu grupo e os avanços que vem conquistando na comercialização da carne com selo de qualidade no mercado nacional e internacional. Também mostrou a fotografia de uma gôndola de arroz em um supermercado na cidade de Panamá, em que um pacote de arroz americano obtém um preço três vezes superior ao de uma marca brasileira, questionando o palestrante sobre o porque disso acontecer. No último painel “Como o arrozeiro gaúcho poderá ser um exportador” com o pioneiro na exportação de soja para a China, este afirmou a sua convicção de que a soja terá demanda crescente e o arroz também seguirá a mesma trajetória, diante da perspectiva do mundo por alimentos e o esgotamento das fronteiras agrícolas com aptidão para dar resposta a esta necessidade. Sua fala limitou-se a exportação na forma de commodity, não adentrando na possibilidade enfatizada no painel anterior sobre a transformação do produto. Como já acompanhamos os problemas da socioeconomia da lavoura de arroz há 27 anos e com mais de vinte artigos publicados, entendemos ter havido um avanço significativo na postura do setor a partir deste evento realizado em Mostardas. No período mencionado, apontamos como os principais problemas da lavoura de arroz, a monocultura, o arrendamento, a alta imobilização de capital no negócio produtivo e a comercialização. O efeito da quebra da monocultura já vem mostrando seus resultados nos preços de comercialização do arroz, assim como a compreensão pelo setor da necessidade de transformar o arroz em outros produtos com maior valor agregado e com a utilização das ferramentas do marketing trará maior renda aos agentes e as suas comunidades. O aspecto da gestão financeira da propriedade ainda não foi incluído nos dias de campo, embora conste da ata da Comissão Setorial do Arroz, tendo no custo do arrendamento da terra e da água o principal item a ser abordado. A oferta do arroz beneficiado em bolsa de mercadoria, também é outro item que ainda não vem sendo tratado pelo setor e que poderá abrir novas frentes de comercialização ao produtor e a novos entrantes. O marco mais importante desta 24ª Abertura da Colheita do Arroz que devemos comemorar e apoiar é a mudança de postura dos novos líderes, que com atitude e coragem trazem nova perspectiva a um setor que pode trazer maior progresso a uma extensa região do RS com alto potencial de produção. Parabéns a todos!